Elvis e Madona

“Elvis e Madona”- Brasil, 2009

Direção: Marcelo Laffitte

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Lá vai ela de vestido estampado e casaquinho amarelo, salto alto, cabelo louro e muita atitude. Pelas ruas de Copacabana, passo firme, só dá Madona.

A outra chega de moto, rostinho de anjo, toda de couro vestida, jeitinho duro e olhar macio. É Elvis.

Essa dupla vai se encontrar e se encantar.

E a gente na platéia já não sabe mais quem é quem. Ela é ele? Ele é ela?

Não importa. Sentimos e vemos que são pessoas querendo viver, trabalhar, brilhar.

São artistas. Madona dá duro no salão, é cabelereira mas quer o palco. Elvis, que já foi burguesa, sonha em ser fotógrafa política mas rala entregando pizza de moto.

Copacabana, esquina do mundo, é o cenário ideal para o romance que parece impossível mas que acontece frente aos nossos olhos.

E, quando nos damos conta, estamos conquistados por essa dupla improvável e arrebatadora.

Nasceram Elvira e Adailton mas escolheram ser o que são agora, um par que se ama e nos surpreende com a força que o amor tem. E que dá fruto: Angel.

Igor Cotrim, que cria uma Madona com corpo e alma e Simone Spoladore que faz com delicadeza um Elvis bravo e manso, dão show de interpretação. Há tanta garra, emoção e coragem nos dois atores que eles não precisam nos convencer de nada. Ficamos seduzidos desde a primeira cena em que aparecem na tela.

Maithê Proença, numa ponta bem aproveitada, assusta e encanta com aqueles olhos que ela tem. Porque Elvis tem essa mãe poderosa e ama o pai frágil. Enquanto que Madona é órfã, não tem ninguém.

A direção de Marcelo Laffitte, que também é co-autor do roteiro (premiado no Festival do Rio 2010), é competente e firme. Não deixa o filme escorregar para o piegas e nem para a transgressão.

E a trilha sonora é deliciosa, culminando com Gilberto Gil e sua canção “Superhomem”.

“Elvis e Madona” é quase um conto de fadas. Misto de comédia e romance. Risos e beijos. Não percam.

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Borboletas Negras

“Borboletas Negras”-“Black Butterflies”, África do Sul/Alemanha/ Holanda, 2011

Direção: Paula van der Oest

A África, o “Continente Negro”, certamente guarda em segredo muitas histórias que ainda vão ser contadas. Pouco a pouco, o cinema ajuda a nos familiarizarmos com figuras quase desconhecidas por aqui.

Assim foi, recentemente, com Nelson Mandella, no filme “Invictus” (2010), dirigido por Clint Eastwood. Ficamos sabendo mais sobre a vida daquele que seria o primeiro presidente eleito da África do Sul.

Em seu discurso de posse em 1994, Mandella leu o poema “The Dead Child of Nyanga” de Ingrid Jonker, chamando-a de “africâner e africana”, louvando-a como uma mulher que, apesar de branca, clamou contra as injustiças sofridas pelo povo negro na África.

Um pouquinho de história para entendermos melhor essa frase de Mandella.

Africâners são os descendentes dos holandeses, chegados no século XVII no sul da África, e ingleses, franceses e alemães que vieram depois. Esses indivíduos desenvolveram uma cultura e língua própria. Lutaram contra as tribos de negros nativos e, depois de conquistar a costa, adentraram a terra, fundando repúblicas independentes, que foram unidas em 1910, com o nome de União da África do Sul.

O “apartheid”, regime de segregação racial, que tirava direitos civis dos negros, foi imposto em 1948, por um governo de africâners.

Voltando a “Borboletas Negras”, dirigido pela holandesa Paula van der Oest, o filme vai nos apresentar a essa mulher de quem falou Mandella, “africâner e africana”, espírito sensível e rebelde que, presenciando uma cena de rua na qual um menino negro morre por uma bala de um policial, escreve o poema que a fez conhecida até fora da África e que Mandella leu em seu discurso inaugural.

E sua história é triste. Nascida em 19 de setembro de 1933, ela teve uma vida breve e intensa. Morreu em 1975.

Viveu com a avó até sua morte e depois foi morar com a irmã menor e o pai. Casou-se, teve uma filha e separou-se logo.

Uma praia selvagem de Cape Town quase a afogou em 1960, quando foi salva das águas por Jack Cope, escritor bem mais velho que ela e que foi seu grande amor.

A morte da mãe em um hospital psiquiátrico quando ela era pequena e a relação tumultuada com o pai Abraham (Rutger Hauer), conservador e presidente do comitê de censura às publicações no país, marcaram profundamente Ingrid (vivida na tela cm intensidade pela excelente atriz Carice van Houten).

Ela foi uma alma atormentada, que buscava um lar e um amor, mas que não conseguiu encontrar a paz necessária para vivê-los.

Seu talento, entretanto, permanece em seus poemas.

“Borboletas Negras”, palavras tiradas de um desses poemas, nos apresenta a mulher que foi Ingrid Jonker, com todo o seu desespero existencial mas também com o espírito de justiça que ela tinha com os pobres donos da terra onde ela nasceu.

 

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