A Última Carta de Amor

“A Última Carta de Amor”- “The Last Love Letter from your Lover”, Reino Unido, França, 2021

Direção: Augustine Frizzel

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A epígrafe do filme é uma frase do livro “Adeus às Armas” do celebrado autor americano Ernest Hemingway, que teve muitos amores em sua vida aventureira. “Eu não vivo sem você, minha querida”, ele escreveu como fala de um personagem apaixonado.

Pois bem, o filme, adaptado de um livro de Jojo Moyes de 2012, tenta trazer para a tela essa intensidade da frase acima. E, o faz através de um jornalista financeiro que, apaixonado, escreve cartas ardentes para sua amante.

Tudo começa em 1965 quando ele, Anthony O’Hare (Callum Turnes), vai para a Riviera Francesa entrevistar o industrial milionário Lawrence Stirling (Joe Alwyn). E fica conhecendo Jennifer (Shailene Woodley) a esposa linda e negligenciada.

As imagens são belíssimas e exploram a fotogenia dos cenários por onde andam Anthony e Jennifer.

Ela, aliás, um espetáculo à parte, rosto perfeito, olhos sedutores e vestida com a moda que Jackie Kennedy usava na época. Ou seja, vestidos em tons claros, tubinho, sem estampas, saltos médios e o famoso Halston “pill box hat”, aquele chapéu redondinho combinando com o vestido. Claro que os ornamentos são colares, brincos e broches estonteantes. Afinal, são milionários na Riviera Francesa.

Na piscina, Jennifer toda de branco e aquele chapéu enorme de abas semitransparentes está deslumbrante. Bem anos 60 mesmo.

E a trilha sonora é ótima.

Mas, lembrando momentos e situações de dois filmes, “Tarde Demais para Esquecer” e “Cartas Para Julieta”, se bem que nunca igualando esses dois filmes no resto, os amantes vão ser separados.

Jennifer tem um acidente e não se lembra de nada do que aconteceu em seu passado recente. Mas “flashes” virão.

Ellie (Felicity Jones), uma jornalista nos tempos atuais, resolve escrever um artigo para a revista na qual trabalha e, por acaso, acha uma carta nos arquivos da revista, a última carta de Anthony para Jennifer, sem os nomes dos apaixonados.

Um dos charmes do filme é um vai e vem entre a história dos amantes dos anos 60 e o que essa história vai produzir na jornalista, afastada do amor e com uma vida de muitos parceiros na cama e nenhum no coração.

Sem perceber, ela vai se envolvendo com o rapaz do arquivo da revista que a ajuda no plano de contar essa história e quem sabe reunir o par separado.

Ou seja, é um filme de amor, para a alegria dos românticos.

Mas não tem um roteiro ou diálogos de um Hemingway. É agradável e envolve nossa curiosidade e torcida para a jornalista deslindar o segredo. No mais, o clima é seco e o sexo bem educado. Nada contra.

“A Última Carta de Amor” agradará certamente uma boa parte do público. Bom entretenimento.

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Um Olhar do Paraíso

“Um Olhar do Paraíso”- “Lovely Bones”, Estados Unidos, 2009

Direção: Peter Jackson

Este é um filme que conta com uma atriz excepcional, Saoirse Ronan, nascida em 1994 em Nova York e criada na Irlanda. Iniciou sua carreira na TV em 2003 e ganhou um Oscar aos 33 anos, pelo filme “Desejo e Reparação” de 2007. Ganhou o Bafta, o Oscar inglês por “Um Olhar do Paraíso”.

O diretor neozelandês Peter Jackson gosta de filmar histórias sobre realidades alternativas (“O Hobbit”, “O Senhor dos Anéis”) e baseou-se no livro de Alice Seboid, “Uma Vida Interrompida”, para o roteiro. Criou imagens belíssimas de jardins com camélias cor de rosa, um milharal com segredos escondidos, um sumidouro, uma garota de bicicleta com calças de veludo amarela, um criminoso perverso e um cofre sinistro. Duas realidades diferentes e um ir e vir entre elas.

Susie Salmon, de 14 anos, é a vítima e também a narradora. Vamos ver a atriz interpretando a garota bonita, de olhos expressivos, inocente e curiosa. Criativa, tirava fotos com a máquina que ganhara no aniversário e dizia que queria ser fotógrafa quando crescesse. Uma criança feliz, com pais jovens e amorosos (Rachel Weisz e Mark Wahlberg) e dois irmãos, Lindsey e Buckley (Rose Mcher e Christian Ashdale).

Susie tem uma avó excêntrica, prática e afetiva, ao mesmo tempo. Um papel que tem Susan Sarandon, que sempre faz de maneira genial seus personagens.

E a morte trágica vai ser encenada só em seus momentos prévios. Haverá vestígios de sangue mas não o corpo.

Stanley Tucci (indicado ao Oscar de coadjuvante) faz Harvey, vizinho da família Salmon, um homem perverso, de olho nas duas adolescentes. Mas não há cenas horripilantes, nem sexo.

Há sim, uma menina romântica que vai sair pela primeira vez com o menino mais bonito de sua classe. Ela sonha com esse momento. E o mais trágico é que esse sonho vai ser tirado dela. Em seu lugar, um pesadelo.

O filme tem uma encenação realista no mundo dos vivos e outra de sonho nas fronteiras do paraíso. Os cenários e a fotografia são bem caprichados e a produção de arte cria ambientes diferentes para os dois mundos de Susie. Um dos produtores executivos é nada mais, nada menos que o criativo Steven Spielberg. Preciso dizer mais?

E é essa mistura de beleza e sonhos interrompidos que prende a atenção e cria o suspense em ”Um Olhar do Paraíso”.

No título em inglês, “The Lovely Bones”, a narradora Susie emociona quando fala das ligações que aconteceram quando ela já não estava mais lá entre os que ela amava. E, de maneira sóbria diz:

“- Aprendi a pensar diferente do que eu pensava. O mundo sem mim.”

Ela, assassinada aos 14 anos, completa:

“- Eu estive aqui por um momento. Desejo a todos uma vida longa e feliz. “

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