Luta por Justiça

“Luta por Justiça”- “Just Mercy”, Estados Unidos, 2019

Direção: Destin Daniel Cretton

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Por que a mãe de Brian Stevenson (Michael B. Jordan) se preocupa quando o filho, formado em Direito por Harvard, resolve mudar-se para o Alabama no final dos anos 80? O que ela temia? Simples. O racismo cruel que envenenava a mente das pessoas, principalmente naquela parte do país, contra os negros.

E Bryan conta para ela como se emocionara ao visitar os presos do corredor da morte na Penitenciária Holman. Todos pretos. Sem assistência jurídica eficiente. Resignados na fila da cadeira elétrica.

Ele fica indignado. E, com o auxílio de uma psicóloga branca (Brie Larson), vai lutar para salvar os injustiçados através de um escritório de Iniciativa Judicial Igualitária, com verba federal e sem fins lucrativos.

Um dos casos emocionara principalmente o advogado. Conhecido como Johnny D. (Jamie Foxx) era da geração de Bryan e tinham frequentado a mesma igreja. Walter McMillian, tinha sido condenado sem provas cabais, apenas por uma testemunha duvidosa, pelo assassinato de uma moça branca de 18 anos.

O promotor (Rafe Spall) não precisou se esforçar muito para o júri condenar o prisioneiro à prisão perpétua, pena mudada para condenação à morte pelo juiz.

Quando o advogado vai até a casa do condenado, encontrar sua família e vizinhos, toda a comunidade tinha certeza de que Johnny D. não cometera aquele assassinato. Pela simples razão que trabalhara às vistas de todos fritando peixe. Não saíra dali. Mas nenhum policial viera perguntar nada a eles.

Bryan então fica convencido da inocência de seu cliente. Fora algemado sem explicações por um policial que olhou com inveja a caminhonete nova dele, que trabalhava duramente como lenhador e o levou para a prisão.

O filme mostra o trabalho dedicado e eficiente do advogado em busca de brechas que invalidassem o processo. Mas é desanimador quando percebe que tudo conspira contra a prova da inocência de Johnny D.

A sociedade branca local pressiona os defensores da lei a fazer “justiça”. Que morra Johnny D.

O filme tem suspense e boas cenas no tribunal. Mas quem se destaca é Jamie Foxx, interpretando um homem que desacredita da própria capacidade de ser defendido por um crime que não cometeu. Cabem a ele os momentos de maior emoção.

Talvez com medo de tudo cair num dramalhão, dada a tremenda injustiça que será cometida, o diretor havaiano Destin Daniel Cretton pecou no oposto. Faltou um pouco mais de indignação.

O racismo se expande hoje em dia mundo afora. As imigrações forçadas por guerras e pobreza acirram os preconceitos. Quando é que vamos entender que o nosso egoísmo está criando um mundo cruel demais?

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Cicatrizes

“Cicatrizes”- “Savovi”, Sérvia, Eslovenia, Croacia, Bosnia e Herzegovina, 2019

Direção: Miroslav Terzic

Sensação de impasse. Um muro à nossa frente. Ou serão colunas enormes? Se for, dá para passar entre elas. Tais pensamentos me foram sugeridos pela imagem pesada na tela. O obstáculo.

Quando aparece uma mulher, pequena, ela faz ainda maior esse cenário. Durante o filme todo vamos seguir essa mulher que procura algo perdido. E ela não descansa.

Depois de segui-la por itinerários diversos, mas sempre os mesmos, finalmente descobrimos que ela tenta desvendar um segredo: onde está meu filho?

Ela traz na alma uma cicatriz que não pode esconder.

Há 18 anos ela dera luz a um menino que foi dado como natimorto. Mas ela não se conforma. Algo muito verdadeiro e forte é seu guia: instinto materno? Mas o nome disso não importa. É uma certeza interna que a faz mover-se e procurar, indagar, espionar. É tida como louca e chega a ser mandada para um hospital psiquiátrico.

E Ana (a esplêndida Snezana Bogdnovia) aprende a se esgueirar e falar pouco. Ao seu redor, todos tentam dissuadi-la a parar com essa loucura e viver a vida. Ninguém aguenta mais tantas perguntas. Nem mesmo a polícia que a ameaça com prisão.

Mas Ana não se amedronta. Quando sua irmã, que está com ela em sua humilde oficina de costura em Belgrado, pergunta:

“- Mas Ana, afinal o que você quer? ”

“- A verdade ”, responde.

O marido Jovan (Marko Bakovic) e a filha Ivana (Jovana Stojiljkovic) convivem mal com essa obstinação de Ana. Mesmo calada, está escrito em seu rosto grave e em sua postura ereta, que não irá desistir de lutar pelo que acredita.

Ana não pode viver o trabalho do luto porque pensa, se meu bebê estava morto, por que não me mostraram o corpo? Onde está enterrado? Ninguém sabe. Não há respostas. E isso alimenta a suspeita daquela mãe obstinada de que seu filho está vivo e irá encontrá-lo.

Linda e emocionante a cena em que cansada, ela se senta ao sol e fecha os olhos. A câmera mostra uma mãozinha que procura a dela e se juntam por um momento. O semblante de Ana se descontrai e há um instante de intensa felicidade.

Com esse sentimento tão forte no coração como pode Ana desistir?

O segundo longa de Terzic se baseia em fatos reais e um texto no final conta que esse é o drama de 500 famílias que até hoje buscam seus filhos, roubados e vendidos.

Um drama sem gritos, nem cenas fortes. De quando em quando Ana chora silenciosamente. Ela também expressa o sentimento geral de que os sérvios são um povo sofrido e que muitas injustiças aconteceram com aquelas pessoas, os sobreviventes.

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