Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo

“Foxcatcher”- “Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo”, Estados Unidos, 2014

Direção: Bennett Miller

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A caça à raposa, “esporte” tradicional dos inglêses, é uma farsa. A pobre criatura, perseguida pelos cães que a farejam e os cavaleiros que atiram para matar e divertir-se, é solta de seu cativeiro um pouco antes da caçada começar. Ela está destinada à morte certa.

Quando vemos o filme de época em preto e branco, que passa antes dos créditos, mostrar claramente o que acontece com a raposa, passamos a temer pela vida de uma vítima no filme “Foxcatcher”.

Acontece que o milionário americano John du Pont (Steve Carell, assombroso) sonha em ter um time de luta-livre ou luta greco-romana, para ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988.

Ele se considera um patriota, herdeiro legítimo de sua família que vendia munição ao exército americano desde o início do século vinte. Possuiam a maior indústria química do mundo.

Em sua propriedade “Foxcatcher”, onde imperam os cavalos puro-sangue da matriarca (interpretada com corpo retorcido e olhos penetrantes, por Vanessa Redgrave, atriz imensa), o filho quer treinar um time liderado pelos irmãos Schultz, Dave e Mark (Mark Ruffalo, sempre competente e Channing Tatum surpreendente), ganhadores da medalha de ouro em 1984 nas Olmpíadas de Los Angeles.

Só que Dave, o irmão mais velho e treinador de Mark, não está disponível para se mudar com a família para Delaware. Bem que o milionário tenta trazê-lo. Mas só Mark aceita o convite.

O irmão mais novo está decadente, vivendo de sanduíches, numa casa acanhada, dando palestras por tostões em escolas da região. Para Mark, o chamado de John du Pont é a chance de tirar o pé da lama.

Mal sabe ele onde está se metendo.

De temperamento depressivo, auto-destrutivo, inseguro, ele embarca com gosto na vida que o milionário oferece como acompanhante de luxo, com total submissão a seu “pai, mentor e treinador” como John gosta de ser visto, com os apelidos de “águia e águia dourada”.

O bonitão Mark, ingênuo e necessitado de alguém que o use como um marionete, é argila nas mãos cruéis de John, que tenta agradar à mãe, que não esconde seu desprezo pelo filho.

A sexualidade doentia de John, combinada com bebida e drogas, dá vazão a uma crescente psicose.

Quando Dave entra em cena, o trio está completo para a encenação da tragédia.

Bennett Miller dirige o filme com talento, criando um clima de tensão desde o primeiro minuto. Seus magníficos atores interpretam com brilho a história, baseada em fatos reais, mas nem tão conhecida assim por aqui, como faz supor o título em português.

É uma encenação de arrepiar. O John du Pont de Steve Carell dá medo. O ator está irreconhecível. Ele encarna o milionário como alguém à procura de seu trágico destino.

Prêmio de melhor direção no Festival de Cannes desse ano, “Foxcatcher” foi indicado em 5 categorias no Oscar: melhor ator (Steve Carell), melhor diretor (Bennett Miller), melhor ator coadjuvante (Mark Ruffalo), melhor roteiro original e melhor maquiagem e cabelo.

Um ótimo filme.


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O Jogo da Imitação

“O Jogo da Imitação”- “The Imitation Game”, Estados Unidos, Reino Unido, 2014

Direção: Morten Tyldum

Histórias reais conseguem às vezes ser mais inacreditáveis que as de ficção. A do pai do computador, Alan Turing, é uma delas.

Garoto super inteligente e tímido, sofreu na mão dos colegas da escola inglesa. Até o dia em que um outro garoto, também inteligente, disse para ele:

“- Você sabe por que te perseguem? Porque você é diferente deles.”

A partir daí uma dupla estava formada e eles passavam papeizinhos um para o outro, em código, com problemas difíceis, para resolver por pura diversão. A aula de matemática era muito elementar para os dois.

Passavam horas conversando à sombra dos velhos carvalhos do parque. Conversas que só eles entendiam. Foi desse único amigo que Alan ganhou seu primeiro livro sobre códigos.

Mas, um dia, essa amizade chegou ao final. Alan foi abandonado e nunca mais teve alguém íntimo como aquele colega inesquecível.

Anos depois, ele consegue um feito impensável. Cria uma máquina que decifra as mensagens criptografadas enviadas pela Enigma, a máquina dos alemães, que mandava mensagens ao seu exército sobre quais seriam os próximos ataques aos aliados. Foi a máquina precursora do computador que Alan chamou Chistopher.

Por causa de Alan Turing, a Segunda Guerra terminou dois anos antes do que era previsto e por isso 14 milhões de vidas foram salvas.

Mas a humanidade não é grata. E sempre foi terrível com os diferentes. Com Alan Turing, foi especialmente cruel. Ele pagou um preço alto por ser homossexual.

Benedict Cumberbatch está assustador como o matemático Alan Turing. Trejeitos, manias, olhares e aquilo que ele tinha desde criança, uma frieza com relação aos colegas, que lhe era devolvida com um tratamento especialmente selvagem dos outros meninos e de um distanciamento dos outros adultos. Esses traços transformaram Alan num ser isolado, que Cumberbatch faz surgir na tela com talento.

Até que Keira Knightley aparece e, sendo uma moça tão inteligente quanto ele, tenta fazer dele um ser mais descontraído, menos desligado e perdido em seus pensamentos e um pouco mais simpático com as outras pessoas.

Ela gostava dele. Suas cabeças privilegiadas eram parecidas. Um casamento de mentes parecia ser possível e faria dele alguém menos diferente e mais aceito.

Mas para Alan Turing tudo isso era difícil. Ele não queria abrir mão da pessoa que ele era.

O diretor inglês Morten Tyldum, em seu segundo longa, constrói a história de forma não linear, com “flashbaks” perfeitos. O uso de cenas reais da guerra em meio a outras encenadas, não parece artificial e passa o clima de terror em que as pessoas viviam na Europa.

Em “O Jogo da Imitação” tudo é muito especial. A música do mestre Alexandre Desplat comunga com os sentimentos dos personagens, os figurinos são perfeitos, os cenários muito bem trabalhados. Tudo sem defeito.

E a história é contada num crescendo incrível que fascina a plateia. Não é de se espantar que o filme esteja em todas as listas de melhores do ano. E ganhou 8 indicações para o Oscar: melhor filme, diretor, ator,atriz coadjuvante, roteiro adaptado, edição, música original e desenho de produção.

Imperdível.

 

 

 

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