Um Senhor Estagiário

“Um Senhor Estagiário”- “The Intern”, Estados Unidos, 2015

Direção: Nancy Meyers

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De um lado, Ben Wittaker (Robert De Niro), setentão charmoso, viúvo, aposentado, que já viajou muito, aprendeu até mandarim, faz tai-chi no parque, mantém a boa forma, tem uma vida confortável, mas diz em “off”:

“- Não sou um homem infeliz. Apenas sei que há um vazio em minha vida e preciso preenchê-lo.”

Acrescenta que quer levantar-se de manhã e ter um lugar para ir, onde se sinta necessário.

De outro, Jules Ostin (Anne Hattaway), que ainda não tem trinta anos mas possui um talento especial para o negócio de vendas de roupas on-line, que começou como um blog e transformou-se, em 18 meses, numa rentável companhia de e-commerce, “About The Fit”, da qual é a presidente.

Em seu escritório de vidro, com peônias num vaso de cristal em sua mesa, ela tem uma agenda apertada e muito pouco tempo para a família, o marido Matt (Anders Holm) e a filha Pagie (JoJo Kushner) de uns 5 anos.

Ao contrário de Ben, calmo e tranquilizador, Jules é febril e estressada. O preço a pagar por ser bonita, bem sucedida, ter um talento inato para negociar e bom gosto para escolher seus produtos, é só poder fazer isso, além de ser invejada e criticada pelas outras mães da escola da filha.

Leva computador até para a cama, onde seu marido, “pai de tempo integral”, dorme, cansado dos afazeres domésticos e dos cuidados com a filha de ambos.

O filme, dirigido e roteirizado por Nancy Meyers (Alguém tem que Ceder”2003, “Simplesmente Complicado”2009), defende o espaço da mulher vencedora, que ganha mais do que o marido, que, portanto, tem que ficar em casa e fazer tudo o que as mulheres costumam fazer (e ainda trabalhar), sem reclamar.

Mas será que esse arranjo funciona para o casal?

Aí é que entra Ben, o estagiário idoso, que teve um casamento feliz de 42 anos, que vai trabalhar na companhia de e-commerce e passa a ocupar um espaço de conselheiro na vida de Jules, que se ressente da solidão em que vive. A diferença de gerações entre eles não atrapalha, ao contrário. Ben tem a estabilidade emocional e a experiência que faltam a Jules.

O mais atraente no roteiro é a maneira como observa, com humor, os detalhes que identificam a diferença entre as gerações. Os colegas de trabalho de Ben são tão jovens que poderiam ser seus netos mas acabam admirando os modos “vintage” de ser de Ben. Não precisa nem dizer que os que mais se identificam com Ben, na plateia, são os que mais se divertem com a produção do filme, perfeita na escolha de peças raras hoje em dia.

“A experiência nunca envelhece” diz o cartaz americano de “Um Senhor Estagiário”. Pura verdade no caso de Robert De Niro, um ator de grandes filmes, que se sai tão bem nessa comédia simpática e divertida. Ele e a graça natural de Anne Hattaway, ambos oscarizados, fazem do filme um sucesso garantido.

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Evereste

“Evereste”- “Everest”, Estados Unidos, Inglaterra, Islândia, 2015

Direção: Baltasar Kormákur

Por que será que homens e mulheres arriscam a própria vida em aventuras loucas? Talvez seja para tentar aumentar os limites humanos, como no passado iam em busca de novas terras. Mas, se a razão for apenas a de reassegurar-se de sua superioridade sobre os outros, o preço a pagar é muito alto.

Em 1996, uma tragédia aconteceu no monte Evereste, o mais alto do mundo. Doze alpinistas perderam a vida, quando uma terrível tempestade abateu-se sobre o cume, sem anúncio prévio, e eles foram pegos quando ainda no alto.

No filme “Evereste” que conta o fato, tudo começa quando o neo-zelandês Rob Hall (Jason Clarke) embarca para Katmandu, no Nepal, para guiar uma expedição de pessoas que pagaram pequenas fortunas para serem levados ao cume do Evereste.

Situado na chamada “Zona da Morte”, acima dos 8.000 m, o ar lá é tão rarefeito que há necessidade de respirar com máscaras ligadas a tubos de oxigênio. Não é um lugar feito para seres humanos.

Rob parte preocupado por deixar Jan (Keira Nightley), sua mulher, grávida de sete meses. Mas ele espera voltar a tempo de ver o bebê nascer.

Naquele maio de 1996, duas expedições (a “Adventurers Consultant” do neo-zelandês Rob Hall e a “Mountain Madness” do americano Scott Fisher, interpretado por Jake Gyllenhaal) juntaram suas forças para levar homens e uma mulher para cima da montanha. Usariam as mesmas cordas e escadas de alumínio lançadas sobre abismos, colocadas previamente pelos xerpas, população local que conhece a montanha e a respeita.

No “Campo Base”, a mais de 5.000 m de altura, os aventureiros chegam para aclimatar-se e treinar em três escaladas e ouvem a médica alertar para os perigos mortais do ar rarefeito: o edema cerebral e pulmonar que levam à morte, a hipóxia que enlouquece, a disenteria que enfraquece. Ao primeiro sintoma, descer é a única saída possível.

E Scott ouve de um guia experimentado algo sério:

“- Não gosto dessa multidão aqui… Muita competição.”

E realmente vemos muitas tendas abrigando uma boa quantidade de pessoas, mostrando a fama que se espalhava em torno aos que conseguiam subir o Evereste.

“- A competição não é entre pessoas”, diz o guia, “ é entre você e a montanha. E ela tem sempre a última palavra.”

O filme, dirigido pelo islandês Baltasar Kormákur, é impressionante. Voos belíssimos sobre pedras negras pontiagudas e o branco imaculado da neve virgem. Dias de céu azul e sol e outros escuros, neblina densa e vento gélido e cortante. Homens diminutos entre blocos de gelo maiores do que prédios.

O elenco é de atores competentes como Josh Brolin, Robin Wright, Emily Watson, John Hawkes, Michael Kelly e outros já citados. Alguns acharam que o roteiro não deu profundidade aos personagens. Mas talvez o interesse maior foi o de mostrar o desafio que a montanha representa e avisar que muitas variáveis estão em jogo quando se enfrenta a natureza. E que nem sempre acontece o planejado.

“Evereste”, principalmente em IMAX e 3D, nos leva ao teto do mundo, sem riscos mas com muita emoção.

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