Diário de um Jornalista Bêbado

“Diário de um Jornalista Bêbado”- “Rum Diary”, Estados Unidos, 2010

Direção: Bruce Robinson

Oferecimento Arezzo

Nuvens na tela. Um teco-teco vermelho voa sobre um mar azul ao som de Domenico Modugno cantando “Volare”.
Alguém sai da cama trôpego, caminha em direção da janela e abre a cortina. O sol entra e o aviãozinho passa. Johnny Depp, com cara de ressaca, lê a faixa “Bem-vindos Union Carbide”.
Imaginamos em que estado Paul Kemp, o jornalista, chegou ao hotel, porque o frigobar está arrancado da parede e jaz emborcado no chão do quarto de hotel.
Entra o garçom e, vendo o estrago, diz:
“- Sr, o que aconteceu? ”
“- Tentei abrir ontem à noite…ia reclamar com a direção do hotel…”, gagueja Kemp.
“- Mas a chave está em cima do móvel, Sr…”
Estamos em San Juan, Porto Rico em 1960.
“O Diário de um Jornalista Bêbado” foi adaptado do livro que o verdadeiro jornalista escreveu e que foi publicado em 1998. O filme é dedicado a ele. Hunter S. Thompson (1937-2005) fez um jornalismo que chamou “gonzo”, inovador, uma narrativa literária de fatos acontecidos. Johnny Depp, que já tinha feito o alter-ego de Thompson em “Delirios” (1998), foi seu amigo e o filme saiu de  tanto que ele insistiu. Está ótimo no papel, fazendo à perfeição um jornalista idealista, em principio de carreira, uns 30 anos e bebendo todo o rum que pode, misturado com todo o resto que lhe oferecem.
O dilema de Paul Kemp é trabalhar num jornal quase falido, escrevendo o que o editor (Richard Jenkins) manda ou aceitar as negociatas que um empresário sem escrúpulos oferece a ele.
Ao mesmo tempo, Kemp está abalado com o que vê acontecendo na ilha. Americanos explorando os locais. A frase de um deles ilustra bem a situação:
“- Porto Rico é fruto do genocídio e da escravidão.”
Por outro lado, o bonitão Sanderson (Aaron Eckhart) , o empresário que quer envolver Kemp em um projeto ilegal, namora Chenault (Amber Heard), uma loira estonteante, olhos turquesa e pele bronzeada.
Outra encrenca para o jornalista.
A dupla formada por Depp e Amber Heard tem química e ficamos torcendo pelo casal que encena um romance tórrido.
Há também uma parceria entre Kemp e outro jornalista, Sala (o excelente Michael Rispoli), a quem devemos as melhores cenas de bebedeira com drogas e um passeio hilário num carrinho caindo aos pedaços com Depp no colo de Rispoli.
Sem ser um filme homogêneo, “Diário de um Jornalista Bêbado”, diverte, além de mostrar um lugar de natureza deslumbrante, infelizmente estragado por um turismo predatório e especulação imobiliária
inescrupulosa.
Se você não se interessa por nada disso, pense que Johnny Depp, o mar azul, praias, palmeiras e a loira Amber Head valem o preço do ingresso.

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12 Horas

“12 Horas”- “Gone”, Estados Unidos 2012

Direção: Heitor Dahlia

Tudo começou naquela floresta de verdes e sombras por onde anda agora uma garota. Logo vamos ficar sabendo sobre isso.

Mas o que ela procura? Por que toca apreensiva o musgo que cresce no chão e nas pedras?

Ela segue pela margem de cascalhos de um pequeno rio até uma área abandonada de piquenique. Senta-se, abre um mapa e sinaliza uma região da Parker Forest.

A música instrumental (trilha sonora de David Buckley) preenche a sala de cinema e ouve-se como que um resfolegar baixo e sombrio. Ela olha assustada para os lados. Alguém segue aquela mocinha?

A câmara sobe e vemos que ela dirige seu carro por uma estrada ladeada por uma floresta de pinheiros. O dia finda. Já está começando a noite.

Escuro, sombrio e perigoso. Esse clima que se sente nas imagens da tela está na mente da moça ou é a realidade?

A bela Amanda Seyfried faz Jill, longos cabelos louros e olhos azuis assustados.

Descobrimos que ela foi sequestrada há menos de dois anos por um homem perigoso. E conseguiu escapar por pouco. Mas Jill acredita que ele continua agindo e que outras garotas não terão a mesma sorte.

A policia está descrente. Afinal Jill já foi internada num sanatório, toma remédios e nunca, nenhuma evidência foi encontrada sobre a história que ela conta sobre o sequestrador e o buraco na floresta.

Mas quando sua irmã desaparece (o “Gone” do titulo original), Jill vai viver doze horas perseguindo o “serial killer” que ela crê que levou Molly (Emily Wickersham) por vingança, porque ela sobreviveu ao sequestro. Só ela acha que vai conseguir encontrá-lo. Cenas em “flash- back” mostram Jill sendo amordaçada, no fundo do buraco… Delírio ou realidade? Esse é o gancho do roteiro que poderia ter sido melhor explorado.

O cineasta Heitor Dhalia é brasileiro e dono de dois filmes que agradaram à crítica, “O Cheiro de Ralo” com Selton Melo e “À Deriva”, uma tocante história sobre a adolescência, na qual atua o francês Vincent Cassel.

Mas parece, pelas entrevistas que deu aqui no Brasil, que Dhalia não ficou satisfeito com sua estréia em Hollywood com o filme “12 Horas”. Reclamou que o produtor não o deixou um minuto a sós com a atriz e que o filme é um produto do estúdio, que fez um suspense comercial.

“- Não consigo imaginar uma situação mais hostil de trabalho. Mas tudo que não mata, fortalece. Serviu para eu perder a inocência. “

Torcemos por ele, que, afinal, conseguiu dirigir Amanda Seyfried com talento. A atriz consegue passar o clima de suspense nos “closes” em seu rosto expressivo. E há belas tomadas noturnas, com luzes manchando a tela nas cenas de chuva.

Heitor Dhalia ainda vai fazer muita gente ir ao cinema para admirar seu trabalho.

Em “12 Horas” temos um filme que chega a prender a nossa atenção, com um final meio abrupto. Mas diverte. O que não é pouca coisa.

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