Casal Improvável

“Casal Improvável”- “Long Shot”, Estados Unidos, 2019

Direção: Jonathan Levine

Oferecimento Arezzo

Eles eram impensáveis juntos. Sem a menor chance de sucesso. E, no entanto…

Fred Flarsky (Seth Ragen) é um jornalista que escreve numa revista do Brooklyn. Ele é judeu e protesta contra as megaempresas de comunicação que estão matando o jornalismo de opinião. A dele é contrária ao “establishment”.

Além disso é uma figura folclórica, vestindo roupas espalhafatosas da Adidas e bonés dia e noite. Tem uma barba ruiva selvagem e parece esforçar-se para não ser diplomático, nunca.

Quando Fred Flasky é demitido ou melhor, pede demissão do emprego porque uma empresa daquelas que ele abomina comprou a revista, eis que ele está na rua. E vai chorar as mágoas com um amigo negro.

Os dois vão parar numa festa de gente rica onde vão tocar os Boys II Men, que Fred adora.

Também está naquela festa a Secretária de Estado, Charlotte Field (Charlize Theron mais bela do que nunca), que pretende ser a próxima candidata à Presidência da República, com o apoio do atual (Bob Odenkirk).

E a surpresa para todos é o olhar que Fred e Charlotte trocam, de repente.  E lá vem as cenas que explicam o que está acontecendo. Eles eram vizinhos e Charlotte foi baby-sitter de Fred, recém adolescente. E, um belo dia, Fred beijou aquela garota linda, um pouco mais velha do que ele.

Bem, como vamos ver, o passado dos dois já mostra que eles não são tão improváveis assim. Existe uma química antiga e que deitou raízes, que volta à cena e estimula aqueles dois.

O roteiro é esperto e cria situações engraçadas que colocam os dois sempre juntos e a sós. A mulher poderosa e disputada quer mais graça e liberdade com um homem que não se apavore com ela.

“Casal Improvável” é uma comédia divertida que não tem medo de ser politicamente incorreta.

Vá ao cinema dar um pouco de risadas com eles também.

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Eu Não Sou Uma Bruxa

“Eu Não Sou Uma Bruxa”- “I Am Not a Witch”, Inglaterra, Zâmbia, França, 2017

Direção: Rungano Nyoni

Um início abrupto. Ao som de Vivaldi e violinos, pessoas sacudindo num ônibus. Quando chegam ao seu destino, encontram uma cena surreal. Mulheres negras sentadas no chão, caladas.

Seus rostos tem marcas e pintura branca. De cada uma delas sai uma longa fita branca, presa nas costas e que se enrola em enormes carretéis.

“- Por que essa fita?”, pergunta o turista ao guia.

“- Para impedir de voarem.”

“- Mas até onde voariam?”

“- Até o Reino Unido. Voam para matar. Com a fita ficam inofensivas.”

A jovem diretora e roteirista, Rungano Nyori, 37 anos, nasceu em Lusaka, Zâmbia e foi criada no País de Gales para onde sua família se mudou. Este é seu primeiro longa. E nele ela denuncia a existência dos chamados “campos de bruxas”, onde vivem mulheres negras acusadas de bruxaria. Lá as condições de vida são desumanas e elas trabalham de graça em fazendas do governo.

A diretora visitou um desses campos em Gana e inspirou-se para escrever o roteiro do filme.

A história centra-se numa menina de 9 anos, órfã, acusada de ser uma bruxa.

As testemunhas depõem para uma policial. Um diz que sonhou que foi atacado por ela. Outra emenda dizendo que a água que tirara do poço perdeu-se quando a menina apareceu em sua frente. Outra ainda acrescenta:

“- Senhora, essa criança é uma bruxa. Coisas estranhas tem acontecido desde que ela chegou.”

Perguntada se é um bruxa, a menina não responde. Um feiticeiro também não consegue decidir e ela é levada para uma casinha onde passará a noite. E dizem:

“- Agora depende de você escolher entre ser uma bruxa ou uma cabra.”

Bruxas são propriedade do governo. E Shula vai ser usada por um agente do Ministério do Turismo e Crenças em julgamentos públicos onde deve apontar o culpado. E recebe oferendas que leva para o campo das bruxas.

Alguém num programa de televisão pergunta:

“- E se ela for só uma criança?”

Mas toda aldeia precisa de bodes expiatórios para colocar a culpa de tudo de ruim que acontece. O destino de Shula está selado.

O filme tem cenas belíssimas e poéticas, ao som de música divina. E Shula quase não fala. Seu olhar melancólico diz tudo.

O filme é um conto surrealista e ao mesmo tempo uma denúncia. Pobres crianças usadas por gente que não se importa com elas.

Pobre África.

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