Frank

“Frank”- Idem, Inglaterra, Irlanda, Estados Unidos, 2014

Direção: Lenny Abrahamson

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Parece incrível, mas é verdade. Existiu um músico inglês “cult”, “punk-rocker” e comediante, que o público conhecia como Frank Sidebotton, que usava uma cabeça imensa de “papier-maché”, com enormes olhos azuis arregalados, cabelo pintado de preto e boca vermelha. Seu nome era Chris Sievey (1955-2010). Jon Ronson, que o conheceu, co-escreveu com Peter Straughan o roteiro do filme de Lenny Abrahamson.

“Frank” usa esse personagem para montar uma fábula que trata sobre temas como arte, originalidade, enganação, doença mental, megalomania, depressão, perversão. Tudo sem muita profundidade e sem respostas cabais para nada. O tom é o de uma comédia com tintas de tragédia.

Talvez Frank use aquela cabeça enorme porque tem medo de ser ele mesmo, uma nulidade. Todos usamos máscaras sociais mas Frank é o auge disso. Claro que ele é psicótico e o filme o cerca de tantos personagens malucos que formam a banda, que Frank é disputado por todos eles. Todos querem o amor de Frank. No fundo todos querem ser como ele, o líder, o admirado, o que canta, o que compõe. Mas alguém sabe quem é Frank na verdade?

 No fundo, ele é um grande manipulador. E quer ser um ídolo, apesar de inicialmente não admitir isso. E torna-se um elemento enlouquecedor por causa dessas mensagens contraditórias.

Michael Fassbender interpreta Frank de maneira genial. Modula a voz e sua expressão corporal é tão boa, que ele não precisa do rosto para passar o que personagem pensa. Ginga o corpo, usa os braços e as mãos de forma eloquente, como só um grande ator, que ele é, consegue fazer.

O resto da banda serve para ilustrar outros tipos de seres humanos surtados, manipulados por Frank. Um jogo perigoso, que se torna mortal.

Assim, Jon (Domhnall Gleeson) é o que conta a história toda e entra na banda por acaso porque o tecladista tentou o suicídio. Ele é catapultado da casa dos pais e um emprego burocrático para viver com Frank e o resto da banda no campo, onde irão gravar o disco fundamental. Tem também o gerente Don (Scoot McNairy), a percussionista Nana (Carla Azar), o francês do baixo, Baraque (François Civil) e a siderada por Frank e ciumenta Clara (Maggie Gyllenhaal).

Mas “Frank” é para poucos, apesar do sucesso que fez nos festivais de filmes independentes. Ou até por causa disso mesmo. Diferente de tudo que se vê, não se pode negar originalidade ao diretor irlandês. E tem Michael Fassbender. Não se esqueçam disso.

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Um Fim de Semana em Paris

“Um Fim de Semana em Paris”- “Le Week-End”,Reino Unido, França, 2013

Direção: Roger Michell

Quem não adora Paris?

Para os britânicos é só pegar o trem em Londres e logo se chega lá.

Meg e Nick vão comemorar seus 30 anos de casados na Cidade Luz. Mas, se tudo neles é antecipação, uma nota dissonante já se faz ouvir:

“- Você está com os euros?”pergunta ela. “Você perde tudo!”

“Daqui a pouco perco você”, responde ele, meio brincando, meio sério.

Mas, quando chegam, os rostos iluminados, aproveitam do céu azul e brincam que sabem falar francês.

Na frente do hotel que reservaram, porque foi lá que passaram a lua de mel, há decepção nos olhos de Meg.

Parece que o passado traz lembranças de um outro hotel mais… Meg não sabe bem o quê.

Mas, definitivamente, a cor das paredes do quarto no último andar, por onde se sobe levando as próprias malas, por uma escada íngreme, porque ninguém ajuda, não é a mesma.

E Meg decide ir embora, Nick atrás, ouvindo as últimas desculpas e promessas do diretorzinho jovem do hotelzinho chinfrim.

Pegam um táxi e o “tour” por Paris traz novamente energia ao casal. E o Arco do Triunfo, a Place de la Concorde, a Notre Dame, tudo enche os olhos de Meg, que não se cansa de pedir outra volta ao taxista,

E, de repente:

“- Pare!”

E deixa o marido para discutir o preço da corrida com o taxista. Alguém já pega as malas.

Ela vai direto à recepção do Plaza Athenée. Uma moça elegante responde que, infelizmente, estão lotados.

 A decepção carrega o semblante de Meg mas Nick  olha todo aquele fausto e fica aliviado. Sentam-se no sofá de veludo do hall do hotel e estão trocando farpas, quando a mesma moça aproxima-se deles:

“-Vocês estão com sorte. Temos uma suíte por dois dias.”

E, do luxo da escadaria, com seus bronzes, mármores e passadeira macia, vão direto à suíte onde orquídeas, frutas exóticas e almofadas de seda os esperam. Ao sair ao balcão, a Torre Eiffel é vizinha deles:

“- É maravilhoso! Vamos brindar”, diz Meg, pegando um champagne e taças no frigobar.

“- Vai com calma…Já gastamos muito. Como vamos reformar o banheiro? Precisamos falar sobre a escolha dos azulejos.”

“- Ladrilhos?”, fala Meg com enfado.

E o casal vai continuar assim, indo do céu ao inferno, no meio das frases trocadas.

Nick parece ser um homem amedrontado, apesar de guardar ainda um charme juvenil quando quer usá-lo.

Percebe-se que adora Meg e que ela, de um jeito majestático, aceita a adoração. Mas sua beleza também está indo embora e o sexo que ele pede, ela pode dar mas nega, com a certeza de que ele vai ficar ali com ela.

Há amor entre eles mas sustentado por um clima agridoce.

O diretor Roger Michell (de “Um lugar chamado Nothing Hill”)1999, escolheu ótimos atores para viver o casal inglês, Lindsay Duncan e Jim Broadbent, maravilhosos e convincentes.

O roteiro é um acerto de Hanif Kuraishi.

Jeff Goldblum, o ex-colega de universidade, é o peso que vai desequilibrar algo que está por um fio.

Meg e Nick existem na vida real. Isso incomoda o espectador desavisado que pensa que vai ver Paris e suas luzes e acaba testemunhando um longo casamento que se alimenta de uma cumplicidade necessária.

 

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