Meu Pai

“Meu Pai”- “The Father”, Reino Unido, França, 2020

Direção: Florian Zeller

Ela anda apressada pela rua em Londres. Entra num edifício. Sobe a escadaria com tapete vermelho. Coloca a chave na fechadura.

“- Pai? Sou eu. ”

Um senhor ouve música com fone de ouvido na cozinha.

A filha quer conversar um assunto com ele. Está incomodada.

“- Ela disse que você tentou atacá-la fisicamente? ”

“- Ela é louca. E estava me roubando. Meu relógio. Eu sei que foi ela. Não vou viver com uma ladra! ”

“- Ela não quer trabalhar mais aqui. E é difícil uma com as qualidades dela…tem certeza que não colocou o relógio no esconderijo? ”

O pai sai e volta com o relógio no pulso.

“- Então você encontrou… “

“- Oh sim. ”

“- Então ela não tem nada a ver com isso? “ Ele não responde e retruca: “Onde está sua irmã? “

Nessas primeiras cenas está resumida toda a história que vamos acompanhar. Adaptado de uma peça teatral escrita pelo diretor do filme, Florian Zeller, vai encarar um assunto difícil. Há inclusive uma alusão ao filme de Michael Haneke, “Amor”, que vem assombrar Anne, a filha.

“- Você tem que entender, pai. Não posso deixá-lo sozinho. Tenho que ir para Paris. Mas virei visitá-lo nos fins de semana…”

O mais impressionante do filme é a maneira como nos envolvemos com os personagens. Anne (Olivia Colman) tenta fazer o melhor que pode, enquanto o pai (Anthony Hopkins) foge da realidade para cair na demência que chega avassaladora.

O episódio do relógio é exemplar. A memória se foi, o relógio significa a parte dele que ainda sabe ver as horas, mas sua relação com o tempo também está indo embora. E é difícil para ele aceitar o novo eu que surge nele, que sempre fora uma pessoa autoritária e acostumado a ser obedecido.

É um fim doloroso para os dois, pai e filha. Ele chama pela filha predileta, Lucy, que pintou o quadro que está em cima da lareira e se chama “Infância”. Uma menina com um vestido vermelho num gramado verde. Onde está agora?

O espectador não compreende, a princípio, o que acontece porque a câmara vê o que Anthony vê. E muitas vezes são alucinações. Assim, há pessoas em lugares trocados, o tempo vai e vem e ele se perdendo cada vez mais.

Anthony Hopkins empresta ao personagem Anthony, que tem a mesma idade dele, 83 anos, uma realidade espantosa, criada por seu imenso talento, que assombra. Vamos com ele ao fundo do poço. Um lugar onde não resta mais nada a não ser a fragilidade que, frente a uma correnteza forte, não tem amparo e leva tudo de roldão.

Hopkins merece o segundo Oscar. O filme foi indicado a 6 Oscars: melhor filme, ator, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, edição e design de produção.

Este post tem 0 Comentários

  1. Depois que assisti o filme vim correndo aqui ver sua resenha, pq não entendi nada.
    Mas tb não adiantou nada, pq vc não explica a confusão toda.
    Ou explica?
    Não sei.
    Tô que nem o “pai”.

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