Educação

“Educação”- “An Education”, Inglaterra, 2009

Direção: Lone Scherfig

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Jenny (Carey Mulligan) tem 16 anos e é a melhor aluna da classe do colégio que prepara os alunos para a universidade. Sempre que a professora pergunta algo, é ela que responde e certo. Os pais de Jenny querem que ela vá para Oxford e cobram severamente o estudo da garota. São dias todos iguais uns aos outros na vida de Jenny.

A vemos jantando com o pai (Alfred Molina) e a mãe (Cara Seymour) e o assunto, como sempre, são os estudos de Jenny.

São os anos 60 em seus inícios e a “Swinging London” ainda não tomou conta da mente dos jovens do subúrbio como Jenny. Mas ela já mostrava alguns sinais, já que seu sonho é ir para Paris, passear ao longo do Sena, beber champanhe, fumar Gauloises e assistir os filmes da “Nouvelle Vague”.

Quando uma chuva inesperada cai quando ela sai da escola, aquele carro esporte vermelho, que aparece do nada, com um convite para escapar da chuva feito pelo rapaz simpático, é logo aceito. Jenny só se permite um momento de hesitação. Vai com ele (Peter Sarsgaard).

Tímida, mas inteligente, ela percebe que David, bem mais velho, se interessou por ela. E, logo a conquista começa com encontros “por acaso” e muitos buquês de rosas. Conversas sobre música clássica, já que ela tem aulas de violoncelo e ele, elegante e educado, logo convida Jenny e os pais para um concerto. Encantados com o namorado da filha, usufruem de algo que ninguém daquela família conhecia.

Jenny que não saia da agenda escola e casa, se depara com um outro jeito de viver.

Na Inglaterra daquela época a classe média sonhava com a universidade para seus filhos. Só que as meninas quando se formavam tinham só duas opções: ser enfermeira ou professora. E, claro, casar-se e ter filhos. Indo para Oxford, talvez Jenny encontrasse um marido rico. Esse era o projeto dos pais para a filha única. Mas David não seria a solução?

As portas de um novo mundo são abertas para Jenny, por um David que tinha prazer em mostrar a vida sofisticada que ele levava para aquela menina que apreciava artes, música, bons restaurantes e a companhia de seus amigos, sem outro compromisso que divertir-se.

Mas o lado obscuro da vida de David vai aparecer finalmente. E Jenny vai ter aprendido muito com aquele período de sua vida. Não era mais a inocente menina do subúrbio, deslumbrada com o brilho falso da vida libertina. Aprendeu que, como dizem os antigos, nem tudo que reluz é ouro.

Carey Mulligan está perfeita no papel da inocente que aprende lições importantes que faziam falta na sua formação acadêmica. Ela é adorável e lembra a jovem Audrey Hepburn. O elenco, dirigido pelo talento premiado de Lone Scherfig, brilha, com destaque para Rosamund Pike que faz a fútil e sofisticada amiga de David (Peter Sarsgaard), Alfred Molina ótimo como o pai e Emma Thompson é a diretora sem compaixão perfeita.

Indicado para três Oscars, é um excelente filme.

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Toscana

“Toscana”-“En la Toscana”, Dinamarca, 2022

Direção: Mehdi Avaz

Quase todo mundo reconhece fotos da Toscana, Itália, mesmo que nunca tenha ido lá. Ciprestes centenários margeiam as estradinhas entre campos coloridos pelas plantações. Aqui e ali uma casinha branca de telhados ocre. Tudo lembra uma pintura.

Foi lá que o chefe de cozinha Theo (Anders Matthsen) viveu sua infância, que parece que ele quis esquecer. Por que?

Ele é um sujeito forte, meticuloso, obsessivo por medidas corretas de ingredientes em sua cozinha contemporânea de criações estéticas. Não abre nunca um sorriso. Nem quando é elogiado por suas duas estrelas no Michelin.

Parece que não há nenhum momento em que ele se descontraia. Não relaxa e nem mesmo aproveita de seus dons culinários para seu próprio prazer.

Theo precisa de dinheiro para finalmente ter o restaurante de seus sonhos e procura investidores. Naquela noite ele ia conhecer alguém interessado e, portanto, se preocupa em deixar tudo perfeito. Mas Theo se desentende com o investidor logo de saída e o sujeito sai dizendo que não volta.

E o chefe recebe a notícia de que seu pai, que não vê há décadas, morreu e deixou o Castelo de Ristonchi como herança. Não há tristeza no rosto do filho, que só vê uma oportunidade de fazer dinheiro vendendo a morada de sua infância, onde aprendeu a cozinhar com o pai.

Aos poucos vamos intuindo que está ali o problema do jeito fechado, de poucas palavras e raivoso. O pai havia abandonado o filho e a mulher e nunca mais voltou. Theo quer se ver livre daquele lugar de lembranças amargas e vai para lá com a firme intenção de vender. Se possível, logo. Quer distância daquele lugar.

Mas o que não estava no programa de Theo era reencontrar a menina Sophia (Cristiana Dell ’Anna), companheira de sua infância, que ele nem reconhece quando a encontra no restaurante do pai dele, que ela agora chefia.

O filme “Toscana” dirigido pelo iraniano Mehdi Avaz, 40 anos, quer mostrar que o reprimido sempre volta à tona quando menos se espera. Theo vai reviver o trauma da infância, que o deixou tão seco e duro e vai se expor ao sol, ao calor, ao sabor das frutas, das folhas e flores daquele lugar. Será que vai se lembrar de sentir o sabor   e esquecer de medir ingredientes? Irá recuperar e usufruir do prazer das pequenas coisas que existem numa cozinha italiana?

O filme é agradável e mexe com a gente. Quantas vezes deixamos de lado o mais importante dos ingredientes da vida? O amor?

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