Em Ritmo de Fuga

“Em Ritmo de Fuga”- “Baby Driver”, Inglaterra, Estados Unidos, 2017

Direção: Edgar Wright

Oferecimento Arezzo

Você vai ficar muito surpreso com esse filme.

De cara, uma perseguição em carros, perfeita e de tirar o fôlego.

E quem está com o volante na mão? É Baby, o “driver” mais incrível da história. Ansel Elgart de “A Culpa é das Estrelas” faz o garotão calado mas ligado. Uma mistura de Marlon Brando com Paul Newman, sem os olhos azuis mas carismático como foram esses dois.

De poucas palavras, ele tem um drama em sua vida. Perdeu a mãe num acidente de carro quando era menino, causada por uma briga. Mãe e padrasto, aliás, viviam brigando. Ele saiu vivo daquele carro mas ferido para sempre. Desde então, luta com um zumbido crônico no ouvido, sequela do acidente.

E logo percebe que a sua salvação é a música. Porque distrai a mente desse som que enlouquece. Fones de ouvido, adereço constante, óculos escuros (ele tem uma coleção), um andar de felino e agilidade tanto no carro quanto no solo. Um atleta bailarino.

Baby tem que trabalhar para Doc (Kevin Spacey), um chefão do crime para quem deve dinheiro. Tornou-se o piloto de fuga da quadrilha que tem Bats (Jamie Foxx), Buddy (Jon Hamm) e Darling (Eliza González) mas que pode variar de integrantes de acordo com o humor de Doc. O único que não pode faltar nunca é o talismã, Baby.

Mas quando ele entra naquela lanchonete e encontra a mulher de sua vida, Deborah (Lilly James, bela e charmosa), que via passar sempre cantando para logo desaparecer como um cometa, Baby sabe que sua vida vai mudar. Porque sente que é sério esse amor.

Mais um trabalho para Doc e depois vai viver com Deborah e a música, na estrada da vida.

Baby mora com seu pai adotivo Joseph (C.J. Jones), que ele cuida com carinho. Fala com ele pela linguagem de sinais, porque ele é surdo-mudo.

É lá que Baby guarda o dinheiro que ganha dos assaltos de Doc e, principalmente, esconde o seu tesouro, sua coleção de iPods, com as músicas de sua vida. Cada um deles serve para um estado de ânimo.

E o mais amado é o de sua mãe, que era cantora.  Ela estará para sempre no coração do filho.

Vindo de séries da TV, vídeos para músicas e cinco longas (“Shaun of The Dead”de 2004 e “Scott Pilgrim vs The World” de 2010) o britânico Edgar Wright é um prodígio como diretor, materializando com “Baby Driver” ou “Em Ritmo de Fuga” como foi traduzido o título do filme em português, uma ideia que ele teve há 20 anos atrás.

O filme não é só sobre carros e fantásticas perseguições. É também uma história de amor e um musical, não no sentido de “ La La Land” com músicas cantadas pelos atores, mas com ação e diálogos sincronizados com a música maravilhosa que vem do iPod de Baby e que vai de Simon & Garfunkel a Queen e Emicide. Tantos. Alguém contou 43 créditos na lista final.

A música é importante porque dá o clima. Tudo do ponto de vista de Baby, que é dado pelo que ele está escutando e nós também. Uma loucura de imagens e sons que hipnotizam a plateia.

Entretenimento de primeiríssima qualidade, o filme vai agradar a muita gente. E aposto que veremos prêmios merecidos no ano que vem para esse delicioso “Baby Driver”.

Ler Mais

Homem-Aranha: De Volta ao Lar

“Homem-Aranha: De volta ao Lar”- “Spiderman: Homecoming”, Estados Unidos, 2017

Direção: John Watts

Quem viveu a adolescência nos anos 60, é íntimo do Homem-Aranha.

Ele foi criado como personagem de gibi nessa época e a história de uma aranha de laboratório que pica o menino e dá a ele superpoderes, que ele descobre surpreso, tinha mais a ver com os adolescentes do que outros personagens adultos, como o Super Homem, identificados ao pai ou professores, mas distante da criançada mortal e normal.

A gente queria ser Peter Parker porque a vida dele era parecida com a nossa. Menos as teias.

E também porque a nossa fantasia infantil, alimentada pelos contos de fadas, já nos levara a imaginar que poderíamos voar como Peter Pan e ser como os abandonados João e Maria que enfrentavam ogros e bruxas do mal.

No filme “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”. Peter Parker já é o Homem-Aranha, pelo menos em edição jovem, mas não acredita demais nisso. Põe mais fé na roupa tecnológica, que ganhou de Stark, do que em si mesmo, como todo adolescente.

O Homem de Ferro é mentor de Peter e com um jeito até severo demais, manda ele voltar para o bairro onde mora em Nova York, o Queens. Por ora ele tem que voltar a ajudar as velhinhas a atravessar a rua, lidar com os ladrões locais e ser um bom menino.

“- Mas eu não sou nada sem a roupa que você me deu!”

“-Se é assim, não deveria mesmo estar usando”.

Na verdade, Tony Stark quer dizer para Peter Park ter paciência e esperar. Porque com o tempo virá a experiência necessária para ele ser do time dos “Avengers”. É muito cedo ainda para o Aranha.

Mas, como todo adolescente, apesar da insegurança, Peter quer mais e se aventura por caminhos perigosos, precisando até da intervenção de seu mentor para sair de enrascadas.

O vilão que ele enfrenta nesse filme é o Abutre, vestido numas asas impressionantes, magnífico, interpretado por Michael Keaton ( “Birdman”), que é um empresário falido, que se revolta contra os poderosos e entra num negócio de contrabando de armas ilegais poderosíssimas.

E, como toda donzela tem um pai que é uma fera, como já dizia o título de uma peça dos anos 60, todo garoto adolescente daquela época sabia que o pai da menina cobiçada tem que ser temido. É como se ele fosse o dragão que guarda a princesa na caverna, só para ele. O príncipe vai ter que vencer o dragão, num combate fatal.

No filme, o Aranha ama Liz (Laura Harrier), a menina mais charmosa e bela da sua classe na escola. Mas treme diante dela e muito mais ainda na frente do pai dela.

O encanto de Tom Holland ( “Z- A Cidade Perdida”), o novo Aranha, é que, apesar dos 21 anos que ele tem, é a cara do menino magrinho da história em quadrinhos.

E o filme acerta também no visual de gibi em movimento e pop-art explodindo na tela em cores e imagens.

As cenas de ação são muito boas apesar de às vezes o filme perder o ritmo porque se alonga demais.

O forte é quando mostra a vida de Peter Parker, com a tia remoçada (Marisa Tomei) e com o amigo Ned (Jacob Batalon), que descobre o segredo de Peter e quer fazer perguntas o tempo todo, quase expondo a verdadeira identidade do Aranha. Mas aqui também o filme acerta porque mostra como todos precisamos de um confidente na adolescência. Compartilhar segredos e confissões. Mesmo que sejam bobas.

E na hora do baile, como todo adolescente inseguro, ficar espremido entre a vontade de querer saber dançar com a bela e, inesperadamente sumir. No caso do Aranha, sempre por uma boa causa.

O roteiro escrito a dez mãos é ótimo e a escolha de Tom Holland para o Aranha é a melhor que poderia ser feita.

Ágil, leve, engraçado e movimentado, o novo filme do Aranha merece ser visto mesmo por aqueles adultos que não seguem os filmes da Marvel. Porque a gente entende tudo que está acontecendo com o Homem-Aranha já que também fomos adolescentes. Sem as teias, mas com os mesmos problemas.

 

Ler Mais