Estrelas de Cinema Nunca Morrem

“Estrelas de Cinema Nunca Morrem”- “Film Stars Don’t Die in Liverpool”, Reino Unido, 2017

Direção: Paul McGuigan

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Vamos conhecer a história real de uma estrela do cinema dos anos 40 e 50 e um ator inglês, 29 anos mais jovem do que ela, que vivem um romance quando ela estava em seus últimos anos, mas não sabia.

Gloria Grahame (1923-1981), entre outros filmes, estrelou “It’s a Wonderful Life”, em 1946, com Jimmy Stewart, fazendo uma loura petulante. Recebeu sua primeira indicação ao Oscar pelo papel de uma prostituta em “Crossfire” em 1947. Com Humphrey Bogard foi a estrela de “Lonely Place” em 1950, dirigida pelo segundo marido, Nicholas Ray.

Em seu currículo ainda constam “The Great Show on Earth”,1952, dirigida por Cecil B. de Mille, que ganhou o Oscar de melhor filme do ano.

“The Bad and The Beautiful” deu a ela seu único Oscar de melhor atriz coadjuvante em 1952. Fez ainda “The Big Heat” com Lee Marvin em 1953 e “Oklahoma”, 1955.

Sua carreira no cinema terminou em 1960 mas ela continuou a atuar no teatro e na televisão.

Morreu jovem, aos 57 anos. O filme foi baseado no livro de Peter Turner, seu jovem e último amor, escrito alguns anos depois da morte dela.

A primeira cena dos dois no filme é deliciosa. Dançam a música de “Saturday Night Fever – Os Embalos de Sábado à Noite”, no quarto dela, numa pensão em Londres em 1979, onde o dois estavam hospedados. Ela o convoca no corredor para ser seu parceiro em sua “aula de dança”. Um clima de sedução envolve os dois e a química entre eles é perfeita.

Annette Bening entrega-se com paixão ao papel da atriz quando sua carreira estava em decadência, esquecida por quase todos. Cheia de vida, casada 4 vezes, com 4 filhos entregues aos ex maridos, vive um romance ardente com Peter, um verdadeiro amor, que adoça seus últimos dias.

Peter Turner, vivido por Jamie Bell de “Billy Elliot” de 2000, comove com sua interpretação delicada e amorosa, cuidando da atriz com desvelo e levando ela para sua casa, em Liverpool, onde sua mãe (Julie Waters) trata de Gloria como se fosse sua filha.

Fica na memória de espectador uma das últimas cenas, no palco de um antigo teatro londrino vazio, onde Gloria e Peter vivem um trecho de “Romeu e Julieta” de Shakespeare, o papel que ela sempre desejou ter feito.

“Estrelas de Cinema Nunca Morrem” é um filme belo e comovente, com interpretações apaixonadas.

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O Terceiro Assassinato

Direção: Hirokasu Kore- Eda

A cena abre com dois homens andando na noite num campo deserto, à beira de um rio. De repente, um deles ataca o outro com golpes na cabeça. Depois, joga gasolina no corpo e põe fogo. Essa cena vai aparecer outras vezes durante o filme, inclusive com um outro autor.

Mas Misumi (o extraordinário ator Yakusho Koji) confessa o crime. Matou o patrão, dono da fábrica onde trabalhara e fora demitido. Acontece que esse é o terceiro assassinato que o homem assume. Já tinha cumprido 30 anos de prisão por causa da morte de dois agiotas.

No Japão, a pena de morte é aplicada, apesar do protesto popular. Talvez o grande cineasta Kore-Eda, 56 anos, famoso por seus filmes sobre a família (“Pais e Filhos”2013, “Nossa Irmã mais Nova”2014), mudou de assunto em “O Terceiro Assassinato” para ajudar o clamor contra a pena de morte.

No filme, o advogado de defesa, jovem, filho de um juiz aposentado que julgara o mesmo réu nos crimes anteriores e o livrara da pena capital, Shigemori (Fukuyama Masaharu), foca sua estratégia de atuação em entrevistas com pessoas que conheceram a vítima e o réu, para poder livrá-lo da pena de morte e transformá-la em prisão perpétua.

Acontece que o réu, Misumi, surpreendentemente, muda sua versão dos fatos a cada entrevista que tem com o advogado no parlatório da prisão, que separa os dois homens por um vidro. Às vezes, os rostos se sobrepõem, o que aproxima os dois homens, aparentemente tão distantes.

Mas por que Misumi altera suas versões sobre o que acontecera? Ninguém sabe. Só ele. O fato é que somente sua própria confissão o condena, já que não há testemunhas do crime. E se ele muda constantemente a história, como defendê-lo?

O filme é longo, com muitas falas. Entramos num labirinto de depoimentos que aponta cada um para um lado diferente. Mas o advogado de defesa decide levar adiante essas conversas, apesar de sua estratégia inicial não ter nada a ver com conhecer a verdade, mas sim com o objetivo de livrar Misumi da morte certa.

Kore-Eda volta a seu tema preferido, a família, para orientar as investigações do advogado. Assim, ele vai até a casa da viúva da vítima, que ainda não recebeu o seguro pela morte do marido. Ali fica conhecendo a filha do industrial morto, Sakie (Hirose Suzu, de “Nossa Irmã mais Nova”) e descobre que, estranhamente, ela conhece bem o réu.

Visita também a proprietária da casa que Misumi alugava e fica sabendo de mais coisas sobre ele. Os operários que trabalhavam com Misumi na fábrica também são ouvidos.

Enquanto isso, o juiz, pai do advogado de defesa que livrara Misumi da pena de morte no passado, muda de opinião e acha que ele merecia a pena naquela época, o que teria evitado o terceiro assassinato.

Ou seja, a verdade se esconde e cada depoimento aumenta a desconfiança do advogado de que o réu é inocente. Mas ele parece não se importar com sua própria sorte. Será que ele está confundindo a justiça para encobrir outra pessoa?

O filme é humanista e se interessa mais pelas pessoas do que com a verdade, sempre relativa. Assim, acusa a justiça dos tribunais de não se importar com o destino dos réus, levanta a cortina que esconde relações familiares incestuosas, denuncia práticas comerciais indecorosas e interesses financeiros escusos.

Um filme para poucos. Requer muita atenção nos diálogos. Interessará aqueles que gostam de percorrer os labirintos da mente humana e que se fazem a pergunta: temos o direito de julgar os outros?

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