Desaparecimento na Noruega

“Desaparecimento na Noruega” - “Lorenzkog Disappearence”, Noruega, 2021

Direção: Fredrick Horn Hakeselsen

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Em 31 de outubro de 2018, Tom Hagen, um bilionário norueguês de 70 anos, informa a polícia que sua mulher Anne-Elizabeth desapareceu. Em torno a esse episódio da história real monta-se um quebra-cabeças de hipóteses diversas, que tentam responder às mesmas perguntas que vão ocupar policiais, jornalistas, advogados, a família e amigos do casal: onde está a mulher de Tom Hagen? Foi sequestrada? Está viva? Ou morta? Onde está o corpo? Qual o motivo do crime? Será que ela fugiu?

Os prováveis sequestradores deixaram um bilhete pedindo a soma de 9 milhões de euros, em “monero”, uma criptomoeda usada por criminosos.

O bilhete dos sequestradores é examinado pela perícia e, estranhamente, foi escrita por alguém que domina o norueguês mas quer passar-se por estrangeiro.

O caso alonga-se por complicações que levantam suspeitas sobre o marido da desaparecida. Amigos do casal falam sobre crise no casamento dos Hagen.

Todas as buscas pelo corpo dão em nada. Há um boato sobre Tom Hagen ter pagado um resgate aos sequestradores, e outros ainda sobre o marido ter tido contato com os criminosos que teriam executado o sequestro. Outros também se perguntavam se o contexto que envolvia o caso de pessoas muito ricas e influentes, não seria a explicação para o beco sem saída em que se transformara a investigação.

Houve até um clima de paranoia que envolveu os que investigavam o caso. Ninguém se sentia seguro porque podiam ser alvo de criminosos que não queriam a solução do caso.

A terapeuta oriental do jornalista que mais se envolvera com o caso, alerta para o fato de que existem casos insolúveis. Mas ele não consegue se libertar do assunto. Não dorme direito e se envolve com criminosos.

Afinal, as perguntas iniciais encontraram respostas? Não. Nenhuma delas.

O filme, montado como se fosse um documentário, tem excelentes atores e o diretor e roteirista Fredrick Horn Akeselsen conta a história de maneira a envolver o espectador com suspense e decepção.

O processo de Anne-Elzabeth Hagen está em aberto até hoje e já se passaram vários anos sem nenhuma notícia sobre ela.

Esse roteiro leva-nos a pensar. Estimula aqueles que não tem dúvidas que o caso não foi bem conduzido pela polícia. Enquanto outros, apoiados na riqueza do marido de Anne-Elizabeth, aventam a hipótese que tudo foi montado por ele para se livrar dela e botar a culpa na polícia.

No entanto, aqueles que prestaram atenção no que disse a terapeuta do jornalista, a única pessoa sensata desse drama da vida real, concordam que existem casos insolúveis. Porque nada é certo nessa vida.

A única certeza é a morte.

Muitos reclamaram da inexistência de um último capítulo 6.

Eu acho que o diretor/roteirista fez um aceno final para pensarmos que, logicamente, o capítulo final só quando tiverem uma resposta porque é um caso ainda em aberto. Virá? Não sei. Aliás foram essas as últimas palavras da detetive da polícia.

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Paixão Sufocante

“Paixão Sufocante” - “Sous Emprise”, França, 2022

Direção: David M. Rosenthal

O tema da morte em mergulho por apneia inspirou “Le Grand Bleu – Imensidão Azul”, filme francês dirigido por Luc Besson em 1988 que foi um grande sucesso. Até hoje é lembrado pela beleza e o perigo das profundezas do mar e das imagens de sonho que vimos na tela.

“Paixão Sufocante” tem algo a ver com o filme de 1988 mas é menos sonho e mais realidade, ambição e inveja. Conta uma história da vida real, a da mergulhadora em apneia, Audrey Mestre.

E vai mostrar que há perigo quando dois seres humanos se deixam envolver por uma paixão intensa, que faz vir à tona sentimentos destrutivos que podem cegar. Um homem e uma mulher, Roxana e Pascal, aparentemente fortes, mas na verdade, muito fragilizados por infâncias difíceis, vão cruzar seus destinos.

Pascal Gauthier (Sofiari Zermani) é campeão mundial de mergulho em apneia e está em Porquerole, ilha francesa de águas transparentes com a equipe, treinando para os campeonatos que virão. Roxana Aubrey (Camille Rowe) veio passar férias naquele lugar mas sem dinheiro para pagar hotéis, dorme na praia sob as estrelas. Bela, vai ser notada pelo campeão narcisista. Ela já o vira num cartaz anunciando o campeonato e se deixou encantar.

Logo ela estava de dia com a equipe, só assistindo aos treinos mas à noite na cama com Pascal. Quando ele soube que ela mergulhara com o avô durante sua infância e adolescência, ofereceu-se para ser também seu treinador.

Ela era boa nos mergulhos e aguentava as apneias com bom fôlego. Mas o mar, em suas profundezas, em torno aos 180 metros, ameaça a vida de quem pensa conquistá-lo. O mergulho profundo é sempre perigoso. Por isso uma excelente equipe é necessária para que tudo funcione como deve.

Mas não só o mar tem perigos à espreita. Para quem vive na superfície do seu próprio ser, tal qual Pascal, a onipotência infiltrada com o narcisismo hipertrofiado, não tem respeito pelas próprias fragilidades e nem com as dos outros. E como Roxana e Pascal tinham uma química perfeita, a sexualidade sem limites dele e a pouca importância que dava ao conhecimento em profundidade sobre quem era ela, tornou a sexualidade tóxica pois não permitia o amor, sentimentos de empatia e proteção.

Na faculdade, Roxana escutara de um professor, como era a morte daqueles que desafiavam as condições terríveis do mar profundo. Mas não se deu conta a tempo de como Pascal além de ambicioso era invejoso. Ninguém podia brilhar mais do que ele. Nem a mulher que ele dizia amar e incentivar.

“Paixão Sufocante” tem a tristeza do sonho de amor interrompido mas, em troca, há belas imagens e uma dupla de atores que mergulha fundo em seus personagens.

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