Malcom & Marie

“Malcom & Marie”- Idem, Estados Unidos, 2021

Direção: Sam Levinson

Oferecimento Arezzo

Quem nunca enfrentou uma DR? É uma armadilha que prende quem ousa levar a sério suas consequências quase sempre desastrosas.

Porque quando um casal desenrola um novelo de emoções reprimidas, não tem como parar. Uma coisa puxa a outra. Há uma troca de crueldades que mostra o casal preso numa dependência tóxica. Ou seja, os dois precisam desabafar e não há intenção de poupar o outro.

No filme, um casal jovem, bem vestido, volta da estreia do filme de Malcom. Moram numa casa de visual contemporâneo, isolada numa natureza semi selvagem, com móveis de design e gosto apurado. O preto e branco em tons e semitons intensifica o clima do filme, dirigido com talento por Sam Levinson.

Ela (Zendaya, bela) muito jovem, tem longos cabelos, uma beleza exótica e um corpo de adolescente, realçado por um vestido ousado que lhe cai bem. Calada, vai para a cozinha preparar algo.

Ele (John David Washington) põe música alta e dança eufórico com o sucesso do seu filme. Não para de falar. Está encantado com o sucesso. Ela fuma e em voz baixa emite algumas observações frias que fazem com que ele se aproxime, querendo ela. Mas Marie se afasta de Malcom que começa a querer entender o que se passa na cabeça dela. E teremos o que vai ser aquilo que os dois procuram.

Parece que o sucesso dele a incomoda. Inveja? Ciúmes? Só na superfície. É pior do que isso.

Ela mostra o ponto nevrálgico. Ele não a citou no discurso de agradecimentos. E por que? Se não fosse ela não haveria filme, já que foi a vida dela que a tela mostrou.

Nem tanto, prova ele em seguida, desfiando um rosário de recordações de outras mulheres que o inspiraram para várias cenas do filme.

Os dois se calam. Machucaram-se. Afastam-se.

Até parece que esse clima entre os dois foi o prólogo em que se entretinham aguardando a primeira crítica do filme que, tradicionalmente, sai na madrugada.

E ele explode quando lê cada frase no celular. Ela sorri. Exausto de tanto gritar, joga-se na cama, esgotado. O intervalo era necessário para que os ânimos se renovassem. E ela volta à carga, desafiando ele para a luta.

O final é dela. No silêncio que se segue ele se vira e parece dormir. Quando a procura, no meio da noite, ela não está ao lado dele.

Depois de gritar o nome dela pela casa, ele a encontra lá fora, no lusco fusco do amanhecer.

Os dois em silhueta, lado a lado, olham o horizonte. Esperam o dia nascer. Vão recomeçar?

“Malcom & Marie” mostra um casal onde cada um precisa do outro para não se afogar na própria raiva. Uma relação sadomasoquista que se alimenta na troca de argumentos contrários. Existem muitos iguais a eles por aí.

Ler Mais

Bridgerton

“Bridgerton”- Idem, Estados Unidos, 2020

Direção: Julie Anne Robinson

Inglaterra, Londres, 1813, período Regency.

A narradora (voz de Julie Andrews) informa que estamos no começo da temporada social. Duzentas jovens solteiras de boas famílias procuram estar no seu melhor momento porque serão apresentadas à Rainha naquela noite.

Vestidos e joias saem de baús e cofres para encantar os olhos reais. A Rainha Charlotte observará cada detalhe sentada em seu trono. Uma será a escolhida. E se casará com o melhor dos partidos disponíveis. E as outras terão que se contentar com os outros rapazes.

No pátio do castelo real chegam as carruagens com os convidados. As mães dão os últimos conselhos às filhas. O tapete da sala do trono será percorrido por mocinhas que tentam fazer seu passo mais leve, esboçando o sorriso mais delicado. Finalmente vem a reverência perante a rainha. A graça com que cada uma nasceu é o que vai destacá-la.

E vemos aquela que é chamada de “diamante raro” pela rainha, que desce do trono para levantar o rosto lindo de Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor), exclamando:

“- Impecável, minha querida ”, depois de dar um beijo em sua testa.

Mas ao contrário do que parecia, outra bela se destaca entre todas. Ela veio do interior e é prima da família Featherington, que a acolheu. Faz sucesso e isso irrita a Rainha que não gosta de perder suas apostas.

A narradora, Lady Wistledown, pseudônimo de quem escreve o jornalzinho de fofocas mais lido no reino e que ninguém sabe quem é, conhece a fundo os presentes naquela noite. E logo na manhã seguinte todos leem avidamente as notícias. Uma frase se destaca:

“ Mas sabemos que quanto mais uma jovem brilha, mais cedo irá se queimar. “

A qual das jovens são dirigidos os maus augúrios?

Na noite seguinte, no baile de Lady Danbury, uma presença inesperada dá um encontrão com Daphne. Ele é um homem alto, elegante e belo, o Duque de Hastings (Regé-Jean Page). Uma corrente elétrica tanto une quanto repele aqueles dois.

Baseado nos livros de romances históricos de Julia Quinn, que venderam 10 milhões de exemplares só nos Estados Unidos, “Bridgerton “ foi filmado em belas locações na Inglaterra. Vemos detalhes preciosos como as carruagens, os criados de libré e perucas brancas, passeios a cavalo em magníficos parques com árvores centenárias, palácios onde os bailes se sucedem com danças e fogos de artifício.

Porém, a maior atração que deu o que falar, e que diferencia esse filme dos outros de época, é a presença de um elenco inesperado, no qual se misturam as cores de pele. Assim, a Rainha Charlotte é mestiça, Lady Danbury é negra, bem como o personagem mais atraente, o Duque de Hastings, filho de pai negro e mãe mestiça. Ele, aliás, é protagonista de cenas sensuais onde exibe seu corpo perfeito.

O filme é produzido por Shonda Rhimes, uma poderosa presença nas séries da televisão americana, conhecida por seguir uma tendência atual de escolher o elenco sem levar em conta a cor da pele. Talvez o filme fique um pouco estranho a olhos não habituados a ver a aristocracia inglesa dessa maneira. Mas a série não é realista. É ficção.

Existem até defensores da ideia, apoiada por historiadores que a consideram verdadeira, que a Rainha Charlotte e toda uma série de personagens históricos negros teriam sido “embranquecidos” nas pinturas da época.

Seja como for, “Bridgerton” diverte em nove episódios, e desde o início prega a mistura da moda contemporânea com a de época, bem como desafia posturas racistas e homofobicas, que hoje em dia não são bem vistas em lugar nenhum, por gente de bem.

Ler Mais