Selma – Uma Luta pela Igualdade

“Selma – Uma Luta pela Igualdade”- “Selma”, Estados Unidos, 2014

Direção: Ava DuVernay

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Enquanto ocorriam os episódios que esse filme conta, sobre a luta pela reinvidicação ao voto dos negros americanos, no sul dos Estados Unidos, nós brasileiros, brancos e negros, não podíamos votar por causa do golpe militar de 1964. Depois de 20 anos, esse direto nos foi devolvido pelo empenho que a sociedade mostrou, querendo democracia. Mas ainda existem países no mundo que anseiam por maior participação política.

Assim, “Selma” traz à tona um tema que ainda preocupa muita gente mundo afora ou seja, a negação de seus direitos civis, o que inclui escolher seus representantes numa democracia.

E o que o filme também põe em relevo é a persistência, o destemor, a vontade férrea daquele grupo de pessoas na cidade de Selma, Alabama, que consegue atrair a simpatia de outros cidadãos americanos, que se juntaram a eles e protestaram pelo direito dos negros votarem, mesmo não sendo negros, porque esse é o fundamento da democracia, que garante ao cidadão a escolha de seus representantes para reger os destinos de uma nação.

Tratava-se de salientar a posição de que é o voto que legitima um governo democrático. Não precisa ser obrigatório, como muitos ainda pensam, mas há que ser um direito para aqueles que quiserem exercê-lo.

O filme centra a história em Martin Luther King e a marcha pelos direitos civis em Selma em 1965. O ator David Oyelowo faz o conhecido líder dos negros e prêmio Nobel da Paz com muita força e foi indicado ao Globo de Ouro de melhor ator. A canção “Glory”  foi colocada na lista das melhores do ano do Oscar.

Oprah Winfrey, sem a qual o filme não teria existido, produz e atua de forma emocionante. Sua cena como a ativista Annie Cooper, entregando o documento que a capacitaria ao voto, é uma das melhores coisas do filme. Salienta a forma perversa como, mesmo estando na lei, o direito ao voto pelos negros era negado, sem complacência e com desrespeito.

A direção e o roteiro de “Selma” são de Ava DuVernay, que se sai muito bem nas duas tarefas e consegue emocionar e até revoltar aqueles da plateia que tenham se esquecido de como foi sangrenta essa batalha.

Aliás, o tema dos direito civis dos negros, está atualmente nas manchetes dos Estados Unidos por causa da morte dos jovens Eric Garner e Michael Brown pela violência policial. E, mostrando seu repúdio, o elenco de “Selma” vestiu no lançamento do filme uma camiseta onde se podia ler as últimas palavras de Eric Garner antes de morrer nas mãos de um policial, em junho do ano passado: ”I can’t breathe”.

Essa é uma luta que parece que ainda não acabou.

E pensar que, debaixo da pele que vemos, somos todos iguais…

 

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Whiplash – Em Busca da Perfeição

“Whiplash – Em Busca da Perfeição” – “Whiplash”, Estados Unidos, 2014

Direção: Damian Chazelle

Não existe carrasco se não houver alguém para ser a vítima. Esses dois fazem uma parceria intensa e doentia, que gratifica a ambos, ainda que não seja fácil entender o porquê. Mas, não podemos esquecer, que a mente humana, às vezes, trilha caminhos escuros.

“Whiplash” é o titulo de uma música e significa chicotada. Andrew (o ótimo Miles Teller) apanha na cara. E, quem bate nele e xinga de todos os nomes os músicos de uma orquestra da escola, é o professor Fletcher (J. K. Simmons, de dar medo).

Ele só aceita músicos perfeitos. Exige foco, concentração, dedicação e afinação. E sua melhor arma para conseguir tudo isso é a ameaça, a crueldade verbal. Isso quando não joga um aluno contra o outro.

Temido e odiado, Fletcher também é respeitado pelos alunos, como alguém de quem eles precisam, como de um remédio amargo para ficar no ponto.

E todos os estudantes da Shaffer, melhor escola de música do país, mas principalmente Andrew, o baterista, querem chegar lá. No topo. E acreditam na mágica agressiva da vara do professor Fletcher para alcançar o sucesso e vão na onda da humilhação que ele comanda. O perigo é o jogo instável do par sado-masoquista, que sempre tem seu dia de virada. É quando a vítima torna-se o pior carrasco que alguém pode imaginar.

Há algo não percebido de uma busca equivocada de potência sexual em tudo isso.

E a pergunta é: será que o método cruel do professor Fletcher é realmente o caminho para alguém tornar-se brilhante?

“Whiplash” ilustra com arte e rigor um relacionamento onde um manda e o outro obedece. Com seus frios tons esverdeados, salpicados de vermelho sangue, encena a luta sem fim, o embate do que pode e do que pensa que ainda não pode. Até poder.

O filme brilha com a interpretação monumental de J. K. Simmons, que ganhou todos os prêmios de ator coadjuvante até agora. Só falta o Oscar.

Damian Chazelle, 30 anos, jovem diretor e roteirista, viu seu filme ser indicado para 5 Oscars, inclusive o de melhor filme e roteiro adaptado.

Parece que ele se inspirou em sua própria juventude, como estudante de bateria, para escrever essa história. Mas, acrescenta ele numa entrevista, seu professor temido não é o de pesadelo que ele colocou em “Whiplash”. Era só um perfeccionista que deixava suas mãos ensanguentadas, conta Chazelle.

Seja ou não um exorcismo, o diretor aprendeu uma lição de vida. E colocou-a em prática, buscando a perfeição em seu filme. Pelo visto, conseguiu.

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