Nada de Novo no Front
“Nada de novo no front”- “In Westen nicht newses”, Alemanha, 2022
Direção: Edward Berger
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Essa guerra era para ser a última. Mostrou-se o contrário. Estimulou a presença política de Hitler e foi berço da Segunda Guerra.
O filme, baseado no livro de Erich Maria Remarque, publicado em 1928, tendo como tema a Primeira Guerra, mostra como é terrível, para um jovem que se alistava com o coração inspirado pelo patriotismo e ufanismo, descobrir em plena trincheira que o que está em jogo é a sua sobrevivência.
Paul Baumer (Paul Kammerer,ótimo ator) 18 anos, sente na própria pele o horror para o qual não estava preparado. Tem que aprender a matar, fugir de tiros, bombas, granadas e lança-chamas. Pior, vai ter que lutar com as próprias mãos, sujar-se na lama, sangue de seus companheiros e dos franceses, os inimigos.
Tardiamente, tem uma experiência que o leva a refletir sobre o que é matar um outro ser humano.
A Primeira Guerra, no início do século XX, estimulava o ódio aos inimigos nos recrutas que não estavam preparados para viver aquilo que iriam viver. Morrer era algo impensável para aqueles jovens entusiasmados com o discurso patriótico de seus professores. Aliás, durante a guerra, o general alemão mostra em seu estilo de vida luxuoso, que não sujava suas mãos com sangue, mas mandava para as trincheiras os jovens, crianças ainda. Eram “bucha de canhão”. Viviam para morrer logo.
O filme, tecnicamente perfeito, tem uma beleza lúgubre. Nas imagens, campos escuros, lama misturada com dejetos e corpos mutilados, parecem quadro de museu. Vemos medo e pavor no rostos dos pobres combatentes e miséria em seu fim trágico.
É um filme pacifista? Ver os horrores da guerra nos torna pacifistas?
O filme mostra claramente que a guerra não suspende o sentimento de culpa de quem tem que matar. E denuncia que todo o sofrimento dos que lutam é em prol de políticas que querem o poder.
A última experiência que vimos acontecer entre a Russia e a Ucrania nos faz perguntar: como estancar essa carnificina?
Sigmund Freud, o pai da psicanálise, tentou responder essa pergunta que lhe fez Einstein em cartas desde 1927: “Por que a guerra?”
A resposta foi pessimista:
“Não há chance de que possamos suprimir as tendências agressivas da humanidade…talvez com uma educação para refletir sobre as consequências da guerra?”
Mais: “Quanto tempo teremos que esperar para que o resto dos homens se tornem pacifistas com uma educação que mostre as consequências de uma guerra?… Impossível dizer mas talvez nossa esperança de que dois fatores – a atitude cultural e o temor justificado das consequências de uma guerra futura – venham a resultar, dentro de um tempo possível, em que se ponha um término à ameaça da guerra.”
E Freud não se esquece de apontar o papel dos que lucram com a guerra.
É um tema que ainda nos desafia.