A Interprete

“A Interprete”- “The Interpreter”, Estados Unidos, 2005

Direção: Sydney Pollack

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Esse foi o último filme do diretor, ator e produtor americano Sidney Pollack, que morreu aos 74 anos. Foi ele o responsável por dois grandes sucessos de crítica e público, “Tootsie” com Dustin Hoffman e “Entre Dois Amores – Out of Africa” com Meryl Streep e Robert Redford, que deu a Pollack o Oscar de melhor diretor e melhor filme de 1985.

“A Intérprete” é um suspense com dois atores carismáticos, Nicole Kidman, Oscar de melhor atriz por “The Hours” em 2003 e Sean Penn, dois Oscar de melhor ator por “Sobre Meninos e Lobos” 2003 e “Milk: A Voz da Igualdade” de 2008.

Esses três, porque Pollack também atuou como ator nesse filme, participam de um suspense político envolvendo uma trama para assassinar o presidente/ ditador de um país africano imaginário. Kidman faz a intérprete Silvia Broome, nascida nesse país africano, que vai para os Estados Unidos trabalhar na ONU.

Acontece que ela ouve, ou diz ter ouvido, por acaso, uma voz murmurar, quando estava ainda em seu lugar de intérprete e o auditório vazio, sobre a morte desse político que estava em vias de vir discursar na ONU.

Colocada sob a proteção do agente federal Tobin Keller, ela é investigada sobre seu passado na África, seu país nativo e logo sua vida muda de cabeça para baixo. Seria ela uma das pessoas envolvidas no suposto plano de matar o político africano? Quais as relações dela com os inimigos do presidente? Por que ela veio trabalhar na ONU? Silvia é uma vítima ou uma suspeita mentirosa?

E Sean Penn, que sofrera com o desenlace fatal de seu casamento com uma bailarina que ele adorava e que o abandonara para morrer tragicamente, logo em seguida de um acidente, estaria em condições de ver claramente do que se tratava essa missão a ele conferida?

O prédio da ONU foi usado como uma das locações, dando ao filme tanto uma aura de verdade, como aumentando o interesse do público com os meandros do edifício famoso.

Os dois personagens principais são diferentes em tudo. Silvia acredita na diplomacia, no poder das palavras e foi educada na África. Não só fala correntemente o dialeto KU (imaginário) como acredita que um assassinato deve ser perdoado para que a família do morto não arraste um luto pelo resto de suas vidas. Já o agente Tobin é adepto da ação e impulsos instintivos e acredita na vingança do olho por olho. Apesar das diferenças, vão se aproximar.

“A Intérprete”, não sendo um filme memorável, de qualquer forma vai prender sua atenção, principalmente pelo desempenho de Nicole Kidman, bela e misteriosa.

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37 segundos

“37 segundos”- “37 sekanzu”, Japão, 2019

Direção: Hikari

Yuma é cadeirante. A paralisia cerebral ocorrera em seu nascimento. Por 37 segundos não conseguira respirar por más condições do parto. Mas sobreviveu. Agora, com 23 anos, precisara desde pequena de uma cadeira de rodas para se locomover. Encolhida, um fio de voz, ninguém notava realmente quem ela era. Parecia uma criança.

Sua mãe (Misuzu Kanno, excelente), superprotetora, se encarregava de tudo na vida de Yuma, que parecia depender dela para tudo.

Na verdade, a relação simbiótica da dupla mãe/filha impedia que Yuma crescesse.

A garota não tinha controle sobre os músculos de suas pernas e braço esquerdo mas isso não a impedia de ser uma exímia desenhista criativa de mangás. Sayara, filha de uma amiga da mãe de Yuma, era quem levava a fama sem reconhecer que era a outra a artista, nem sequer convidada para o lançamento do livro e paga com tostões.

Não que Yuma não se importasse com o que acontecia mas ela não reclamava. Parecia que aceitava seu destino.

Isso até que, inteligente, ela percebeu que precisava ser mais livre para conhecer o mundo e a si mesma. Ansiava por novas experiências de vida. Ela se perguntava como desenhar e criar histórias sem viver nenhuma?

A diretora e roteirista Hiraki surpreendeu o Festival de Berlim onde “37 segundos” ganhou o Prêmio do Público.

O filme surpreende mesmo, especialmente vindo do Japão onde a cultura torna invisíveis pessoas como Yuma. Quando ela pede para usar um vestido a mãe nega:

“- Vestido não. Tem muito tarado por aí.”

“- Não seja ridícula” responde Yuma, acrescentando “você não percebe que ninguém tem nenhum interesse em mim? ”

Foi só quando foi explorar sozinha o distrito da “luz vermelha” em Tóquio que Yuma percebeu, claramente, que sua curiosidade e sexualidade precisavam existir para que ela se tornasse uma mulher de verdade e a artista que ela queria ser.

E só quando encontrou Mai (Makiko Watanabe), uma alegre e afetuosa prostituta, especialista em cadeirantes, que finalmente Yuma é respeitada. Alguém compreendia que ela precisava de um tempo longe da mãe, que a estava afogando com tanto exagero nos cuidados.

O filme levanta várias reações em nós que vão desde pena até respeito pelo valor pessoal de Yuma que aprendeu a se impor com doçura e generosidade.

“37 segundos” explora com ternura e bom humor uma zona de perigo, já que os cadeirantes, não só no Japão, mas no mundo todo, tornam-se pessoas que nos tiram da zona de conforto.

As cenas finais são altamente emocionantes e lágrimas virão aos olhos das pessoas sensíveis que podem entender alguém como Yuma. E o fato da atriz Mei Kayama ser realmente uma pessoa com necessidades especiais, valoriza ainda mais o filme e a sensibilidade da diretora.

“37 segundos” é raro e belo.

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