Mães Paralelas
“Mães Paralelas”- “Madres Paralelas”, Espanha, 2021
Direção: Pedro Almodóvar
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Tudo começa com os olhos amendoados de Penélope Cruz que é Janis, uma fotógrafa talentosa. Suas lentes flertam com o antropólogo Arturo (Israel Elejalde). Muitas poses depois, os dois vão tomar um café e conversar sobre um assunto caro a Janis. Sua família está ligada a um episódio da Guerra Civil Espanhola, no século passado e ele sabe como explorar um terreno onde os falangistas enterraram suas vítimas, inclusive o bisavô dela.
Acabam na cama e Janis fica grávida. Para ela, esse é um assunto vivido sem tragédia pelas mulheres fortes da família, sua avó e sua mãe, todas mães solteiras.
Passados meses, a seu lado na maternidade, Janis conhece uma jovem que também faz o trabalho de parto, mas não parece tão à vontade como Janis.
“- Tudo vai sair bem. Não tenha medo” diz Janis a Ana.
E são duas meninas que vão nascer, Cecilia e Anita.
“- Sou mãe solteira. Foi um acidente. Mas não me arrependo” diz Janis.
“- Eu sim” retruca Ana.
Enquanto Janis tem a seu lado Elena (a sempre presente Rossy de Palma) sua melhor amiga, Ana recebe uma visita breve da mãe Teresa (Antana Sánchez-Gijon), que só fala de si mesma e sua oportunidade de representar um papel importante no teatro.
Então é a maternidade e um pouco da história da Espanha que Pedro Almodóvar quer mostrar em seu filme “Madres Paralelas”.
Janis e Ana não tiveram boas mães. No sentido de se preocupar e cercar as filhas de cuidados. A de Janis, que deu à filha seu nome em homenagem a Janis Joplin, morreu aos 27 anos de overdose e a de Ana não participou de sua criação, porque fora entregue ao pai no divórcio.
Com cenários que tem a assinatura característica do diretor, cores vivas, Almodóvar vai seguir essas duas mães e suas filhas. Haverá um episódio trágico mas não como no passado. Porque acontecem tristezas e perdas na vida de todo mundo. Mas na guerra é diferente. Todos perdem.
Penélope Cruz faz seu oitavo filme com Pedro Almodóvar e seu trabalho é impecável. Ela transmite vivacidade e sedução, bem como decepção e melancolia como Janis, feliz por ter a oportunidade de ter uma filha beirando os 40 anos e o reverso da medalha.
Milena Smit faz a jovem de 17 anos que não teve mãe presente mas que cresce como pessoa e amadurece com o nascimento da filha. Revela-se uma boa mãe.
Mulheres fortes, mães solteiras, maternidades por acaso, outras desejadas e a presença delas na história da Espanha. Eis Almodóvar nos convidando para um filme mais sério e delicado, mas sempre envolvente, como todos que ele dirige.