Lucy

“Lucy”- Idem, França, 2014

Direção: Luc Besson

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Intrigante e belo, mesmo quando é muito violento. Assim é “Lucy”, o novo filme do diretor francês Luc Besson.

Uma célula se dividindo é a primeira imagem na tela. As esferas brilham e se interpenetram. Em “off” uma voz de mulher pergunta:

“- A vida começou há um bilhão de anos. O que fizemos com ela?”

Cenas de grandes metrópoles com muita gente apressada nas ruas, tráfico pesado, cacofonia de ruídos. Na noite, luzes, música berrando, bebidas, drogas. Excitação.

As cenas se passam ora em Taiwan, envolvendo Lucy, ora em Paris, onde o professor Norman faz uma palestra.

“- Você sabia que a primeira mulher chamava-se Lucy?” pergunta um cowboy que tenta convencer uma bela loura a entregar uma maleta. Ela se recusa e ele acaba algemando a maleta no pulso dela.

Aturdida, ela cai sob o domínio de uma gangue de traficantes de Taiwan. Uma droga, de uma bela cor turquesa, será contrabandeada para capitais da Europa, de uma forma violenta e cruel.

Lucy vai passar por experiências terríveis e ao mesmo tempo inefáveis.

O professor em Paris pergunta aos alunos:

“- Vocês sabem que não usamos todo o potencial de nosso cérebro? O golfinho usa e desenvolveu um radar perfeito.”

Na tela vemos cenas da natureza. Animais seguindo seus instintos de caça e procriação.

“- Fomos os únicos a desenvolver cultura”, continua o professor, “mas paramos de usar o potencial do nosso cérebro. A evolução precisa de uma revolução.”

 Enquanto ele expõe suas teorias a alunos atentos, Lucy é exposta à droga que colocaram dentro de seu corpo, num recipiente que estoura.

Uma extraordinária experiência vai começar para ela. Lucy vai ser o primeiro ser humano a experimentar o total uso de seu cérebro, efeito da droga desconhecida. Vai se tornar uma super- mulher. Não vai ser fácil mas será fascinante assistir a isso.

Scarlett Johansson ( “Ela”, “Sob a Pele”) atua  com intensidade, sensualidade e talento para convencer a plateia sobre o que acontece em seu corpo.

E Luc Besson cria mais uma de suas heroínas (“Nikita”e “O Quinto Elemento”) com suspense, ação, violência e imagens deslumbrantes.

O filme explora de forma superficial e lúdica teorias da nova Física e mesmo ideias da psicanálise, como por exemplo a existência de um inconsciente coletivo em todo o ser humano, que o conecta a toda a história da humanidade.

Lucy vai experimentar uma nova realidade psíquica, telepatia, levitação, ação à distância com o pensamento, acesso às memórias alheias e às próprias, as mais antigas. É comovente sua conversa pelo telefone com a mãe.

Ela se transforma rapidamente e, com mais droga em seu corpo, ao conseguir usar 100% da capacidade de seu cérebro, vai nos aturdir com uma genial viagem no tempo.

O filme vai agradar a quem gosta de divertir-se com novas ideias e especular sobre a natureza humana.

Além disso, é um filme bonito de se ver, os efeitos especiais são muito bem usados e a dupla Scarlett Johansson e Morgan Freeman é muito competente.

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Meteora

“Meteora”- Idem, Alemanha, França e Grécia, 2012

Direção: Spiros Stathoulopoulos

Numa paisagem majestosa (Kalambaka, Grécia), onde tronam dois blocos de pedras colossais, o silêncio é rompido apenas pelo canto de pássaros, o sino das cabras e o vento.

Como se fossem enormes colunas, tais pedras sustentam em seu cume, um monastério de padres ortodoxos e noutra, um convento de freiras. Face a face.

Estamos fora do tempo em “Meteora”.

Mas o isolamento em que vivem essas pessoas religiosas é quebrado por acaso. A freira Urania (Tamila Koulieva) espera o saco que vai içá-la para cima e encontra o padre Theodorus (Theo Alexander), jovem e bonito.

Nada falam mas algo se passa entre eles.

O primitivo e natural desejo assoma à superfície daqueles seres que se vestem de negro, mantém os olhos baixos e falam somente com Deus através da oração.

Quando ele retorna ao monastério pela longa escadaria, leva ela no coração e na mente.

E o encantador em “Meteora” é que o que se passa entre eles, e o caminho de cada um para o alto, é reproduzido em desenhos que parecem ícones de igreja ortodoxa. Surpresos, vemos figurinhas diminutas se mexerem entre os mosaicos dourados.

À luz de velas, cada um em sua igreja, venera os mesmos ícones que, para nós, ganham vida e recontam o encontro.

Theodorus, estático aos pés do precipício pergunta:

“- Vós testais a humanidade o tempo todo?”

E logo uma luz, brilhante como um raio de sol, dança na parede do quarto de Urania. Bem que ela se penitencia, queimando a mão na vela para afastar pensamentos proibidos mas sua carne palpita.

E ela, em desenho, vê o chão se abrir e aparecer o inferno.

Ele também tem visões de um mar de sangue que jorra, por sua culpa, mas a vontade de vê-la é maior e então ele usa um ícone espelhado para chamá-la em seu quarto.

Um piquenique, cozinhado por ele, é a ocasião para a paixão aflorar. O vinho atiça o desejo.

“O desespero é o único pecado sem perdão”, descobrem os dois numa história de um santo antigo e riem dos sons das palavras “desespero” e “liberdade” em grego e russo.

Como para todos os amantes, antes e depois deles, o riso é o sinal da excitação que os invade.

Estão felizes juntos e isso vai ser mais forte que a proibição e a austeridade.

Spiros Stathoulopolos dirigiu, roteirizou e fotografou um filme raro, com um ritmo lento como os dias das pedras e tocante como as batidas fortes de dois corações.

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