Colette

“Colette”- Idem, Estados Unidos, Reino Unido, 2018

Direção: Wash Westmoreland

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Um gato e o chilrear de pássaros abrem a primeira cena do filme. Na cama dorme uma mocinha, na casa em Saint-Sauveur, interior da França.

“ – Acorde Gabrielle! O senhor Willy vem fazer uma visita logo mais. ”

Ela ia completar 20 anos e, não sabia ainda, mas ia se casar.

Sidonie-Gabrielle Colette (1871-1954), tornou-se uma conhecida e famosa escritora francesa, com mais de 80 livros publicados, entre eles os adaptados para o cinema, “Gigi” e “Chéri”, e a coleção sobre a personagem Claudine, inspirada nela mesma.

O filme do diretor Wash Westmoreland conta a história do casamento de Colette (Keira Nightley,encantadora) com Willy, aliás Henry Gauthier-Villars (Dominic West). Ela não tinha dote, era uma moça pobre e por isso seus pais (Fiona Shaw e Robert Pugh) preocupavam-se e torciam pelas visitas de Willy.

Mal sabiam que a filha já nascera um espírito livre, porque quando Willy se despedia, depois de falar muito sobre os prazeres em Paris, seguia para um certo galpão, onde Gabrielle aparecia para fazer amor. Ele, mais velho que ela mas atraente e um grande sedutor, encantou-se com “a menina das tranças” como ela era conhecida na região, por seu belos cabelos. Ela surpreendera Willy não só pela aparência mas pela inteligência.

Porém Colette vai se decepcionar com esse casamento. As infidelidades de Willy e o grupo de gente frívola que ele frequentava, nada disso atraia a mocinha, pouco versada nas modas e no exibicionismo dos salões parisienses na Belle Époque.

Por sua vez, as pessoas que conheciam Willy se surpreenderam com a mulher pouco sofisticada que ele escolhera para casar.

Acontece que o “bon vivant” Willy tinha hábitos luxuosos e gastava mais do que podia. Não era ele que escrevia os livros que levavam seu nome como autor mas “ghost writers”. Aliás Gabrielle descobre o segredo do marido porque eles cobravam aos gritos o que ele lhes devia.

Willy estava desesperado para encontrar alguém que escrevesse para ele. Sua mulher já se incumbia das cartas que ele só assinava, depois de copiar. Certo dia no campo, Gabrielle começa a contar suas aventuras de adolescente com a melhor amiga, com tal graça, que o marido a incentiva a escrever tais lembranças. Depois faz sugestões para apimentar o texto, tornando-o mais ao gosto dos homens da época.

Os livros de “Claudine”, assinados por Willy, fizeram muito sucesso e Gabrielle começa a perceber o outro lado do marido, um narcisista egoísta e mulherengo.

Bem, Colette vai nascer da raiva contida com que Gabrielle tivera que aguentar os desmandos do marido. Mas não por muito tempo. De submissa e discreta, Gabrielle vira Colette, dona de seu próprio nariz, sua sexualidade e seus livros. Ditou moda, fez teatro e causou escândalo com seu caso com Missy (Denise Gough), a marquesa de Bellbeuf, seu grande amor.

O filme tem a espetacular Keira Knightley como Colette, um papel no qual ela brilha, simpática e irreverente. Belos figurinos e produção de arte requintada, aumentam o atrativo de “Colette”, a história de uma passagem na vida de uma mulher que estava adiante de seu tempo.

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O Homem Que Não Vendeu Sua Alma

“O Homem que não Vendeu Sua Alma “ - “A Man for All Seasons”, Reino Unido, 1966

Direção: Fred Zinnermann

Ele foi um homem raro. Sir Thomas More nasceu em 7 de fevereiro de 1478 e morreu em 6 de julho de 1535, aos 57 anos. Viveu na Inglaterra durante o reinado de Henrique VIII de quem foi conselheiro e chanceler.

Educado para ser padre, estudou no mosteiro de Canterbury por 4 anos. Foi um homem profundamente religioso por toda sua vida mas decidiu estudar Direito em Oxford. Não tinha vocação para padre. Foi advogado brilhante, político, escritor e humanista respeitado por toda a Europa.

Quando começa o filme, Sir Thomas More (Paul Scofield) é chamado para conversar com o chanceler, Cardeal Wolsey interpretado por Orson Welles, magnífico em sua roupa de seda vermelha e colar de ouro de chanceler. Já percebemos, no diálogo entre eles, o caráter íntegro de More e sua posição contrária ao rei Henrique VIII que queria divorciar-se de Catarina de Aragão e casar-se com Ana Bolena (Vanessa Redgrave).

Ora, More entendia que o único que poderia conceder o divórcio ao rei seria o Papa. E tal não era a intenção do Bispo de Roma.

Mesmo assim, o rei (Robert Shaw) nomeia More seu chanceler, talvez pensando que assim conseguiria sua aprovação.

A cena do filme na casa de Sir Thomas More, quando o rei chega de barco para jantar, tem um diálogo entre eles no jardim, que mostra um rei cheio de vitalidade, dizendo-se amigo de More e certo de sua anuência ao divórcio. Mas, frente à posição firme do chanceler, nem sequer se digna a entrar na casa onde o esperam a mulher de More, Lady Alice ( Wendy Hiller) e a filha Margareth (Susannah York).

More renuncia ao cargo de chanceler em 1532 e não compareceu ao casamento do rei com Ana Bolena. A essas alturas, Henrique VIII se desligara da Igreja Católica de Roma, e se dera o título de chefe da Igreja Anglicana.

Essa recusa em aceitar o novo casamento custará a vida de Sir Thomas More. As cenas de seu julgamento no filme são muito bem dirigidas, com diálogos que mostram a lucidez e até o bom humor de More que não arreda um passo de suas convicções.

Em 1886 Sir Thomas More foi beatificado pela Igreja Católica, por decreto do Papa Leão XIII e foi canonizado em 1935 pelo Papa Pio XI. João Paulo II declarou-o “Patrono dos Estadistas e Políticos”.

O filme foi o mais premiado de 1967. Ganhou 6 Oscars: melhor filme, direção, fotografia, figurino, ator (Paul Scofield) e melhor roteiro adaptado.

Imperdível, principalmente em tempos conturbados que vivemos nos quais sofrem a moral e a política.

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