Crimes de Família

“Crimes de Família”- “Crimenes de Família”, Argentina, 2020

Direção: Sebastián Schindel

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Um estreito corredor de ladrilhos e ao fundo, uma porta com um visor de vidro opaco. Há alguém se movimentando lá dentro. A porta se abre e uma mulher, quase que em silhueta, sai descalça e com passos lentos. Algo obscuro e sombrio é um sentimento que paira no ar.

Em seguida, a câmera mostra os retratos emoldurados da família, distribuídos entre os móveis da sala de estar. Uma casa de classe média alta, deduzimos.

Alicia (Cecilia Roth, uma das maiores atrizes da Argentina) recebe três amigas para uma aula de ioga e chá com bolos, em sua casa. Uma delas pergunta sobre o filho de Alicia, algo que a perturba mas que não é esclarecido. Um segredo?

Depois que saem as amigas, a dona da casa vai até a cozinha, onde comenta com Gladys, a empregada, que ela deveria começar um regime:

“- Você tem que se cuidar. Olha essa barriga … Não está grávida novamente, espero. Aqui não há lugar para mais um. ”

Mas um menino de uns 5 anos, que também está na cozinha, interrompe Alicia, que chama de “Tia”, para mostrar seus desenhos. Ela responde com carinho ao pedido da criança.

Toca o telefone. É um chamado do presídio. Daniel quer falar com a mãe. Qual será o crime que cometeu?

Na próxima cena, num hospital, Gladys pede ajuda mas não é atendida. Está algemada à cama. Outro crime?

Depois vemos Alicia e seu marido (Miguel Ángel Solá) que estão visitando o filho deles na prisão. Daniel é um rapaz jovem, bonito, cabelos e olhos claros mas com um semblante angustiado. A mãe o abraça e o pai pede que conte o que aconteceu.

“- Sempre a Marcela. Sabe como ela é. Não me deixa ver o meu filho. Eu fui na casa dela e ela fez um escândalo e me denunciou. Tem aquela coisa de não poder chegar perto dela por causa da sentença do juiz…”

Entendemos que Daniel estava preso porque tinha sido acusado de abuso e tentativa de homicídio por sua  mulher, de quem estava separado. Ela o acusava também de ser viciado em crack.

O diretor Sebastián Schinel, disse em uma entrevista:

“- É um filme sobre mulheres, uma história de três mães que são capazes de tudo por amor a seus filhos.”

Schindel baseou-se em dois crimes da vida real para escrever o roteiro. Tais crimes não tinham nada a ver um com o outro, salvo a questão de “agravo pelo vínculo”, ou seja, havia uma relação íntima entre o acusado e a vítima.

Schindel continua:

“- Decidi combinar dois casos que nada tem que ver para que aconteçam na mesma família que tem como matriarca Alicia, que vai ser a protagonista involuntária desta tragédia, na qual, talvez atuando com as melhores intenções, toma as piores decisões. “

A pandemia foi a responsável pelo lançamento do filme na NETFLIX e o diretor diz ter gostado dessa chance de mostrar seu filme a milhões de espectadores.

Que terminarão de ver o filme com olhos marejados.

“Crimes de Família” é comovente.

 

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A Duquesa I e II

“A Duquesa I e II”- “La Duquesa I e II”, Amazon, 2011

Direção: Salvador Calvo

Desde menina ela passava tempos admirando o quadro da Duquesa de Alba, sua antepassada, pintado por Goya. Dona de um rosto delicado onde os grandes olhos negros sobressaiam, num vestido branco, corpete vermelho, ostentando uma vasta cabeleira encaracolada, ela era uma lenda. Diziam que seu carisma enlouquecia os homens e que Goya teria sido seu amante.

Cayetana, como a chamavam, tinha mais de 15 nomes e era a única filha de Jacobo Fitz-James Stuart, XVII Duque de Alba. Não tendo herdeiros homem, o pai educou-a severamente para sucedê-lo.

A mãe era 20 anos mais nova que o pai, de 42 anos, tinha sido dama de companhia da rainha Victoria e só depois de 6 anos de casada nasceu a filha.

Cayetana perdeu a mãe quando tinha 8 anos e nunca foram próximas, porque tendo contraído tuberculose, ela afastou-se da filha para evitar contágio.

Essa mulher vai se tornar a mais titulada da Espanha e também a mais rica, com uma fortuna de 3.5 bilhões de euros.

A série da AMAZON, com duas temporadas de dois capítulos cada uma, conta a história dela, na juventude interpretada por Irene Visido e depois por Adriana Ozores.

Muito bem produzida, com locações reais e direção de Salvador Calvo (“Adu”), a série “A Duquesa” mostra os palácios, jardins com fontes e estátuas, a rica coleção de obras de arte onde brilhavam Rubens, Tiziano, Goya, o mobiliário de museu e os detalhes da decoração luxuosa com pesadas cortinas de seda adamascada, tapetes antigos e lustres magníficos.

Vamos vê-la como uma menina que era educada para enfrentar as dificuldades da vida não se esquecendo nunca da dignidade de um Alba. E depois uma jovem atraente e charmosa, que apreciava touradas e toureiros.

Veremos a história de sua vida e de seus dois casamentos. Houve um terceiro, aos 84 anos, não aprovado pelos filhos e talvez material para uma terceira temporada.

O primeiro casamento com o primo Don Pedro Luis Martinez de Irujo y Artézcaz (1919-1972), casamento por amor e não arranjado como era o costume na aristocracia, com quem teve 6 filhos e durou 26 anos até a morte do Duque. E o segundo aos 52 anos, também apaixonada, com um ex padre jesuíta, Jesus Aguirre y Ortiz de Zorate (1939-2001) que durou 23 anos até a morte do marido.

A Duquesa de Alba era alegre, dançava flamengo com graça e apreciava o mundo da sociedade aristocrática e também o da noite. Os paparazzi viviam atrás dela e eram frequentes seus retratos nos jornais e revistas. Vestia-se de forma exuberante, muitas vezes extravagante.

Cayetana, uma Grande de Espanha, sabia da autoridade que possuía, não apenas por suas posses e títulos mas porque ela era assim. Poderosa.

Nascida no Palácio da Lira em Madrid em 8 de março de 1926, a 18ª Duquesa de Alba faleceu no Palácio de las Dueñas, em Sevilla, aos 88 anos de idade.

A série merece ser vista. É a primeira vez que comento a AMAZON mas agora em diante vou seguir mais de perto a programação.

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