O Primeiro Homem

“O Primeiro Homem”- “First Man”, Estados Unidos, 2018

Direção: Damien Chazelle

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Como é dura a vida de um astronauta. É preciso muita coragem para entrar naquele primeiro módulo que aparece. Tão frágil. Chacoalhando tanto que parece que vai desintegrar. O perigo é palpável.

Estamos em 1961. Começou a corrida espacial e os Estados Unidos quer bater a União Soviética. Quem vai chegar primeiro à Lua?

Neil Armstrong (1930-2012) é Ryan Gosling (no tom exato) e no começo do filme vive um drama pessoal. Sua filha Karen, de dois anos, tem um tumor cancerígeno. Ele e a mulher, Janet (Claire Foy, ótima) demonstram a dor e a impotência diante da filha que chora no colo do pai.

Depois do enterro, durante o jantar tradicional, vemos Neil com a pulseirinha de contas da filha na mão e, pela janela, a Lua branca no céu. Chora copiosamente.

Esse é o começo do trajeto do homem que vai ser o primeiro a pisar na Lua. Todos nós sabemos onde estávamos naquele momento. 400 milhões de pessoas ao redor do mundo estavam na frente da TV, vendo o espetáculo. E ele disse para nós ouvirmos: “Foi um passo pequeno para o homem mas um salto gigantesco para a humanidade. ”

Mas não foi fácil. Nem para a NASA nem para os homens que sonhavam com essa missão. Muitos ficaram pelo caminho, em acidentes terríveis. Todas as mulheres de astronautas eram viúvas em potencial.

Em 1962, Neil Armstrong, que era piloto de provas e engenheiro, foi selecionado pela NASA, mesmo sendo civil, para fazer parte da equipe que vai ser treinada para o projeto Lua, primeiro o Gemini e depois o Apollo II, que só vai acontecer em 1969.

O diretor Damien Chazelle, o mais jovem a ser premiado com o Oscar com seu filme “La La Land”, aos 32 anos, no ano passado, mostra sua sensibilidade em “O Primeiro Homem”, ao trazer o espectador para dentro do módulo espacial. Sentimos o mesmo medo de Neil Armstrong quando as coisas não vão bem. A câmera colada no capacete do astronauta faz a gente se sentir lá dentro, com ele, passamos pelo suspense todo e, ao mesmo tempo, percebemos a mente trabalhando para recuperar o controle da nave.

E a música de Justin Hurwitz, colaborador de Chazelle em “La La Land”, quando ganhou também seu Oscar, é perfeita. Até na escolha da valsa quando o módulo gravita em torno à Terra e lembramos de Kubrik e seu “2001”.

As cenas na Lua são rápidas mas grandiosas. O imenso deserto cinza com crateras negras, a Terra azul lá embaixo e o pé de Neil pousando sobre um pó fino. Silêncio. E ele vai deixar uma lembrança amorosa na Lua.

O filme é inspirado no livro de James R. Hansen mas o roteiro de Josh Singer privilegia o lado íntimo do homem Neil Armstrong, de poucas palavras mas afetivo com os filhos e mesmo com os outros astronautas, seus companheiros.

Com sua mulher Janet, existe uma liga forte, ela dando a impressão de ser em casa tão corajosa quanto o marido nos céus. Ela verbaliza as emoções caladas do marido e tanto o estimula quanto recua. E a cena final do casal é linda e marcante.

“O Primeiro Homem” é um filme que é uma vida e uma aventura fantástica compartilhadas.

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Amar

“Amar”- Idem, Espanha, 2017

Direção: Esteban Crespo

Todo amor na juventude tem algo de Romeu e Julieta. Um pouco de drama também vamos ver nesses namorados jovens de “Amar”.

No caso do filme de Esteban Crespo, diretor espanhol que já ganhou um Oscar por um curta metragem, e aqui estreia seu primeiro longa, o amor é menor do que a atração física.

Laura (Maria Pedraza, muito linda) e Carlos (Pol Monen) tem 17 e 18 anos e se amam como se o mundo fosse acabar. A cena inicial já mostra uma necessidade de fusão de Carlos, que inventou uma dupla de máscaras contra gazes unidas. Os dois respiram o mesmo ar.

“- Quero respirar você! ”

Ou seja, quero ser o ar que você respira. Não posso viver sem você.

Aqui já podemos pensar como esse amor é obsessivo, já que um não pode ficar sem o outro. E a verdade é que são adolescentes e a sensualidade está à flor da pele.

Logo os vemos na cama, aproveitando que a casa da tia está vazia. Carlos diz que trouxe um presente mas que não é para abrir agora. Ela desobedece e quando abre a caixa azul diz meio brincando:

“- Mas eu já tenho um…”

“ – Mas não é para você ” responde ele.

Ouve-se a voz da tia que volta para pegar algo esquecido mas sai logo. Os dois se calam mas logo recomeçam.

No dia seguinte ele vai buscar Laura na escola e uma colega corre atrás, trazendo a sacola com a caixa azul que ela esquecera na sala de aula.

“- Você abriu a caixa? “

“ Não! Por que esse interrogatório? “

E Carlos com a cara fechada joga a sacola no lixo da rua. Sentindo-se culpado, fica paranoico achando que Laura teria contado sobre o conteúdo da caixa azul para suas amigas e agora toda a escola já sabia do assunto.

O certo é que o ciúme de Carlos, companheiro da sua suposta culpa por causa do objeto que estava dentro da caixa azul, vai envenenar o amor deles. A insegurança do rapaz o leva a atormentar Laura e o clima pesa entre eles.

Dão um tempo mas não conseguem ficar separados. E o pior é que, quando estão juntos, o ciúme de Carlos e a necessidade de se afirmar como homem, faz Laura ficar triste e ressentida, enquanto ele mergulha na depressão.

Amores de juventude, principalmente quando há satisfação no sexo, tendem a acabar porque há tanta vida ainda para viver. Estão no início de tudo que vai acontecer. E falta maturidade para enfrentar os desafios naturais de toda relação amorosa.

Mas vale a pena ver o filme e recordar essa época de nossas vidas.

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