O Pianista

“O Pianista”- “The Pianist”, França, Reino Unido, Alemanha, Polonia, 2002

Direção: Roman Polanski

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Tudo se passa em Varsóvia e começa em 1939, ano do início da Segunda Guerra. Vemos cenas em preto e branco da cidade e seus habitantes. E, quando chega a cor, o jovem pianista (Adrien Brody), elegante em seu terno cinza claro, toca Chopin lindamente, o Noturno Póstumo, na Rádio Nacional de Varsóvia.

Wladislaw Szpilman (1911-2000) vai viver uma história trágica e emocionante naqueles anos de guerra e vai escrever um livro que será adaptado para o cinema e dirigido por Roman Polanski, nascido na França mas de pais poloneses que voltaram para a Polonia em 1935 e onde Polanski viveu a morte da mãe e da irmã durante a guerra.

No filme, se bem que os alemães já comandassem a destruição em Varsóvia, o pianista que insiste em tocar, finalmente larga as teclas, quando uma explosão estilhaça as vidraças da sala da Rádio Nacional. Tudo se enche de poeira e detritos.

A partir desse momento será contada a história do tristemente famoso gueto de Varsóvia, para onde os judeus da cidade foram obrigados a seguir, levando quase nada de seu. Crianças com suas mães, homens moços e velhos, mulheres, todos amedrontados, intuindo o que estava por vir.

Polanski nos apresenta uma reconstituição do que foi o infame gueto, lugar de dor e sofrimento, humilhação e desespero para todos que estavam lá, prisioneiros.

Soldados nazistas não poupavam sadismo e maldade na maneira como tratavam os “judeus imundos”.

Wladeck presencia os horrores que tornavam o viver ali um pesadelo sem fim. Ele toca o piano no acanhado restaurante do local, onde todos vendem tudo o que tem por um pedaço de pão.

O filme emociona e assusta. Seguimos o pianista pelas ruas onde jazem corpos sem vida, para em seguida assistir a fuzilamentos sem qualquer razão.

Mas o pior ainda estava por vir. Em 1942 começaram as deportações para os campos de extermínio. Wladeck perdeu toda a sua família. Foi o único que sobreviveu para contar essa história terrível. Ele, inclusive, presenciou a revolta do gueto. Homens corajosos lutaram com o pouco a seu dispor e ficaram na história, embora derrotados cruelmente.

A música nunca abandonou o pianista, mesmo quando tocava teclas imaginárias, ouvindo o som em sua mente.

A cena com o oficial nazista que pede para ele tocar o piano é trágica e bela. O pianista reencontra a força e a beleza que seus dedos nunca esqueceram na Balada No 1 de Chopin.

Adrien Brody ganhou o Oscar de melhor ator por sua brilhante personificação de Szpilman. Roman Polanski levou o Oscar de direção e de melhor roteiro adaptado. E, entre outros inúmeros prêmios, “O Pianista” venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

É um filme que aperta o coração ao mostrar do que os homens são capazes de fazer aos seus semelhantes. Mas também enaltece a sensibilidade e o poder da arte como armas de sobrevivência. Magnífico.

 

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Amor até as Cinzas

“Amor até as Cinzas”- Ash is Purest White”, China, França, 2018

Direção: Jia Zhang-Ke

O documentário de Walter Salles sobre esse cineasta chinês, chama-se “Jia Zhang-Ke, um homem de Feniang”. Lançado internacionalmente em 2014, mostra a admiração que o diretor de “Central do Brasil” tem por ele.

No mais novo filme do diretor chinês há um par amoroso que pertence ao mundo dos gangsters. A palavra usada é “jianghu” e o título original é “Sons and Daughters of Jianghu – Jianghu Er Nev”. Mais do que somente membros de um submundo, eles se comportam obedecendo regras próprias de conduta, sendo a lealdade a principal qualidade.

O filme começa num nightclub em Datong, pequena cidade de mineração de carvão. Há uma sala de jogos no fundo e lá reina Bin (Fan Liao), chefe dessa espécie de máfia local. Sua amante, a bela Qiao (a extraordinária atriz, mulher do diretor e musa, Zhao Tao) é a única mulher entre todos aqueles homens rudes e parece íntima de alguns deles. Distribui tapas nas costas e risos.

Enquanto isso, os frequentadores do clube dançam ao som do Village People, “YMCA”, muito animados.

Estamos em 2001 e a antiga China vai desaparecendo aos poucos, em meio a mudanças tecnológicas e de valores. Já se vê uma ocidentalização, a China abraça o capitalismo e os direitos humanos são desrespeitados. Começa a época das grandes movimentações de populações que são desenraizadas e perdem suas aldeias, seu trabalho e tem que recomeçar a vida.

Assim também como o país, os amantes vão enfrentar dissabores.

O que muda o destino de Qiao e Bin é uma arma que ele toma de um dos jogadores e guarda com ele.

Já no carro, são interceptados por uma gangue de rapazes de moto que tiram Bin do carro à força e estão dispostos a matá-lo de pancadas. Desesperada, Qiao pega a arma ilegal e atira para o alto, assustando a gangue. Salvou a vida de Bin mas sua recompensa é a prisão. Ela não delata o companheiro e diz que a arma é dela. É condenada a 5 anos de prisão.

Quando é libertada em 2006, Qiao vai à procura de Bin, que nunca a visitara na prisão. Mesmo sabendo que ele estava com outra, queria ouvir ele dizer isso a ela, frente a frente.

A cena mais bonita e que dá nome ao filme é mostrada duas vezes com a bela fotografia do francês Eric Gautier. Um vulcão extinto, no meio de uma verde paisagem de verão e outra no melancólico outono, faz Qiao lembrar-se de algo que leu:

“- Dizem que as cinzas tem o mais puro branco porque passaram por altíssimas temperaturas…”

Qiao, a maravilhosa atriz Zhao Tao tem a pureza das cinzas. Ela continua forte e leal. Sofre e sobrevive como a China, mesmo tendo que pagar um alto preço, parece dizer o diretor Jia Zhang-Ke, um grande observador da natureza humana.

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