Noite do Oscar 2022- 94a Edição

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Eleonora Rosset

Foi uma noite que tentou voltar aos dias brilhantes de  Hollywood. Lembraram de “Godfather”, “Cabaret”, “Juno”. Teve até Liza Minelli um pouco esclerosada.

Mas o cinema, como tudo nesse mundo, sofreu demais nos últimos anos. As poucas salas frequentadas que o vírus assombrou, com telas enormes, som atordoante e público que só gosta de super-heróis não entenderia o que estava acontecendo naquele teatro, o Dolby Theater, em Los Angeles.

Por que? Acho que o público que eles querem agradar não somos nós que ficamos acordados até tarde e torcemos por nossos preferidos. As multidões que eles querem conquistar não se interessam pelos mesmos filmes, atores e diretores que ali estavam.

Por isso havia algo no ar que tomou Will Smith, levando ao soco e a seu discurso, o rosto banhado em lágrimas. Ele personificou a revolta, a tristeza e o luto por esse mundo que o coroou melhor ator. Lá no fundo ele e todos naquela sala entenderam o que está acontecendo.

E, no entanto, há esperança e amor pelo que o cinema faz conosco. Ainda existem pessoas que veem os filmes e encontram consolo e inspiração em suas mensagens. Mas não é o que acontece com “Duna”, um filme esteticamente assombroso, messiânico, que se passa num futuro distante, que ganhou 6 Oscars técnicos (som, fotografia, efeitos visuais, trilha sonora, montagem, direção de arte) se não me engano, porque confesso que houve momentos em que me desliguei do que acontecia. E não fui só eu.

Ariana DeBose que canta e dança como uma deusa foi a melhor atriz coadjuvante. Merecido. Brilhou em “Amor Sublime Amor”. Jane Campion, a diretora neozelandesa de “Ataque dos Cães”, finalmente foi reconhecida. Foi a terceira mulher a ganhar nessa categoria.

“Encanto”, a melhor animação colombiana da Disney tem música, dança e perda de poderes mágicos. Uma tristeza no ar. Encontro com a nossa fragilidade.

Jessica Chastain, melhor atriz por “Os Olhos de Tammy Faye”, fez um discurso pungente, pedindo que as pessoas pensem nos suicídios que estão acontecendo e no clima de medo que todos sentimos.

“Coda – No ritmo do coração” ganhou 3 prêmios: roteiro adaptado, melhor ator coadjuvante (Troy Kotsur, ator surdo, o primeiro a ganhar Oscar) e melhor filme. Quando eu o vi não sabia que era remake de um filme francês “A Família Bélier “. Fui atrás e gostei muito. Foi grande sucesso de público na França. Faltam bons roteiros em Hollywood?

Finalmente, o filme internacional vencedor, “Drive My Car”, foi um exemplo de cinema com roteiro, atores e diretor maravilhosos. Fazia tempo que um filme japonês não era lembrado no Oscar. Um cinema de mergulho profundo na natureza humana e no trabalho de luto necessário frente a perdas e a culpa que sempre está presente, mesmo que deslocada no tempo.

“Belfast” ganhou melhor roteiro original para Kenneth Branagh e suas memórias de guerra na Irlanda de onde sua família teve que fugir. Um momento de lucidez. Aplaudido de pé.

No fim pensei em como foi estranho dançar e cantar enquanto desfilavam os nomes dos que se foram num “In Memoriam” destoante mas na onda da negação.

Sinal dos tempos.

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Amor Sublime Amor

“Amor Sublime Amor”- “West Side Story”, Estados Unidos, 2021

Direção: Steven Spielberg

Desde criança o diretor Steven Spielberg, 75 anos, um dos grandes do cinema, gostava desse musical, seu preferido. Assistiu no teatro, ainda muito jovem, o “West Side Story” de 1957, sucesso da Broadway, em Phoenix, Arizona, levado pelos pais. Não foi à toa que dedicou esse remake a seu pai. Devia ser o preferido dele também.

Mas claro que o filme de 1961, também baseado no musical da Broadway, ficou muito mais conhecido por onde passou.

Natalie Wood, encantadora, era Maria, a porto-riquenha que foi dublada por Marnie Nixon, uma voz de anjo que marcou as músicas, todas maravilhosas da dupla Leonard Bernstein (1918-1990) e Stephen Sondheim (1930-2021), principalmente “Tonight” e “Somewhere”.

“America”, por Rita Moreno e os Jets, era um número engraçado e bem dançado que ficou na lembrança de toda uma geração bem como a cena do balcão, agora a cargo do Tony de Ansel Elgort, uma linda voz. Maria é Rachel Zegler, afinada, mas quem se lembra de Natalie Wood sente falta de uma presença mais carismática.

Pois bem, 60 anos depois, Steven Spielberg filma o remake, com as canções originais e a coreografia vistosa de Jerome Robbins. É a mesma história inspirada em “Romeu e Julieta” mas a assinatura do mago Spielberg trouxe maior vigor e testosterona aos Jets e Sharks, atores que não pintam mais o rosto para parecer latinos. Porque são latinos e tem falas não legendadas, em respeito à língua falada por uma imensa comunidade de gente como Rita Moreno que fazia a Anita, agora na pele da já premiadíssima Ariana DeBose, um furacão sexy, que canta e dança com graça e força.

O “Amor Sublime Amor” de Spielberg é um espetáculo empolgante trazido às telas do cinema pela magia das lentes de seu diretor. Tony Kushner, o roteirista, fez adaptações necessárias e ficaram mais claras as questões contemporâneas sobre gênero e racismo mais exacerbadas que nos anos 60.

O amor proibido ficou em segundo plano dessa vez porque as cenas de dança empolgam. E tambem porque falta quimica ao par romântico. As coreografias ganharam mais espaço e os figurinos atraem os olhares.

Rita Moreno faz o mais novo personagem da história. Ela é Valentina que atua como protetora de Tony e tenta ser uma pessoa que reflete e aconselha os grupos rivais, tentando evitar o pior. Foi também a produtora executiva.

O remake de “West Side Story” é um filme para as telas de cinema e pede também um som que nos envolva. Tomadas as devidas precauções, prefiram ver nas salas de cinema. O encanto desse remake é a ousadia com que as cenas são filmadas.

O filme foi indicado a 7 Oscars, inclusive o de melhor filme, direção, figurino, fotografia, som, produção de arte e atriz coadjuvante para Ariana DeBose.

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