Wall Street – O dinheiro nunca dorme
“Wall Street – O dinheiro nunca dorme”, Estados Unidos, 2010
Direção: Oliver Stone
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Os megaespeculadores, assim como os tubarões, nunca dormem. Sempre atrás de fazer dinheiro a qualquer custo, gananciosos e aéticos, se dão bem seja nas “bolhas” do mercado financeiro, seja com as crises que acontecem de tempos em tempos.
Esse é o universo que Oliver Stone revisita em seu “Wall Street – O dinheiro nunca dorme“, ressuscitando seu personagem mais famoso, Gordon Gekko, que valeu o Oscar de melhor ator para Michael Douglas em 1988.
No primeiro filme, Gekko, rei de Wall Street, criava sua célebre frase “a ganância é boa”. Era 1987 e Oliver Stone retratava a época dos “yuppies” e da cobiça pelos bens de consumo. Ter um apartamento no melhor lugar da cidade, o melhor carro, a loura mais bonita e gastar dinheiro à vontade, era o sonho americano da época. Mas para Gekko virou pesadelo e ele acabou na prisão por crimes financeiros.
O novo filme começa em 2001 com o mesmo Gordon Gekko saindo da penitenciária onde ficara por oito anos. Ninguém o espera na saída. Visivelmente decepcionado, toca a vida.
Passam-se sete anos.
Estamos em 2008 e constatamos que, como bom tubarão, Gekko não desanimou. Vende o livro que escreveu na cadeia usando sua frase como título, agora com uma interrogação no final e dá palestras em universidades, divertindo a nova geração com suas tiradas irônicas.
Oliver Stone escolheu, como centro de seu novo filme, a crise econômica global de 2008 que levou ao colapso o sistema bancário americano.
O filme tem o mérito de mostrar claramente, mesmo para quem não entende de altas finanças, como se formou o que ficou conhecido como “subprime”. E Susan Sarandon dá um show de interpretação, fazendo a ex-enfermeira que vira corretora de imóveis e que, entrando no jogo das penhoras em cima de penhoras das casas que compra, se vê obrigada a apelar para o filho, porque chega um momento em que não consegue pagar as prestações no banco.
Mas há uma novidade em “Wall Street 2”. Nesse segundo filme há uma nota de otimismo com relação ao ser humano.
Em Manhattan não há sómente megaespeculadores e jovens corretores ambiciosos querendo ganhar bônus milionários. Gekko tem uma filha, Winnie (Carey Mulligan), que não quer ver o pai nem pintado e que escreve em um site sem fins lucrativos. Ela namora um corretor chamado Jake (Shia LaBeouf), que gosta de dinheiro mas se interessa por energia limpa. Ele se conscientiza da ganância criminosa de seus pares quando o banco em que trabalha é induzido a uma quebra de modo fraudulento. Em conseqüência disso, seu chefe e mentor se suicida (Frank Langella, excelente). Jake quer vingá-lo.
“Essa é uma história de família. Sobre pessoas buscando o equilíbrio entre o seu amor pelo poder e pelo dinheiro e sua necessidade de serem amadas por alguém”, diz Stone.
Dinheiro traz felicidade? Pode até ser. Mas, o jogo voraz da ganância pelo dinheiro a qualquer custo e a qualquer preço, traz também muita desilusão e um vazio feroz. O cínico personagem Bretton James (Josh Brolin) demonstra essa equação em que, da noite para o dia, a queda acontece e ele está sozinho no vácuo que construiu.
A cena mais irônica, na opinião do diretor, passa-se no Olimpo dos poderosos, o Metropolitan Museum, onde acontece um jantar beneficiente. Lá é a arena onde competem os muito ricos, através do brilho coruscante dos quilates nos pescoços e orelhas das mulheres na sala imponente. Desafiam-se e trocam informações privilegiadas que podem levar as ações de uma empresa a subir ou cair vertiginosamente.
Gekko, que conseguiu a entrada de U$10.000,00 com o namorado da filha comenta:
“Se jogassem uma bomba aqui hoje à noite, não sobraria ninguém para governar o mundo.”
Alguns viram no final de “Wall Street – O dinheiro nunca dorme“ um cacoete americano. Para mim, Oliver Stone, que admirava seu pai, corretor da Bolsa de New York dos anos 30 aos anos 70, faz uma homenagem aos homens de bem que, também, como os tubarões, nunca deixarão de existir.