Ehrengard: A Ninfa do Lago

“Ehengard: The Art of Seduction”- “Ehengard: A Ninfa do Lago”, Dinamarca, 2023

Direção: Bille August

Oferecimento Arezzo

Quando sensibilidade artística, talento e competência se unem para transformar uma história escrita em imagens de cinema, vemos surgir uma  ficção, com sabor de verdade.

Foi isso que aconteceu quando a Rainha Margrette II da Dinamarca começou, em 2010, a fazer decupagens, ou seja, recortes de cenas em fotos coladas que fazem surgir paisagens irreais. Ela pensava na história de Ehrengard, escrita por Karen Blixen, autora dinamarquesa. Vimos no cinema um pedaço da vida dela na África no filme “Out of Africa- Entre Dois Amores”, estrelado por Meryl Streep e Robert Redford.

A Rainha chamou o cineasta dinamarquês Bille August (“Pele, o Conquistador”, “A Casa dos Espíritos”, “Os Miseráveis”) e começaram os dois a conversar e imaginar como seria o filme.

As decupagens da Rainha, belíssimas, foram o solo artístico para o diretor começar a pensar nos personagens, a apresentar atores e atrizes para a Rainha dar o seu palpite e escolher as locações.

A Rainha, grande conhecedora dos castelos da Dinamarca apresentou os que considerava mais condizentes com a história, que se passava em1830.

Vemos no filme o trabalho de imaginação e concretização de um sonho da Rainha, que colaborou estreitamente também na confecção dos figurinos, desenhados por ela.

Sidse Babett Knuden (“Borgen”) que faz a Grã Duquesa é uma grande atriz que empresta seu humor e sensualidade ao papel. Ela nos faz rir no “making of” do filme.

Alice Brer Zandem, com seus sérios olhos azuis, encarna a ninfa do lago à perfeição. Uma mulher forte e frágil. Ela é a protagonista, alvo da cobiça do sedutor Casotte (Mikkel Boe Folsgaard), que quer pintá-la e o faz às escondidas.

Vejam o filme e se deliciem com “Nos bastidores de Ehrengard: A Ninfa do Lago”, o making of do filme  também na NETFLIX .

Ler Mais

Infâmia

“Infamia”- “Infâmia”, Polonia, 2023

Direção: Anna Maliszewska

Uma garota raspa os cabelos na tela em close. Vozes femininas a condenam e ela chora. O filme começa pelo fim.

Mas vamos voltar ao princípio da história de Gita, morena bela, cabelos pretos ondulados, um rosto onde brilham olhos cor de mel, boca carnuda. Ela é cigana e tem 17 anos.

Vemos quando a família dela, pai, mãe, irmão e irmãzinha deixam o País de Gales e voltam para a Polonia onde a família maior vive num casarão. Gita está triste por deixar seus amigos.

Aliás o motivo de voltarem para a Polonia, Gita ainda não sabe. Os pais, endividados, fizeram um trato. A filha vai ter que casar-se com o filho de um cigano rico que tem negócios escusos. O pai dela é viciado em jogo e perde sempre. Foi um dos motivos que obrigaram a família de Gita a sair da Polonia.

Mas agora, o casamento vai abrir as portas do casarão e os abraços virão.

Gita Burano gosta de música e de cantar. Tem uma bela voz. Compositora de rap, ela vai contar muita coisa através de suas canções.

Contrariando a família vai matricular-se na escola assim que chegam.  É importante para ela ter amigos de sua idade.

É aí então que, apesar de sua rebeldia, Gita vai ter que submeter-se às leis não escritas pelas quais vive o seu povo. A família tem que vir antes de tudo e cabe à mulher ter filhos, cuidar da casa e dos homens. Tem que usar saia, não pode maquiar-se e sair sempre acompanhada. E o principal é manter-se pura. Casar-se intacta. Do contrário é infâmia.

O filme traz as cores que os ciganos usam, joias, cantos e danças. Violões, violinos e sanfonas animam as pessoas.

Mas, infelizmente, fica claro o preconceito que os ciganos sofrem, vistos sempre como ladrões e mentirosos. Há uma incompatibilidade dos ciganos e dos outros povos com quem convivem à distância. Vieram do norte da Índia séculos atrás. Eram nômades. E conservaram sua cultura nos lugares  onde viveram. Crimes de ódio contra essa comunidade não são raros.

Durante a Segunda Guerra foram mandados para os campos de concentração nazistas e muitos morreram. Uma história de ódio e racismo sempre cercou os ciganos.

Zofia, a atriz que encarna Gita é fotogênica e carismática. Quando ela aparece, ilumina a tela com sua intensidade. A diretora é talentosa e as cenas, mesmo as mais banais, são vividas com emoção pelos atores. A direção de arte e a fotografia ajudam a criar um clima romântico, sensual e dramático.

“Infamia” tem 8 capítulos e é comovente, nos envolvendo com a história bem contada. Ela nos aproxima de um povo desconhecido pela maioria, que não imagina que no Brasil vivem 500.000, distribuídos em três etnias Calon, Roma e Sinti, com acampamentos em 21 estados brasileiros, principalmente Goiás, Bahia e Minas Gerais.

Vamos apoiar de algum modo os que lutam por direitos civis para esse povo tão injustiçado?

Ler Mais