O Turista

“O Turista”- “The Tourist”, Estados Unidos, França,2010

Direção: Florian Henckel von Donnersmarck

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Tal qual uma pantera em sua selva, ela anda mansa e bela pelas ruas de Paris. Olhos verdes e longos cabelos castanhos, saltos altos e luvas de camurça finissima que lhe sobem pelos braços acima do cotovelo, o que está fazendo? Procura alguém? A uma certa altura da caminhada, olha as horas num reloginho de ouro que se entrevê pela abertura dos botões de pérola da luva.

O que faz essa deusa andar pela terra dos homens longe de seu Olimpo?

Pronto. Com esse começo atraente, já estamos fisgados por “O Turista”. Ou melhor, por Angelina Jolie que brilha na tela sem ter dito uma só palavra.

Todos os olhares a seguem. É inevitável. Muito bem maquiada e com um vestido beje (ou “nude”como chamam agora todos os tons que lembram carne), busto cingido por uma “écharpe” de gaze cor de tangerina que se ata na altura dos quadris e voa como uma bela cauda atrás dela, La Jolie está magnífica.

Colleen Atwood, ganhadora do Oscar, acertou mais uma vez e os figurinos são um espetáculo à parte.

Se bem que os dois vestidos longos são assinados pela famosa estilista Alberta Ferretti. Tudo muito chique. O branco, simples e bem cortado, valoriza o corpo de Angelina e é uma bela surpresa para os nossos olhos, quando ela tira o casaco suntuoso de veludo negro que usa na cena do jantar a dois com Johnny Depp. Já o que ela veste para o baile é delicado e realça seus belos ombros e o colar de brilhantes deslumbrante, no pescoço de cisne posto à vista pelos cabelos presos num coque armado.

Mais sexy do que nunca, ela rouba a cena em “O Turista”, refilmagem do filme francês “Anthony Zimmer: A Caçada”, dirigida por um alemão que ganhou um Oscar em seu filme de estréia “A Vida dos Outros”(2006), Florian Henckel von Donnersmarck.

Johnny Depp, o par romântico de Jolie, faz um professor de matemática tímido e divertido, encantado pela mulher misteriosa que ele conhece no trem Paris/ Veneza.

Parece que, por acaso, seu personagem é levado a participar de uma história que não tem nada a ver com ele. Mas, fascinado pela moça linda, ele segue em frente, como que hipnotizado. E se envolve com a Scotland Yard, a Interpol, agentes policiais italianos, seguranças russos, todos perseguindo Jolie, num jogo de gato e rato com muitas reviravoltas.

A cena de fuga pelos telhados de Veneza, com Depp mal equilibrado vestido num pijama bem comportado, é muito boa e faz lembrar Cary Grant e David Niven nos telhados de Nice, vestidos em smokings elegantes em “Ladrão de Casaca”.

E aqui, também, ninguém é o que parece.

A fotografia do filme é deslumbrante e aproveita a luz de Veneza, cenário perfeito tanto para tomadas do alto como percorrendo seus canais, mostrando-a afundando sob as águas escuras, toda ocre e pedras antigas.

Gondolas, lanchas velozes e um hotel famoso num palácio veneziano principesco onde brilham mármores raros, veludos vermelhos, espelhos e objetos preciosos são o toque sofisticado para uma história intrigante.

Mas é o par Jolie- Depp que prende a atenção. São dois astros ao estilo de outros que fizeram história no cinema americano. Toda vez que estão juntos na tela há uma atração no ar.

Não causa espanto o diz-que-diz que o filme causou.

Em seu blog, Johnny Depp não faz por menos:

“Angy é tão linda que eu poderia passar o resto da vida olhando para ela”, escreve com ares de inocência.

Por essa e por outras, quem sabe, Bradd Pitt não parecia à vontade na noite da entrega do Globo de Ouro. La Jolie, num longo esmeralda cintilante, não conseguia capturar o olhar do marido, frente às cameras de TV que mostravam o casal na platéia. Arrufos passageiros? É o que esperam os fãs dessa dupla imbatível no quesito beleza.

Tudo isso e mais as indicações para prêmios levarão muita gente ao cinema.

Poucos vão se impressionar por uma parte da crítica que malhou o filme porque cinema também é divertimento. E charme e beleza são sempre uma atração irresistível.

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Dieta Mediterrânea

“Dieta Mediterránea”, Espanha, 2009

Direção: Joaquim Oristelli

Esse é um daqueles filmes que você saboreia. Pertence a uma linha de cinema que faz sucesso explorando o tema da culinária: “A Festa de Babette”(1987), “Vatel, o Cozinheiro do Rei”(2000), “Estômago”(2007), “Julie e Julia”(2009), ”Comer Rezar Amar”(2010), para citar só alguns.

E parece certo que tais filmes são apreciados porque falam de uma arte necessária à vida prazeirosa. A cozinha, quando regida por pessoas dotadas, torna-se um lugar de descobertas, de transformações, onde sabores e cores são usados para deliciar nossos olhos e estômago.

Acrescente-se a isso uma bela pitada de sexo e temos “Dieta Mediterrânea”, um filme espanhol dirigido por Joaquim Oristelli.

“Salerosa”, Olivia Molina, a “chef” Sofia, ao redor de quem gira o filme, é uma morena atrevida, mandona e jeitosa. Encarna o eterno feminino, com tudo o que tem de matriarcado, num flexível corpo esguio e belos seios.

Ela é esposa, amante, mãe, filha e “chef” de cozinha. Segue a carreira do pai, para desgosto da mãe, Carmen Balagué, maravilhosa atriz de “Tudo sobre minha mãe” de Pedro Almodóvar.

E Sofia consegue fazer com que o seu talento seja reconhecido pelos grandes “chefs” europeus, entre os quais Ferran Adrià, que aparece em pessoa no filme.

Para quem não sabe, Adrià é o “chef” de um dos mais famosos restaurantes do mundo, El Bulli, que fica em Roses, na Costa Brava, Catalunha, ao norte de Barcelona. Usando novas tecnologias e buscando sabores inesperados aliados a texturas elaboradas, ele desenvolveu uma cozinha criativa que dá o que falar. Tem gente que faz reserva para conseguir mesa só um ano depois. El Bulli é famoso por seu menú degustação de 30 pratos, que convida as pessoas a provar sem saber o que estão comendo. Tudo pela descoberta de paladares adormecidos pelo quotidiano.

Mas o detalhe apimentado do filme é que Sofia é uma versão espanhola de nossa dona Flor, criação de Jorge Amado, vivida por uma inesquecível Sonia Braga nas telas.

As duas cozinham como deusas, são sensuais até a ponta dos dedinhos nas panelas e dão conta de dois homens.

Sofia escolhe esse destino, ao contrário de dona Flor, que parece sujeitar-se ao que acontece com ela, levemente constrangida, mas, secretamente adorando tudo aquilo.

A cena de Vadinho, o marido fantasma, nu pelas ruas de

Salvador abraçando dona Flor gingando ao lado do marido vivo, fecha o filme de Bruno Barreto de uma maneira magistral.

Em “Dieta Mediterrânea”, Sofia na cama, aprecia seus dois homens nus, em frente a ela, de costas para a platéia. A inspiração no filme brasileiro fica bem clara. Eu diria que é uma homenagem.

Mais que em “Jules e Jim” (1961) de François Truffaut, que é citado no filme, “Dieta Mediterrânea” se parece com “Dona Flor e seus dois Maridos” (1976). A diferença maior é que a “chef” Sofia, nascida em 1968, no dia do assassinato de Bob Kennedy, é mais contemporânea que a gentil professora de culinária dona Flor.

Mas longe de qualquer ousadia maior, “Dieta Mediterrânea” é um filme comportado que mais sugere do que mostra, em matéria de cama. Seu local predileto é a cozinha onde Sofia é a sacerdotisa a serviço do ritual de preparar a comida, a ser servida e apreciada.

O filme é contado através de um “flashback” que vai desde o nascimento de Sofia até o nascimento da narradora do filme, sua filha, que tem um nome muito peculiar.

Se vocês forem ver “Dieta Mediterrânea”, vão rir dessa última graça do roteiro de um filme

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