Fale com Ela

“Fale com Ela”- “Hable con Ela”, Espanha, 2002

Direção: Pedro Almodóvar

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No palco, Pina Bausch dança com sua companhia “Café Muller”, coreografia de 1978, que sempre toca as plateias com uma emoção forte. Ali, mulheres se chocam contra as paredes, ignorando cadeiras e mesas espalhadas pelo cenário. Um homem, em desespero, tira da frente de uma delas os obstáculos que podem machucá-la. Cega e assustada, ela se debate frente ao homem impotente e também assustado.

Sentados em silêncio, como que petrificados com a cena, dois homens são vistos em primeiro plano. Benigno (Javier Cámara), ao lado de Marcos (Dario Grandinetti), dois desconhecidos, sentem emoções, cada um a seu jeito. O enfermeiro Benigno observa as lágrimas silenciosas do jornalista Marcos. Parece encantado com a emoção do outro.

E logo vamos ao “Bosque”, uma clínica onde trabalha o enfermeiro e que será a cena principal onde aqueles dois homens irão se reencontrar.

Benigno cuida de Alicia (Leonor Walling), banhando e massageando seu belo corpo inerte. Ela está em coma há quatro anos já, depois de um acidente de carro. Benigno conversa com Alicia e está convencido que ela o ouve.

Já Marco, que terminara um relacionamento e ainda estava abalado, se envolve com Lydia (Rosario Flores), toureira que vemos, num flashback, luzindo seu traje de ouro, enfrentando sem medo touros na arena. Até que um deles a derruba por terra, ensanguentada. Em coma, é internada na clínica onde trabalha Benigno.

Marco fica paralisado naquele quarto onde Lydia jaz, viva mas imóvel e intocável. Ele está perdido. Tal qual o bailarino impotente que só consegue afastar mesas e cadeiras, mas mais nada consegue fazer por aquela mulher.

Os dois homens se encontram, se reconhecem e ficam amigos. Trocam confidências. Marco pede um conselho  e Benigno responde:

“- Fale com ela. Ela vai te entender. ”

A partir desse encontro, os quatro personagens vão viver suas vidas complicadas e em flashbacks, entremeados pela dor, desejo, loucura e amor.

Caetano Veloso canta lindamente “Cucurucucú Paloma” numa festa onde os convidados são amigos do diretor e roteirista Pedro Almodóvar, como Cecilia Roth e Marisa Paredes. Benigno e Marco estão lá também.

Pedro Almodóvar ganhou seu primeiro Oscar com esse filme e foi indicado também como melhor diretor. Quem sabe “Fale com Ela” seria também premiado como melhor filme estrangeiro? Infelizmente a Espanha não o indicou para o Oscar…

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Volver

“Volver”- Idem, Espanha, 2006

Direção: Pedro Almodóvar

Voltar ao passado. Reviver. Drama familiar. Adultério. Incesto. Sangue. Tudo isso e mais um pouco nesse filme do gênio espanhol.

Pedro Almodóvar começa a história voltando ao cemitério de La Mancha, sua terra natal. As viúvas, filhos e mães se ocupam limpando o túmulo de seus mortos como uma homenagem, uma lembrança do passado no presente. É um costume tradicional espanhol.

Raimunda (Penélope Cruz, bela como nunca e sempre) e sua irmã Sole (Lola Duenas) e a jovem Paula (Yohana Cobo) limpam as lápides, arrancam as ervas daninhas e pensam nos pais que morreram num incêndio. Ou pelo menos assim crê toda a vila.

Depois, elas visitam os vivos. Tia Paula vive só, velhinha, mas tudo está impecável. Como é que ela dá conta de tanto trabalho? A casa é grande e Raimunda insiste em que ela venha morar com ela e Paula. Mas a tia desconversa. Diz que é muito fácil para ela. Que tem a ajuda eventual de uma vizinha e que o armazém entrega na sua porta tudo que precisa.

E acontece a primeira aparição. Sole sobe ao quarto da tia Paula e vê sua mãe dormindo numa cadeira. Estranha, mas não se assusta. Cheira a bicicleta ergométrica herdada da mãe. Há sinais dela. Mas Sole se cala a respeito disso. Se a mãe apareceu para ela, há que respeitar esse fantasma (Carmen Maura, reaparecendo magnífica num filme de Almodóvar).

E são essas mulheres fortes, donas do próprio nariz, mas que facilitam a vida dos outros, que vamos ver presentes na tela. Os homens aparecem na figura tosca de Pablo

(Antonio de la Torre), marido de Raimunda, desempregado e desprezível. Uma faca vai terminar seus dias e nenhuma lágrima vai rolar.

Alberto Iglesias usa sua música para pontuar o trágico e o divertido da história.

Pedro Almodóvar conta, em muitos tons de vermelho, as intrigas e reviravoltas que homenageiam as mulheres que ele admira, aquelas que o viram nascer e crescer e que, agora, inspiram personagens em seus filmes.

No Festival de Cannes o roteiro foi premiado e as seis atrizes receberam um prêmio de atuação compartilhado.

Se você ainda não viu “Volver”, veja. Se já viu, volte e reveja.

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