Cinderela
“Cinderela”- “Cinderella”, Estados Unidos, 2015
Direção: Kenneth Branagh
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Toda menina sonha em ser Cinderela. E por que?
Creio que o conto, muito antigo, cuja versão mais conhecida é a do francês Charles Perrault de 1697 (mas existe desde a antiga China de 860 AC), revela um desejo muito profundo da natureza humana. Tanto Cinderela como o príncipe querem encontrar uma alma gêmea, fazer par, como a natureza ensina através de um instinto muito forte, para a continuação da espécie.
Mas outras lições, necessárias para a evolução do espírito, aparecem no conto e não foram esquecidas por essa cuidadosa produção dos estúdios Disney.
Na década dos anos 50 do século passado, a minha geração foi levada por suas mães ao cinema para ver a animação da Disney de 1950. Saíamos encantadas, cantando as músicas, dubladas para o português.
E, em nossas brincadeiras, o vestido azul, peça fundamental, não precisava de outros adereços. Cinderela era bela porque era boa e gentil, gostava dos animais e tratava bem as pessoas à sua volta. Sabia lidar com a inveja e era bem humorada e romântica.
Apesar de orfã (e com ela chorávamos a perda da mãe e pai), não se lamentava o tempo todo e trabalho não era castigo para ela.
Seu amor pelos animais e pela natureza faziam dela uma precursora da mente ecológica, tão importante para o planeta em que vivemos.
E essa continua sendo a Cinderela do diretor britânico Kenneth Branagh. Um acerto.
As cenas que abrem o filme atual são quadros impressionistas. Os cenários reais e os detalhes das imagens são tantos, que nossa vista não abarca tudo que aparece na tela na bela fotografia de Haris Zambarloukos. Há uma contemplação de maravilhosos voos sobre palácios, muros e jardins.
A direção de arte do talentosíssimo Dante Ferretti é deslumbrante e os figurinos de Sandy Powell, perfeitos e originais.
Cate Blanchett como a madrasta má, empresta sofisticação e inteligência à megera e sua magnífica presença em tons de verde absinto é uma deliciosa aparição ruiva, com chapéus saídos do chá das cinco de “Alice no País das Maravilhas”.
As irmãs postiças desfilam figurinos “kitsch” e são atrapalhadas na medida certa.
E Cinderela, na pele da britânica Lily James (lady Rose de “Downton Abbey”), é a personificação perfeita da personagem. Nem linda demais, nem exibida, ela irradia juventude e graça.
Os efeitos especiais nos momentos mágicos com a fada madrinha (Helena Bonham Carter, ótima), são divertidos e surpreendentes. Kenneth Branagh brinca com os ratinhos, os lagartos e a abóbora e a magia brilha na tela com leveza.
E “coragem e gentileza”, o lema de Cinderela, não poderia ser mais oportuno para os dias de hoje.
Corram para ver “Cinderela” e voltem para casa um pouco mais esperançosos com a humanidade. Precisamos tanto de sonhos…