Um Fim de Semana em Hyde Park

“Um Fim de Semana em Hyde Park”- “Hyde Park on Hudson”, Reino Unido, 2012

Direção: Roger Michell

Oferecimento Arezzo

O garoto que atraia garotas com sua coleção de selos, não perde a mania, mesmo quando ele se torna o Presidente dos Estados Unidos.

Ele é Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), 32º Presidente do seu país, que serviu por quatro turnos, 12 anos, até sua morte. Enfrentou uma poliomielite, uma enorme crise financeira mundial e a Segunda Guerra. Lider do Partido Democrata, sua política liberal ficou conhecida com o nome de “New Deal”.

Ela é Daisy (Laura Linney), prima distante dele, na verdade Margareth Suckley na vida real, não especialmente atraente, mas dócil e tímida.

Numa tarde de primavera, o telefone toca na casa da tia dela, onde morava e a vemos ficar pálida:

“- Sinusite?” diz ela e ouve a convocação.

“- Alguém morreu?” pergunta a tia quando a vê arrumar-se apressada.

“- Não vou demorar”, responde lacônica.

Era a mãe dele (Elizabeth Wilson) que, depois de esgotar a lista de pessoas para entreter o presidente, lembra-se dela.

Primos distantes, ele não se recordava de Daisy mas a chama para sentar-se mais perto:

“- Sr Presidente?”

“- Coleciona selos, Daisy?”

Ela aproxima-se e ele serve-se de uma garrafa de prata escondida na gaveta.

“- Posso fazer isso porque minha mãe não está aqui” diz, como se fosse um garoto travesso.

A secretária Missy (Elizabeth Marvel) entra na sala sem bater, desculpa-se quando a vê e a olha com um olhar interrogativo.

“- Minha prima”, apresenta ele, enquanto assina o papel e a secretária sai.

Voltam aos selos.

“- Esse é lindo. Gostaria de ir para lá”, ela diz.

“- Onde?”

“- Para ser franca, gostaria de ir para qualquer lugar.”

Ele ri, com os olhos brilhando como os de um leão observando a presa.

E foram muitos passeios, no carro construido especialmente para ele, que tinha limitações com as pernas. Sempre fumando com a sua piteira elegante, ele a levava a passear no conversível preto.

E a vida dela passou a girar em torno às visitas dele a Hyde Park on Hudson.

Mas, quando o rei e a rainha da Inglaterra (Samuel West e Olivia Colman) chegam para um fim de semana em 1939, para conseguir a adesão dos Estados Unidos à guerra dos  Aliados contra a Alemanha nazista, Daisy descobre que é apenas uma sombra na vida dele.

Eleanor Roosevelt (Olivia Williams), a mulher do presidente, que não morava com ele, toma as rédeas da visita real e impõe sua vontade: jantar formal para o qual Daisy não é convidada e piquenique com indios e “hot-dogs”.

Passada a tristeza, Daiy decide que o melhor a fazer é contentar-se em ser um segredo.

O filme, dirigido por Roger Michell (“Um lugar chamado Nothing Hill”1999), tem uma produção de arte competente, figurinos bem escolhidos, locações no belo campo americano e um ótimo Bill Muray como o presidente.

Mas as melhores cenas não são com Daisy e sim com o rei, gago e inseguro, para quem o presidente se arvora em conselheiro paternal.

Essa estranha divisão em duas tramas, tira a força do filme, que não faz juz à fama conquistada por Roosevelt na política, contentando-se com fofocas sobre a vida do presidente e dos “royals” ingleses.

Mas, diga-se a verdade. O filme consegue entreter.

Ler Mais

Os Filhos da Meia Noite

“Os Filhos da Meia Noite”- "Midnight's Children”, Reino Unido/Canadá, 2012

Direção: Deepa Mehta

A India é um país diferente. Apaixonante para alguns, estranho para outros.

“Os Filhos da Meia Noite” é um filme para quem já adora a India e também para aqueles que tem curiosidade pelo país, sua história e seu povo.

O filme foi baseado no livro do mesmo nome, do escritor indiano Salman Rushdie, 66 anos, que nasceu na Cashemira e que foi responsável pelo roteiro e pela narração do filme.

Rushdie escreveu “Os Filhos da Meia Noite” em 1981, seu segundo romance, que ganhou o Booker Prize. Seu quarto livro, “Versos Satânicos”, 1988, foi centro de controvérsias e valeu ao autor uma sentença de morte, decretada pelo Ayatollah Khomeini em 1989, já que muitos muçulmanos se ofenderam com o livro. Desde então, Rushdie mudou-se para o Ocidente.

O filme foi dirigido pela indiana Deepa Mehta, 63 anos, radicada no Canadá, que assinou a direção de dois filmes indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro, “Terra”, 1998 e “Água”, 2005.

“- Era uma vez o meu nascimento em Bombaim, no momento em que a India encontra sua independência. Mas minha vida começou trinta anos antes de eu nascer, na Cashemira”, conta o narrador Saleem Sinai (Sathya Bhabba), no início do filme, na voz de Salman Rushdie.

“Os Filhos da Meia Noite” começa em 1917, quando o médico formado na Europa, Aadam Aziz (Rajat Kapoor) se casa e tem três filhas.

Anos depois, uma delas, Amina, está grávida e mora em Bombaim, hoje Mumbai, com o marido. Na hora do parto, ela está na mesma maternidade que Vanita, uma pobre artista de rua. As duas dão a luz a dois meninos, no exato momento em que a India se liberta da Inglaterra, na meia noite de 15 de agosto de 1947.

Só que a enfermeira do berçário (Seema Biswas), resolve trocar os bebês, influenciada pelas idéias de um amigo revolucionário:

“- Que os ricos sejam pobres, que os pobres sejam ricos.”

Assim, Saleem que era filho da pobre Vanita, vai parar nos braços de Amina, a rica filha do médico Aziz e o outro bebê, Shiva, filho verdadeiro de Amina, vai ser criado pelo artista pobre que pensa ser seu pai, já que Vanita morre ao dar a luz.

Salman Rushdie se serve da história dos dois meninos para falar da guerra entre India e Paquistão, que massacrou tanto indús, quanto muçulmanos, estes obrigados a sair de suas terras, numa equivocada partilha da India feita pelos ingleses ao decretar a independência da India, que em 1971 resultou na criação de Bangladesh, e na nunca terminada crise entre o Paquistão e a India.

E um elemento de realismo fantástico enriquece a narrativa, já que as crianças nascidas na data da independência, chamados de “Os Filhos da Meia Noite”, tem poderes mágicos. Uma metáfora de esperança que faz alusão à India como uma terra antiga, onde os deuses milenares do quotidiano são reverenciados.

Paisagens belissimas, cores deslumbrantes e uma trilha sonora que usa música indiana e ocidental, acompanham a narração dessa saga.

Se você for daqueles que gosta do exótico e da magia peculiares à India, não perca esse filme.

Ler Mais