Asas da Ambição

“Asas da Ambição”- "As the Crows Flies"-“Kus Uçusu”, Turquia, 2022

Direção: Deniz Yurulmazer

Oferecimento Arezzo

Nos estúdios de uma emissora de televisão em Istambul, vamos conhecer uma famosa jornalista, Lale Kiran (Birce Akalay) que é âncora de um programa diário de notícias e entrevistas que tem grande audiência.

Ela, além de possuir o dom de encantar por sua beleza e elegância, merece a confiança de seus fãs. É uma jornalista que tenta sempre passar a verdade dos acontecimentos em seu programa. Para que isso aconteça, ela faz uma reunião diária com sua equipe para escolher as pautas, que ela exige que sejam checadas antes de serem aceitas como as manchetes do programa.

Seu diretor é Keran Sezgin (Ibrahim Celikkol), que já tivera um namoro com Lale no passado. Parece que ele ainda alimenta esperanças de ficar com ela. Mas Lale interpreta como amizade o carinho que ele tem por ela.

Lale é casada com Selim Kiran (Burak Yamantur) e eles tem duas filhas pequenas. O problema é que Lale tem pouco tempo para passar com a família. Selim, que tem um restaurante, cuida das filhas e é um ótimo pai e marido amoroso. Mas há no fundo uma mágoa, que ele não mostra, porque preza o amor de Lale e não quer perdê-la.

No dia de uma primeira reunião dela com os novos estagiários, Lale vai ao banheiro e encontra uma garota que, ao vê-la, tem um olhar de admiração e surpresa:

“- Não acredito que estou vendo você, Lale! Sou a pessoa que mais ama você nesse mundo! Eu vim aqui só para te conhecer!”

“- Se você quer ser jornalista, procure notícias, não pessoas”, responde Lale com uma certa irritação.

Mal sabia ela que a garota que a encarava iria ser uma provocadora. Mais que isso, Asli Tuna (Miray Daner vai desempenhar o papel de falsa amiga com todos naquele estúdio e fará cair um por um, até que fica com o ambicionado lugar de assistente de Lale.

Vamos assistir a uma trama que envolve ambição, inveja destrutiva, simulação, mentiras e uma vontade de brilhar e ter fama, custe o que custar.

Meriç Acemi escreveu o roteiro e tinha nas mãos um bom material para criar suspense. Mas não seguiu esse caminho. Concentrou-se nas artimanhas de Asli para derrubar Lale e ser sua sucessora no programa “Por outro lado”.

Há um narrador em “off” que usa de metáforas para descrever os movimentos de Lale e Asli. A jornalista seria o leão, rei da selva, distraído do perigo, já que não tem predadores. Mas esquece de olhar para cima onde voam os corvos que só esperam uma situação de fragilidade para atacar. Porque os leões quando brigam entre si, ficam vulneráveis e ali será o momento em que, desatentos, perdem o trono.

A série é bem fotografada, as roupas de Lale são elegantes e clássicas, as de Asli modernosas e até de mau gosto.

O conflito de gerações mostra que há um esvaziamento no jornalismo sério em troca da fama instantânea das “fake news”.

Há um distante lembrete de que estamos na Turquia de Erdogan, o presidente que se mantém no poder desde 2014, tido como pouco amigo de jornalismo livre de censura.

“Asas da Ambição” é entretenimento bem produzido mas facilmente esquecível.

Ler Mais

Intimidade

“Intimidade” - “Intimidad”, Espanha, 2022

Direção: Jorge Torregrossa e outros

Essa série tem como cenário o País Basco, a cidade de Bilbao, a terra entre Espanha e França, onde habitam os bascos desde o século XVI.

Em seus 8 episódios vamos conhecer a história de mulheres que lutam pelos seus plenos direitos, o que lhes é negado pelo sistema patriarcal. Elas vivem num mundo onde os homens acreditam que tem mais direitos que elas. Aliás não é só lá que isso acontece.

Os campos da política e da vida privada serão os lugares onde essas mulheres aparecerão lutando contra inimigos em comum. Sem medo de errar, vamos constatar um fato: a violência sexual digital atinge mulheres de todos os níveis sociais. E isso está longe de só acontecer nessa terra tão verde, cercada pelos Pirineus e banhada pelo mar do golfo de Biscaia.

Duas mulheres vão sofrer e ter suas vidas privadas devassadas por motivos diferentes. Daí o título da série. É na intimidade que o mal contra elas é exercido sem nenhum pudor.

A personagem principal é Malen Zurbini, interpretada com garra por Itziar Ituno, que é a vice prefeita e depois prefeita substituta, candidata à eleição. Ela é competente e forte e é a favorita dos eleitores nas pesquisas. Mas os homens de seu partido ambicionam o poder e vão agir contra ela. Um vídeo com conteúdo sexual, uma transa na praia, viraliza e poderia ser a razão para ela desistir das eleições. O casamento aberto que já não ia bem e a filha adolescente, discriminada na escola por causa do vídeo, fazem a prefeita entrar em depressão e culpar-se pelo acontecido.

O tema da culpa e da confiança no parceiro sexual vai aparecer também com Ane (Veronica Echegui), operária numa fábrica onde vídeo e fotos de uma orgia, com Ane em primeiro plano, são compartilhadas entre os colegas de trabalho. Ela, que já não estava bem, não aguenta o clima pesado e se suicida. A imagem de seu corpo boiando inerte no mar é logo a primeira cena da série.

E a questão principal é colocada e defendida pela detetive policial (Ana Wagener) que tenta convencer a prefeita de que ela é vítima de um crime e não a culpada. O mesmo se aplica no caso de Ane, que vivia com sua irmã Bejo (Patricia Lopes Arnaiz). Esta fica se sentindo traída com o suicídio da irmã porque não confiara nela para que lutassem juntas contra o terrível assédio que Ane sofria. O luto estava sendo complicado.

Todas essas vidas entremeadas são mostradas com uma fotografia impecável e um roteiro bem escrito (Veronica Fernández e Laura Sarmiento). A música, sempre bem encaixada, é de Aitor Etxebarria.

“Intimidade” é uma série que vale a pena ver pelo suspense e pelas reflexões que provoca em todos nós.

Ler Mais