O Castelo de Vidro

“O Castelo de Vidro”- “The Glass Castle”, Estados Unidos, 2017

Direção: Destin Daniel Cretton

Oferecimento Arezzo

O filme “O Castelo de Vidro” é baseado na história de vida da escritora Jeannette Walls, contada em seu livro de mesmo nome e que fez sucesso de público quando foi lançado.

Nele ela escreve sobre sua vida em família, recordações de uma infância difícil e a relação de amor e ódio vivida por ela com seu pai.

O filme coloca em imagens a família disfuncional, comandada pelo pai (Woody Harrelson) e a figura da mãe excêntrica (Naomi Watts), pintora, que não discutia as decisões do marido, muitas vezes prejudiciais aos filhos.

Brie Larson, Oscar por “O Quarto de Jack”, interpreta a filha mais velha dos quatro irmãos e a mais próxima do pai, que é a primeira que percebe o quanto ele prejudicava a todos, perseguindo suas ideias egoístas e mesmo delirantes.

Rex é um homem com muito conflitos. Alcoólatra, não aceita tratar-se. Promete construir para a família um castelo de vidro. Mas apesar do projeto empolgar as crianças, mesmo elas se dão conta do sonho irreal do pai. Apesar das boas intenções, o castelo sonhado era uma metáfora trágica para um pai que muitas vezes nem dinheiro tinha para alimentar a família.

Nômades e sem planos concretos para a sobrevivência, os filhos desse casal nem iam à escola. Constantemente mudavam de cidade, conforme o pai perdia o emprego. Viviam como ciganos, inclusive ocupando lugares abandonados.

Porém Rex fazia tudo parecer uma aventura excitante, sem calcular consequências. Mas o otimismo doentio de Rex Walls precisava de um pé na realidade porque, do jeito que o pai era, a sensação das crianças era a de que não eram protegidas.

Woody Harrison está muito bem no papel do pai perdido, ao mesmo tempo amoroso e cruel, já que não cumpria suas promessas de uma vida melhor para a família.

E Naomi Watts interpreta com sinceridade aquela que compartilha a loucura do marido, sem forças para mudar e proteger a si mesma e aos filhos.

Existem, infelizmente, muitas famílias parecidas com a de Jeannette Walls, mundo afora.

Ler Mais

Vestígios do Dia

“Vestígios do Dia”- “The Remains of the Day”, Reino Unido, Estados Unidos, 1993

Direção: James Ivory

Uma bela casa inglesa, no meio de um parque e jardins, será o cenário para um amor não vivido e uma escolha política enganada.

Anthony Hopkins, extraordinário ator, é Mr Stevens, mordomo em Darlington Hall desde os anos 20. Três décadas depois ele revive as lembranças de tudo que aconteceu naquele anos. E toma uma decisão.

Guiando um carro de luxo, emprestado por seu novo patrão (Christopher Reeves), ele vai rever a governanta da casa, Miss Kenton (Emma Thompson, maravilhosa).

Quinze anos se passaram. Stevens, fechado e exigente, se escondia atrás de uma armadura profissional. Não adiantou ela se mostrar abertamente apaixonada. Ele não ouvia e mudava de assunto. Ele se negava a reconhecer que poderia amar aquela mulher calorosa, inteligente e pronta para viver um romance.

É ele agora, arrependido, que percebe que não dá para ela voltar atrás. A vida dela seguiu em frente quando deixou Darlington Hall para não sofrer mais por causa do solteirão empedernido.

Enquanto um amor platônico fenece entre os criados, o dono da casa (Eduard Fox) recebe o Primeiro Ministro e outros simpatizantes do nazismo. Vai se arrepender também da decisão tomada. Mordomo e patrão dariam tudo para voltar atrás de suas escolhas. Mas o tempo não espera.

A história é de Kazuo Ishiguro, prêmio Nobel de Literatura em 2017 e o roteiro é de Ruth Prawer Jhabvala. “Vestígios do Dia” é um belo filme com interpretações emocionantes, locações muito bem escolhidas e direção de arte luxuosa.

E ensina que existem pessoas, lugares e coisas que perdemos porque deixamos para depois o que nunca volta.

Ler Mais