Manifesto

“Manifesto”- Idem, Alemanha, 2017

Direção: Julian Rosefeld

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Não tenham medo das palavras. Elas não são o mais importante desse filme que tem Cate Blanchett como estrela única, brilhando em sua versatilidade, fazendo 13 personagens, cada um ligado a um “Manifesto”.

E o que é um Manifesto? Em “off” a voz da atriz explica que é ter ideias para arrasar com outras ideias, para provar que alguém é o dono da verdade, seja um indivíduo, um grupo ou um partido político.

“Tudo que é sólido desmancha no ar”, diz Cate e ela questiona: será que alguém conseguiu colocar ordem na natureza humana caótica e contraditória?

Certamente não e por isso vão desfilar na tela várias Cates, com roupas, sexo e sotaques diferentes, lendo ou apresentando os 13 Manifestos, que se consideram sempre a palavra final.

Começa com o “Manifesto Comunista” de Marx e Engels. E, em seguida os Manifestos sobre a arte. E a atriz vai defender cada um deles com um personagem ligado ao movimento que gerou o Manifesto: Situacionismo, Futurismo, Arquitetura, Suprematismo/ Construtivismo, Dadaísmo, Pop Art, Estridentismo/Creacionismo, Vorticismo/ Expressionismo Abstrato, Fluxus/Merz/Performance, Surrealismo/Espacialismo,  Arte Conceitual/Minimalismo, Cinema/Dogma 95.

A verborragia faz com que seu ouvido atrapalhe a visão? Está ficando zonzo de tantas palavras que ela diz? Faça o contrário. Privilegie o olhar. E se encante com a porção camaleônica de Cate Blanchett, que consegue ser tantas.

Desde um mendigo, morador de rua, passando por uma mulher sofisticada fazendo um discurso no cemitério, uma corretora da Bolsa, uma mãe de família conservadora, uma operária numa usina de incineração de lixo, uma cientista, uma coreógrafa russa, uma mulher elegante recebendo colecionadores de arte numa bela casa, uma punk tatuada, uma artista que faz marionetes, uma professora de arte ensinando o Dogma 95 para crianças, uma âncora e uma repórter de um jornal de TV.

Portanto, não vá ver “Manifesto” por causa dos Manifestos. Tudo bem, talvez você aprenda alguma coisa. Mas, principalmente, não perca Cate Blanchett dando um show de interpretação e mostrando que ela é única. Vale a pena!

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Nossas Noites

“Nossas Noites”- “Our Souls at Night”, Estados Unidos, 2017

Direção: Ritesh Batra

Apesar de continuar achando que o melhor lugar para ver um bom filme é o cinema, tenho que admitir que os tempos mudaram e que as pessoas tem mais dificuldade de locomoção numa grande cidade. Ou mesmo que haja lugares no Brasil onde só passam “blockbusters”, de ação e violentos, mais para um público jovem.

E um bom filme é sempre uma alternativa para a mesmice dos programas de televisão.

Quando postei uma dica de filme da Netflix, “Nossas Noites”, na minha página do Face, surpreendeu-me o número de pessoas atingidas e os muitos comentários. E neles, vários pediam que eu continuasse a indicar os bons filmes da Netflix.

Curvo-me a esses pedidos e começo justamente com a resenha do filme que agradou a tantos. Vai para o meu blog.

Jane Fonda, 79 e Robert Redford, 81, causaram alvoroço no Festival de Veneza desse ano quando o filme foi lançado fora de competição. Não é de se admirar porque ambos são estrelas de primeiríssima grandeza, com vários Oscars cada um deles e fizeram sucesso como dupla em “Caçada Humana” de 1966, “Descalços no Parque” de 1967 e “O Cavaleiro Elétrico” de 1979 mas já não apareciam juntos há quase 40 anos.

E acertaram em cheio. A dupla foi elogiadíssima. Talvez porque há uma demanda especial, hoje em dia, para filmes charmosos com atores de mais idade. Tenho visto alguns no cinema, sempre com sucesso de público.

Pessoas mais velhas gostam de se ver retratadas não como velhinhos que as pessoas tratam como se fossem crianças, um hábito detestável, mas como alguém que pode ainda viver uma vida interessante.

Aliás o forte em “Nossas Noites” não é o romance. O ponto principal é a solidão e o quanto tudo muda quando se encontra alguém para conversar. E quando esse alguém é atraente como são Jane Fonda e Robert Redford, a coisa fica perfeita.

Vizinhos há muito tempo, numa cidade pequena, é só quando Addie e Louis chegam nos 80, ambos viúvos, é que a história acontece. Com toda a experiência de uma vida e um temperamento mais extrovertido, Addie sabe que o tempo voa. Então vai direto ao ponto. Convida Louis para dormir na casa dela, explicando que a noite é para ela a pior parte do dia. Quer conversar, trocar ideias, travesseiro com travesseiro.

Ele, mais tímido, parece meio escandalizado e é delicioso o momento em que atravessa a rua com um saco de papel que esconde um pijama e entra pela porta dos fundos da casa dela.

Tem gente que achou o filme fraco. Outros não gostaram do final. Mas a maioria gostou de tudo. Porque não podemos esquecer que o filme se dirige justamente a uma classe de pessoas que são mais conservadoras, que gosta de ver na tela pessoas como eles mesmos, que valorizam a boa companhia mas que também se preocupam com os filhos e netos, principalmente as mulheres, que sentem prazer em cuidar da família.

O livro que foi adaptado foi escrito por Kent Haruf e o filme é dirigido pelo indiano Ritesh Batra (“Lunchbox”2013), que fez um bom trabalho, delicado e leve.

Penso que “Nossas Vidas” será lembrado como o maior sucesso da dupla Jane Fonda e Robert Redford. Aliás, produzido por esse último, homem belo e inteligente.

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