Amor até as Cinzas

“Amor até as Cinzas”- Ash is Purest White”, China, França, 2018

Direção: Jia Zhang-Ke

O documentário de Walter Salles sobre esse cineasta chinês, chama-se “Jia Zhang-Ke, um homem de Feniang”. Lançado internacionalmente em 2014, mostra a admiração que o diretor de “Central do Brasil” tem por ele.

No mais novo filme do diretor chinês há um par amoroso que pertence ao mundo dos gangsters. A palavra usada é “jianghu” e o título original é “Sons and Daughters of Jianghu – Jianghu Er Nev”. Mais do que somente membros de um submundo, eles se comportam obedecendo regras próprias de conduta, sendo a lealdade a principal qualidade.

O filme começa num nightclub em Datong, pequena cidade de mineração de carvão. Há uma sala de jogos no fundo e lá reina Bin (Fan Liao), chefe dessa espécie de máfia local. Sua amante, a bela Qiao (a extraordinária atriz, mulher do diretor e musa, Zhao Tao) é a única mulher entre todos aqueles homens rudes e parece íntima de alguns deles. Distribui tapas nas costas e risos.

Enquanto isso, os frequentadores do clube dançam ao som do Village People, “YMCA”, muito animados.

Estamos em 2001 e a antiga China vai desaparecendo aos poucos, em meio a mudanças tecnológicas e de valores. Já se vê uma ocidentalização, a China abraça o capitalismo e os direitos humanos são desrespeitados. Começa a época das grandes movimentações de populações que são desenraizadas e perdem suas aldeias, seu trabalho e tem que recomeçar a vida.

Assim também como o país, os amantes vão enfrentar dissabores.

O que muda o destino de Qiao e Bin é uma arma que ele toma de um dos jogadores e guarda com ele.

Já no carro, são interceptados por uma gangue de rapazes de moto que tiram Bin do carro à força e estão dispostos a matá-lo de pancadas. Desesperada, Qiao pega a arma ilegal e atira para o alto, assustando a gangue. Salvou a vida de Bin mas sua recompensa é a prisão. Ela não delata o companheiro e diz que a arma é dela. É condenada a 5 anos de prisão.

Quando é libertada em 2006, Qiao vai à procura de Bin, que nunca a visitara na prisão. Mesmo sabendo que ele estava com outra, queria ouvir ele dizer isso a ela, frente a frente.

A cena mais bonita e que dá nome ao filme é mostrada duas vezes com a bela fotografia do francês Eric Gautier. Um vulcão extinto, no meio de uma verde paisagem de verão e outra no melancólico outono, faz Qiao lembrar-se de algo que leu:

“- Dizem que as cinzas tem o mais puro branco porque passaram por altíssimas temperaturas…”

Qiao, a maravilhosa atriz Zhao Tao tem a pureza das cinzas. Ela continua forte e leal. Sofre e sobrevive como a China, mesmo tendo que pagar um alto preço, parece dizer o diretor Jia Zhang-Ke, um grande observador da natureza humana.

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