Triângulo da Tristeza

“Triângulo da Tristeza” - “Triangle of Sadness”, Suécia, 2022

Direção: Ruben Oslund

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Você sabe o que é o “Triângulo da Tristeza”? É assim chamada a ruga que se forma entre as sobrancelhas, logo acima do nariz. Pode ser eliminada com uma aplicação de botox. Também conhecida como “ruga de preocupação”, não ficaria bem no lindo rosto de rapazes que desfilam para as pessoas que devem selecionar o modelo ideal para uma campanha comercial.

Carl (Harris Dickinson) é um rapaz bonito, de 24 anos, que talvez precise de uma ida a um cirurgião plástico? Não ainda, decidem os encarregados da escolha. Em todo caso, se a ruga aparecer, é fácil dar um jeito e eliminá-la.

O que não parece fácil é a relação que Carl tem com a bela Yaya (Charlbi Dean). Como ela é uma “top model” ganha mais do que Carl. Mas isso não a impede de querer que ele pague os jantares. Na verdade, o dinheiro não faz tanta falta para ela, mas sabe que a carreira nas passarelas e capas de revista é curta e instável.

E quando são convidados para enfeitar um luxuoso cruzeiro de gente super rica, aceitam sem pestanejar. De olho no cachê.

E ninguém poderia imaginar o que vai acontecer. Uma tempestade não esperada e um comandante bêbado fazem um jantar ir ladeira abaixo. E o barco idem. Adeus luxo, adeus pudor, adeus respeito.

Os sobreviventes vão dar numa praia de uma ilha deserta, desprovidos de tudo a que estão acostumados. Não há água, nem comida, nem conforto. Uma situação inédita na vida daquelas pessoas, incluindo o casal de modelos.

A tábua de salvação é uma camareira do barco que sabe pescar e fazer fogueira. Mas o preço que ela cobra é bem alto.

Indagado sobre o porquê de ter escolhido esse tema do deboche sobre os ricos inúteis, Ruben Oslund o diretor, responde que ele também é um privilegiado. E o que interessa a ele é questionar essa situação da qual faz parte. Chama de ”capitalismo desregulado” a maneira como vivemos.

“Triângulo da Tristeza” fecha uma trilogia de Oslund iniciada com “Força Maior” de 2014 e “The Square” de 2017, que questiona o patriarcado e o significado de ser homem nos dias atuais.

Oslund ganhou duas Palmas de Ouro em Cannes por “The Square” e “Triângulo da Tristeza”.

Por esse último foi indicado ao Oscar de melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro original.

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A Última Floresta

“A Última Floresta” - “The Last Forest”, Brasil, 2021

Direção: Luis Bolognesi

Um povo muito antigo, que já existia há 500 anos antes do descobrimento do Brasil, está desaparecendo.

Até pouco tempo atrás quase nada se sabia sobre os ianomamis, que habitavam o espaço ao sul da fronteira da Venezuela com o norte do Brasil.

Os ianomamis fazem parte dos povos originários que sobrevivem, alguns ainda isolados na Grande Amazonia, a floresta ameaçada que sempre os escondeu e alimentou.

Foram-se os tempos das ações de proteção aos indígenas da época dos irmãos Villas Boas. Devemos a eles o Parque Nacional do Xingu.

Demarcadas as terras indígenas ou a maior parte delas, não poucos se revoltaram com a ideia. Era muita terra para aqueles “primitivos”. E, no presente, com a aprovação de autoridades federais, essas terras indígenas foram invadidas por garimpeiros buscando ouro, rios envenenados por mercúrio, madeireiros destruindo a floresta, pescadores e caçadores ilegais e caminho do tráfico de drogas.

“A Última Floresta” é um filme que tem enredo de Luis Bolognesi e Davi Kopenawa, que também é o protagonista da história contada. Podemos classificar como um filme-documentário já que mostra a vida dos indígenas e encena mitos e sonhos.

O diretor Bolognesi explica: “Ao construir o roteiro, a gente percebeu que filmaríamos sonhos e mitos… Para os povos indígenas, de maneira geral, o universo dos sonhos e a realidade não tem a dicotomia que tem para nós. Muitas coisas que eles sonham à noite se reproduzem de dia.”

Davi Kopenawa, que é liderança na resistência de seu povo, e é também protagonista e co-roteirista do filme, fala nossa língua e exige que os garimpeiros saiam de seu território. Os ianomamis são os que cuidam da floresta onde vivem de modo econômico. Só caçam para sua subsistência.

Portanto o filme mostra como é vital escutar o clamor do povo ianomami que já perdeu muitos dos seus filhos pelas doenças que os invasores levam para as aldeias. Tais invasores não apenas destroem a floresta e rios. Matam seus desprotegidos habitantes.

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