Mary Shelley

“Mary Shelley”- Idem, Reino Unido, Irlanda, Luxemburgo,

Direção: Haifaa Al-Mansour

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É num antigo cemitério, onde sua mãe estava enterrada, que a jovem Mary (Elle Fanning, ótima) lê romances góticos. Ela ama a solidão e a reflexão. Num caderno, escreve pensamentos, inspirações, esboços. Bela e  nostálgica, aos 16 anos, era já a semente do que se tornaria um dia. Uma escritora criativa como poucas, Mary Shelley (1797-1851), mundialmente famosa.

A filha de Mary Wollstonecraft, não conheceu a mãe, que morreu dias depois de seu nascimento. Filósofa e feminista, essa mulher adiante do seu tempo, vivia como acreditava que todas as pessoas deveriam viver: livres e apaixonadas.

Mary foi criada pelo pai, que também escritor como a mãe, era dono de uma livraria William Godwin (Stephen Dillane). Casado pela segunda vez com uma mulher que não tolerava Mary, tivera uma segunda filha, Claire (Bel Dowley), que era muito próxima de Mary.

Para afastá-la da madrasta, o pai resolve mandar Mary para a Escócia, na casa de parentes. Lá ela vai conhecer o poeta Percy Shelley (Douglas Booth), com quem viverá alegrias e tristezas. Os dois, unidos por uma paixão fulminante, eram almas diferentes. Mary sensível, impulsiva mas doce, Percy aventureiro e irresponsável. Mas se amavam.

Quando Shelley a convida para viver com ele, ela não titubeia. Vai ser livre como sua mãe fora.

Porém, essa união foi marcada também por sofrimentos vividos por Mary. Traições, mentiras e a morte de sua filha ainda bebê. Claire, a meia irmã, vivia com eles. E Percy, narcisista e egocentrico, se divertia com ela, durante a depressão de Mary por causa do luto.

Numa noite de tempestade é lançado um desafio na mesa do palácio de Lord Byron(Tom Sturrdge), que Claire queria para ser seu amante:

“- Vamos ver quem consegue escrever a melhor história de fantasma? “

Nessa noite, aceito o desafio, o médico de Byron escreve “O Vampiro”, que influenciou todas as histórias sobre o tema e Mary esboça o “Frankenstein”, que sabemos o quanto ficou famoso.

O livro do médico Polidori foi publicado como sendo da autoria de Byron e o de Mary só foi aceito para publicação com a condição de ser de autor anônimo. Ainda por cima foi exigido pelo editor que o prefácio teria que ser escrito por Shelley.Todos pensavam que era ele o autor.

Mas na segunda edição esse erro foi corrigido.

Mary Shelley fez do que viveu, o céu e o inferno, material para a criação do Frankenstein, monstro solitário e abandonado. Patético e incompreendido.

A menina que não conheceu a mãe, sentindo-se abandonada por ela quando morre, também vive um terrível abandono quando seu companheiro não está a seu lado quando mais precisava dele, a morte da filha de ambos.

Mais, Mary sentiu-se um monstro desde sempre, castigada com a morte de sua mãe que, inconcientemente, sentia como se fosse sua culpa e, novamente, quando morre sua filha.

Ela transforma todas essas angústias em um personagem que está dentro dela, temido, carente e solitário :  “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”.

Mary Shelley casou-se com Percy e tiveram um filho. Depois da morte prematura do marido, Mary nunca mais se casou.

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Madame Bovary

“Madame Bovary”- Idem, França, 2015

Direção: Sophie Barthes

A primeira cena que vemos mostra uma mulher jovem, em desespero, correndo pelo caminho de uma floresta. Bem vestida em sedas mas descabelada e sentindo dores pois aperta com as mãos o lado de seu corpo.

Finalmente, cai e presenciamos sua agonia e morte. O que foi que aconteceu?

Ela é Emma, na pele de Mia Wasikowska, filha de um proprietário rural, que casa sua filha, educada em um convento, com um médico de província, Charles Bovary (Henry Lioyd-Hugues).

Ela é bela, jovem e romântica, adora ler os livros que narram histórias de amor e sonha viver como as heroínas desses livros.

Mas já na primeira noite, Emma se decepciona com a atitude nada sensual do marido, que marca o seu casamento com frustração.

Ela, que vestia roupas simples e tinha uma presença calma e obediente, muda aos poucos para o contrário, colocando para fora seu lado mais arrogante, que pensa que ela é mais do que na realidade é.

Com a ajuda prestimosa de M. Lhereux (Rhys Ifans), um sujeito astuto e manipulador, Emma vai conhecer luxos com os quais nunca sonhara e vai se entregar a eles. Passa a aceitar o crédito que o dono da butique lhe concede e nem pensa em perguntar quanto custam suas encomendas.

Para se esquecer do tédio de sua vida com o marido, que ela só vê à noite, Emma mergulha no consumismo e na vaidade. O que é um passo para atrair outros homens com os quais procura o que não tem no seu casamento.

Mas Emma não se dá conta de que é seu lado autodestrutivo que comanda essas ações. E por isso Emma será para sempre uma eterna insatisfeita.

Mia Wasikowska empresta à personagem seu talento para interpretar mulheres sofridas e complexas. Ela lidera um ótimo elenco e o filme é bonito de se ver com primorosa produção de arte, figurinos sofisticados e locações bem escolhidas.

Gustave Flaubert (1821-1880) é o autor do famoso livro que foi adaptado para a tela. Na época teve que se defender perante um tribunal que acusava o livro de ser imoral. Foi então que o escritor falou a célebre frase: “Emma Bovary c’est moi!” (“Eu sou Madame Bovary!”)

E escapou ileso e dito inocente.

O século XIX era uma época de forte patriarcado, eivada de preconceitos, moralidade e religiosidade acerbadas, que condenavam o adultério, como o pior dos males.

Hoje em dia existem por aí muitas “Bovarys” que continuam, como Emma, a não entender que a felicidade é algo a ser buscado, sem qualquer ilusão de que dure para sempre. Dá trabalho e é preciso paciência e muita boa vontade.

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