A Negociação

“A Negociação”- “The Arbitrage” Estados Unidos, 2012 “A Negociação”- “The Arbitrage” Estados Unidos, 2012

Direção: Nicholas Jarecki

Oferecimento Arezzo

Ganância e narcisismo são uma combinação perigosa. Pessoas que possuem essa característica em sua personalidade, geralmente dão um passo maior do que a perna na vida. São onipotentes, não conhecem limites e por isso não avaliam bem a reação das outras pessoas e até mesmo as consequências de suas ações.

No filme “A Negociação”, dirigido e roteirizado pelo estreante Nicholas Jarecki, 33 anos, o bonitão Richard Gere, excelente no papel, incarna o poderoso do mundo das finanças, Robert Miller, com um andar duro, olhos frios e cabeleira branca impecável.

Quando chega em casa, a família o espera com expectativa. Ele é muito ocupado, tem pouco tempo para tudo que não seja ganhar dinheiro mas, naquele dia, ele assopra o bolo de 60 velinhas com a ajuda dos netos. Todos lindos, bem vestidos, elegantes com uma simplicidade cara e encantados com o pai, marido e avô.

A filha (Brit Marling) pergunta depois do jantar:

“- Mas por que você quer vender a empresa, pai? Temos bons lucros…”

“- Para poder ter mais tempo para vocês”, responde ele com cara de santo.

“- Mas para fazer o quê?” retruca a filha inteligente e que conhece bem o pai, já que trabalha com ele.

No quarto, com a mulher Ellen (a oscarizada e ótima Susan Sarandon), bem tratada, alegre mas carente como toda aquela família, ele recebe um convite:

“- Vamos partir por um ano? Uma aventura! Só nós dois? A casa de Ravello… Não usamos nunca…”

Mas ele já está de saída para o escritório. Claro.

E a amante francesa não poderia faltar. Julie (Laeticia Casta) muito mais nova que ele, ganhou uma galeria de arte mas também reclama do pouco tempo juntos:

“- Você nunca vai largar dela, não é mesmo?”

Com o cenário escolhido a dedo, um apartamento em New York com vista para o Central Park, uma família encantadora, uma empresa que aparentemente vai bem, uma bela e jovem amante, por que ele continua se estressando?

Porque ele quer mais, muito mais, sempre.

E quando começam a falar em gerência fraudulenta, parece que vem encrenca por aí. E tudo que pode acontecer, acontece. Inclusive um detetive incansável atrás dele (o sempre convincente Tim Roth).

O filme “A Negociação” distrai pela história que tem reviravoltas e agrada pelo elenco que Jarecki conseguiu reunir e sabe dirigir, dando ritmo ao enredo.

Não se trata de um filme inesquecível? Mas também não é um “blockbuster” sem cérebro. Vale o preço do ingresso.

 

 

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O Impossível

“O Impossível”- “Lo Impossible” Espanha, 2012

Direção: Juan Antonio Bayona

 

Tudo convidava à felicidade das férias, em um dos lugares mais bonitos do planeta, a ilha de Pukhet na Tailândia.

A família Bennet, depois de um voo vindo do Japão, onde moravam, chega ao paraíso, um resort na Orchid Beach. Águas turquesa, areia branca e um sol luminoso acolhem a mãe Maria (Naomi Watts), o pai Henry (Ewan McGregor) e seus três filhos, Lucas de 12 anos (Tom Holland), Thomas de 7 (Samuel Joslin) e Simon de 5 (Oaklee Pendergast).

Tinham vindo passar os feriados do Natal.

Por ironia do destino, a suíte do 4º andar que os teria salvado do pior, foi substituída, na última hora, por uma suíte à beira-mar, de onde se viam palmeiras e um mar azul.

Estavam todos animados com o “up grade” e o Natal foi feliz. Não sabiam o que os esperava…

Ficamos com o coração apertado pois sabemos o que vai acontecer. E quando vem, sem aviso, surge a impotência do ser humano frente à força implacável da natureza. Não dá para esboçar um gesto. Só se encolher como Maria faz.

A força de vida do ser humano que o faz sobreviver, apesar das adversidades, é espantosa. Belíssima a cena em que Maria, atingida pelos detritos de toda sorte, quando é tragada pela onda do tsunami, desfalece, seu corpo flutua e, em câmara lentíssima vemos seu braço que rasga a água e faz acontecer o encontro com o ar abençoado, seu corpo vencendo a morte e tragando a vida, numa respiração vitalizante,

Todo mundo viu fotos, filmes na TV, ouviu depoimentos dos sobreviventes mas nada como o cinema para nos colocar em lugares onde nunca estivemos e sentirmos o que os outros sentiram.Quando o roteiro, a atuação, os efeitos especiais são de primeira linha, como em “O Impossível”, passamos todos pelo horror que foi o tsunami de 2004, que matou milhares de pessoas, um dia depois do Natal.

Vestimos a pele daqueles que passaram pelo terror e morreram (cerca de 300.000) e sofremos com os sobreviventes, separados de suas famílias e vagando desesperados entre os destroços do paraíso.

Naomi Watts está de arrepiar como a médica despreocupada, em férias, que se transforma na mãe sofrida e tão mais próxima do filho mais velho, que a ajuda a vencer com coragem a batalha pela sobrevivência. Foi indicada para melhor atriz em todos os prêmios que já foram anunciados. O jovem Tom Holland também está perfeito no papel.

O impossível aconteceu. E Maria Belón, espanhola, escreveu um livro contando essa história de pesadelo que passou na Tailândia com sua família e que foi adaptada para o cinema.

“O Impossível” não é um filme em que o desastre é o ator principal. Aqui, a câmara foca em planos abertos a primeira e a segunda onda e os destroços em que se transformou aquele pedaço de paraíso. Mas não é o principal. O diretor Bayona prioriza os rostos feridos, as pernas trôpegas, os olhares cansados , o trauma vivido naquela manhã.

Mostra o ser humano em uma situação de exceção. Vemos gestos egoístas e solidariedade, a emoção do reencontro e as lágrimas da perda dos seres queridos.

“O Impossível” é um belo e terrível filme sobre o imprevisível.

 

 

 

 

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