Viva a Liberdade

“Viva a Liberdade”- “Viva La Libertà”, Itália, 2013

Direção: Roberto Andò

 

Nas antigas fábulas, encontramos histórias de pessoas que trocam de identidade, como aquela chamada  “O Príncipe e o Mendigo”, que virou romance de Mark Twain (1835-1910).

No filme “Viva a Liberdade”, dirigido por Roberto Andò e baseado em seu livro “O Trono Vazio”, a história envolve esse mesmo tema mas aqui são irmãos gêmeos que trocam de lugar e identidade. Um é político famoso, o outro, filósofo, diagnosticado como psicótico.

Quando o secretário do partido de esquerda de oposição ao governo italiano, o senador Enrico Olivieri, vê-se no último lugar das pesquisas sobre os candidatos à próxima eleição para a presidência do país, ele entra em crise.

Deprimido, não consegue enxergar uma saída dessa situação humilhante. Além do público, o partido está claramente insatisfeito com o seu desempenho.

O que fazer? Ele foge para Paris, incógnito e vai passar uns tempos na casa de uma amiga da juventude, Danielle (Valeria Bruni Tedeschi), casada com um cineasta vietnamita.

Seu assessor, Andrea (Valerio Mastrandia), da noite para o dia, vê-se às voltas com esse problemão.

O que fazer? Ele então tem uma ideia que parece brilhante. Acontece que o senador Enrico tem um irmão gêmeo, Giovanni, filósofo, culto mas que acaba de sair de um hospital psiquiátrico.

Apresentado à ideia de trocar de lugar com o irmão, está pronto a colaborar. Em silêncio, porém, acrescenta o assessor. E, em total segredo.

Por um descuido do assessor, a imprensa, que tinha sido notificada da licença que o senador pedira, fica sabendo que ele está de volta e muito mudado.

Em uma entrevista exclusiva, o repórter pergunta:

“- Senador, o senhor está diferente. Seus cabelos estão grisalhos…”

“- Isso mesmo. Não pinto mais. E isso é um conselho aos italianos. Parem de se enganar. Se os políticos são medíocres, é porque os eleitores são também medíocres. Se são ladrões, é porque seus eleitores são também ladrões. Há sempre um momento na vida de um poderoso onde ele pode ser crucificado. O medo é a música da democracia!”

Entre feliz e amedrontado com o que ouvira, anota tudo e comenta com o assessor, que deixara Giovanni sózinho no restaurante e agora volta, apavorado com o que ouve:

“- Parece outro…Essa entrevista vai ser uma bomba!”

Anna (Michela Cescon), a mulher do senador Enrico, se assusta com a ideia do assessor:

“- Mas você está colocando o partido nas mãos de um louco!”

E claro que tudo muda. O “louco”, citando poetas e filósofos e com um discurso que soa sincero e corajoso aos ouvidos de um público ávido por uma liderança otimista, é ovacionado por onde passa.

Toni Servillo faz os dois papéis com todo o talento e humor que o roteiro pede.

É a melhor coisa do filme. Ele cria uma postura e um rosto diferente para cada um dos irmãos e, com tal maestria, que sempre podemos dizer quando é um e quando é o outro que está na tela.

O filme é divertido e atual mas o ator é genial.

Este post tem 0 Comentários

  1. mauricio laurino disse:

    prezada Leonora, boa noite! deixo aqui um comentário qie tem um caráter meramente de atualização da sua ” minha sinopse”. vc se refere ao Belas Artes como ‘saudoso’, tendo em vista o período que passou fora de atividades. Há algumas semanas voltou a funcionar, para o bem de todos nós e da cidade como um todo. É só uma sugestão de atualização do seu blog, que acompanho com muita satisfação. Parabéns pelo seu trabalho, seus comentários são referencias importantes para mim.

    • Eleonora Rosset disse:

      Mauricio querido,
      Verdade. O Belas Artes renasceu. Eu até já fui lá.
      Mas quem sabe não continuo com saudades do ” meu” Belas Artes que nunca vai voltar?
      Bjs

  2. Regina Ferro disse:

    Mais uma vez seus
    …..comentários me deixaram com vontade de ir ao cinema… e nada melhor para terminar um luto do que dar boas risadas com uma comédia italiana….kkk
    Obrigada pela dica…bj
    Regina Ferro

    • Eleonora Rosset disse:

      Regina querida,
      Vc é uma muito querida minha. Rir e chorar libertam a gente da tristeza! Os lutos devem ter data marcada para acabar e restar aquela doce lembrança…
      Bjs

  3. Na sua postagem no face,Eleonora, vc nos alertou da ‘piscadela’ cúmplice do irmão filósofo do político. Tive vontade de aderir e visitar as casas desses ‘iluminados’ – (“o estranho no ninho”, j.ncholson; “o mundo é dos loucos”,alan bates)- e trazê-los para nosso Congresso. O personagem filósofo gêmeo do político nos toma de assalto e faz-nos perguntar porque um representante de nossos votos e desejos coletivos tem tão pouca margem de possibilidades com essa postura tão clara, simples e tão evidente. Por que no filme, o personagem soa tão verdadeiro e no entanto, no real, tão falso? Desculpe(m)-me esse ‘comment’ meu político, mas é que o filme é daqueles, cuja estatura de realização nos converte a uma realidade que gostaríamos fosse possível e nos deixa satisfeitos. Viva o Cinema c/ seus Personagens e Atuações que nos fazem sonhar felizes! E Viva vc, que tbém nos faz sonhar através dÊle.

    • Eleonora Rosset disse:

      Wilson querido,
      Cinema é mesmo pra sonhar! E somos feitos de sonhos, já dizia Shakespeare. Precisamos do bom cinema para nos alimentar a alma! E reclamar da realidade. Por que não?
      Bjs

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