A Delicadeza do Amor

“A Delicadeza do Amor”- “La Délicatesse” França, 2011

Direção: David e Stéphane Foenkinos

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Uma charmosa ruazinha em Paris. Vemos, de costas, uma mocinha de rabo de cavalo, vestindo um casaco azul marinho com capuz. Anda com um passo leve e parece contente consigo mesma. Nem mesmo precisamos ver seu rosto esboçando um sorriso e os olhos sonhadores sobre a franja, para saber que ela está apaixonada.

Entra em um bistrô. Pega o menú.

Ao lado vemos um rapaz bonito que a observa.

Ouvimos os pensamentos dele:

“Se ela pedir um suco de abricô,vou até a mesa dela.”

Chega o garçom:

“- Por favor, um café”, diz ela.

E, depois de uma pausa:

“-Não. Um suco de abricô!”

Ele corre para ela e os dois saem abraçados.

“- Será que todos os casais visitam o lugar onde se conheceram?” pergunta ela.

“- Claro! Tem alguns que até acendem uma velinha!” responde rindo o rapaz.

Nathalie e François. Estão apaixonados e são jovens.

“- Você quer casar comigo?”

Ela olha para ele, agradávelmente surpreendida.

“- Eu deveria ter sido mais romântico, sabe, um jantar, velas, alianças…”

Dizendo isso, ele se ajoelha aos pés dela, beija sua mão e coloca um anel em seu dedo.

Muitas risadas porque é o anel do chaveiro dele.

“-Você vai ver! Vai ser o máximo ser minha mulher!”

A câmara gira em torno aos dois e a sequência do pedido de casamento se transforma. Os dois estão de branco. Noiva e noivo. Beijos.

Fotos polaroid, nas mais diversas poses dos dois, enchem a tela: esquiando, jantando, dançando, sempre sorrindo felizes para a câmara.

O primeiro amor de Nathalie (Audrey Tautou) é François (Pio Marmai). Ele é um príncipe encantado, o realizador dos sonhos dela, o que lê seus pensamentos, o belo e encantador François (Pio Marmai) .

Costuma ser assim todo o primeiro grande amor da juventude. É aquele amor idealizado, que não leva em conta o que o ser amado é, mas aquilo que gostaríamos que ele fosse. Amamos uma continuação romântica de nós mesmos. No fundo, amamos o amor.

Geralmente esse amor idealizado dura pouco e caímos na real.

Para Nathalie e François entretanto, não houve tempo para isso.

E ela se transforma perante nossos olhos. Corpo tenso, rosto fechado, roupas escuras e descombinadas, olhar vazio.

O luto pelo amor que não se viveu plenamente é sempre muito mais difícil do que chorar pelo amor que acabou.

Mas ela é jovem e três anos depois aparece Markus (François Damien), de quem ela tenta fugir.

“A Delicadeza do Amor”, dirigido pelos irmãos Foenkinos, fala do amor sem pudor e com simpatia.

O filme se baseou no livro “A Delicadeza” de David Foenkinos, que também é o roteirista.

E a gente sai leve do cinema, levando na memória o sorriso novo no rosto da atriz talentosa que é Audrey Tautou.

Ah! O amor…

 

 

 

 

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Flores do Oriente

“Flores do Oriente”- “Jin Ling Shí San Chai”, China/ Hong Kong, 2011

Direção: Zhang Yimou

 

Uma neblina densa cobre a tela. Ouvem-se ruídos de pessoas correndo em meio a escombros, fumaça e fogo.

Não conseguimos identificar ninguém. É uma massa que se mistura no cenário de horror. Fogem desesperados e sem rumo.

Mas a câmara aproxima-se mais e vemos um grupo de mocinhas, lideradas por um rapazinho (o ótimo Huang Tianyuan). Muito pálidas, vestem um uniforme cinza e correm como podem, evitando obstáculos de todo tipo.

Perto delas, um homem branco também corre, tentando não pisar nos corpos que se amontoam nas ruas.

Soldados japoneses enfiam seus fuzis com baionetas nos montes de escombros. Quando a baioneta sai ensanguentada, sinal de gente viva, atiram sem piedade.

Estamos na China em 1937. Depois de conquistar Shangai, o exército imperial japonês luta a última batalha com tropas chinesas na cidade de Nanquim, depois de 20 dias de bombardeios.

“Flores do Oriente”, o último filme do prestigiado diretor chinês Zhang Yimou, 56 anos, dos belíssimos ”Lanternas Vermelhas”1991 e “Clã das Adagas Voadoras”2004, conta o episódio da 2ª Guerra Sino-japonesa, que ficou conhecido como “O Massacre de Nanquim”.

No dia 13 de dezembro de 1937, tropas japonesas mataram milhares de chineses (estima-se um número que vai de 100.000 a 300.000 pessoas). Mas o pior da ferocidade desse massacre foi a caça dos soldados japoneses às mulheres chinesas, que foram estupradas e mortas sem piedade.

No filme, o agente funerário John (Cristian Bale) que tinha vindo enterrar o padre da Winchester Cathedral, refugia-se lá dentro com as meninas.

Logo, um outro grupo, muito diferente, procura abrigo na Catedral: as13 mulheres de um bordel de Nanquim.

Vestidas com roupas coloridas, acessórios extravagantes, muito maquiadas e com sua algazarra, faziam um contraste inesperado com as meninas de uniforme.

Protegidas por John, que se faz passar por padre, tanto as meninas como as prostitutas vão se unir, deixando os preconceitos de lado.

John encanta-se com a líder do bordel, Yo Mo (a linda atriz estreante Ni Ni) provocante e sedutora, com os lábios sempre vermelhos e o corpo insinuante num vestido “sexy”. Mas o amor não tem vez em uma situação angustiante de vida ou morte.

E, no entanto,no final, vai haver um sacrifício em nome de um amor mais generoso e mais solidário que o romântico.

O filme é baseado no livro “The 13 Women of Nanging” da escritora Yan Gelling, que nasceu nos anos 50 em Shangai. Zhang Yimou conta a história de um jeito que emociona e aperta o nosso coração, ao mesmo tempo que o diretor evita ser muito cru, filmando em câmara lenta e através de detalhes menos sórdidos, sem evitar o sangue e a violência.

A direção de arte é um ponto alto e a fotografia esplendorosa.

“Flores do Oriente” é um drama de guerra com um toque original que prende nossa atenção e nos torna solidários com os personagens.

Pena que alguns críticos qualificaram de “estetizante” a maneira de Yimou filmar esse terrivel episódio, ao mesmo tempo que o acusam de mostrar os japoneses de forma maniqueísta, como inimigos impiedosos.

O fato é que até hoje as relações entre China e Japão estão estremecidas e que os chineses tem horror aos japoneses…

Mas vá ver “Flores do Oriente” e julgue você mesmo.

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