Amor

“Amor”- “Amour” França, Alemanha, Áustria, 2012

Direção: Michael Haneke

O que se pode dizer da vida quando vemos a morte? Nada, além de que é uma certeza. E, talvez por isso, Michael Haneke comece seu filme mostrando o fim, igual para todos nós.

Mas volta à plateia do teatro onde George e Anne assistem a um concerto de um ex-aluno. Estão ambos na década dos 80 anos, são cultos, sóbrios e exalam uma elegância sem data.

É visível a delicadeza entre eles.

Depois da conversa no ônibus, que não ouvimos, chegam ao apartamento confortável onde moram. A fechadura foi forçada, repara George. Mas ninguém entrou, nem roubou nada. Ainda.

Já no café da manhã quotidiano e agradável, na cozinha, o inesperado os visita. Anne se ausenta de si mesma e desespera George, que não sabe o que fazer. Mas logo ela volta a si e não se lembra de nada.

E, a partir daí, começa a prova mais difícil do amor. “Até que a morte os separe”.

Planos horizontais fixos e poucos “closes”, quando o diretor nos faz os olhos de George ou de Anne. No mais, a câmara aguarda, como nós, testemunhas mudas de algo que nos assombra. Freud dizia que a morte não possui inscrição no nosso inconsciente.

Mas o que importa aqui é o comportamento do amor.

George (Jean-Louis Trintignant, magnífico) encarna esse sentimento, assistindo Anne em tudo que ela precisa. E são tarefas cruéis para os dois.

Emmanuelle Riva, aos 85 anos, interpreta Anne com tal realidade, que nos comove e nos horroriza. Porque ela é o espelho do nosso futuro.

“- Você promete que não me leva mais ao hospital?” diz ela a George.

E um pouco mais tarde ajunta:

“- Não quero mais.”

George, aquele que sofre junto, só demonstra o que sente para nós, que vemos seus olhos abertos sondarem a noite e que fabrica um pesadelo que aponta o caminho cruel e necessário.

Michael Haneke, 70 anos, austríaco, ganhou sua segunda Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2012. A primeira foi para “A Fita Branca” de 2010. E uma enxurrada de prêmios importantes fazem crer que ele é o mais cotado para o prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar. E mais. “Amor” está entre os 10 melhores filmes do ano, também no Oscar. E outras três indicações, somam cinco no Oscar 2013: melhor diretor e melhor roteiro, ambos para Michael Haneke e melhor atriz para Emmanuelle Riva. Já foi consagrado como o melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro 2013. É forte concorrente a todas as cinco indicações do Oscar.

Entrevistado, ele disse:

“- Na minha família alguém sofreu algo assim e foi terrível para mim estar lá sem poder fazer nada. Este foi o ponto de partida do filme. Como lidar com o sofrimento de uma pessoa que você mais ama?”

Isabelle Huppert faz uma participação especial como a filha Eva, fruto do amor de George e Anne. Parece que Michael Haneke colocou nela esse “sem poder fazer nada” que ele diz que viveu.

A morte é certa. Mas sem dúvida mais suave para quem tem o privilégio de ter um amor ao lado.

Este post tem 0 Comentários

  1. Debora Ganc disse:

    Grata por mais este comentário.
    Vamos assistir confiantes de q. iremos gostar.
    gracias querida!

  2. Gostei mto da foto dos seus pais.
    Eles me pareceram juntos, porém separados.
    Gostei, sobretudo, do olhar de sua mãe: não é um olhar de posse, de “eu sou dona”, como vejo em tantos casais.

  3. heddy dayan disse:

    Le, me emocionei ao ler essa resenha tua, e ver a foto de teus pais acima. Realmente, ninguém precisa de close nesse filme, e a aparente frieza de Isabelle é digna de ser notada, já que talvez a mensagem do filme seja que temos que cuidar de nós mesmos antes dos outros, não sei se vc concorda… O filme é bem mais trágico do que eu imaginava, especialmente no final. Porém saí de lá com a certeza que é um filme muito especial, merece todos os prêmios do mundo, estou tentando reunir umas idéias sobre ele, e não é fácil, vc como boa psicanalista, analisou tudo muito bem. Sabe que o amor em demasia sufoca. Daí a tragédia de nossa entrega. Love you, HD

  4. Yra doce disse:

    Então…

    Sou do tempo que as meninas e moças sonhavam com o amor.

    Já mulher descobri que amor se constrói.

    E foi pensando e fazendo assim que chego em 2014 aos

    40 de casamento,,,fora os 4 de vai e vem….rsrsrs

    Agora passada dos 60 e antevendo os próximos que virão

    me preparo para a caminhada….que espero,desejo e….

    sonho que sejam leves….mesmo sabendo que é mistério.

    • Eleonora Rosset disse:

      Yra querida,
      Tenho a impressão de que vc é daquelas raras pessoas que soube construir um amor. E, por suas palavras, percebo que continua romântica!
      A caminhada vai ser com companhia e espero que a passagem seja leve… embora misteriosa, como vc bem disse.
      Boa sorte para todas nós que acreditamos no amor!
      Bjs

  5. Marcia disse:

    adoro suas criticas e cmentarios de filmes e me empolgo muito…
    mas confesso que com esse filme, nao me animei..comecei a assisti-lo e com 15 minutos parei..

  6. Eleonora Rosset disse:

    Marcia querida,
    O tema do filme pode ter mexido com vc… A gente não gosta de pensar que vamos morrer e que tudo pode ser mt assustador nessa hora.
    Dê um tempo. Quem sabe qdo vc se acostumar mais com a idéia de que tudo que é inevitável, deve ser pensado e preparado dentro da gente? Esse filme ajuda a pensar em tudo isso.
    Bjs

  7. Nilu disse:

    Uma coisa que me chamou a atenção no filme é a falta de espaço que o casal protagonista dá à filha dentro da história. Era um casal TÃO unido, TÃO amigo, TÃO cúmplice, que não cabia uma 3a. pessoa na vida deles. Já vi casais assim, os filhos são quase um impecilho para o exercício de um amor tão absoluto. O que você
    acha?

    • Eleonora Rosset disse:

      Nilu querida,
      Também senti distância, principalmente entre mãe e filha.
      E vc tem razão. Eles se bastavam. Não precisavam de mais ninguém. Parecia que viviam bem assim…
      Bjs

  8. Reco Assumpçao disse:

    Filme chato, escuro, sai no meio…

    • Eleonora Rosset disse:

      Reco querida,
      A resposta que eu dei paraa Marcia aí em cima pode servir para vc tb.Ou não… nem todo mundo gosta de filmes como “Amour”que mostram uma realidade de forma seca, sem enfeites.
      A velhice e principalmente a doença são assuntos pesados mesmo…Mas como vão acontecer com a gente, na melhor das hipóteses, acho que pensar um pouco nesses temas é bom.
      Bjs

  9. Lilita ferraz disse:

    Eleonora. Sou uma apaixonada pelo cinema,tenho 75 anos e o cinema sempre me levou a lugares desconhecidos da minha emoção. Hoje por acaso entrei no seu blog e estou encantada como comenta esses últimos filmes que vi. Serei uma leitora assídua.

    • Eleonora Rosset disse:

      Lilita querida,
      Desculpe a demora da resposta. É que eram muitos filmes para resenhar antes do Oscar!
      Fiquei feliz em saber que gostou do meu jeito de escrever sobre os filmes. Estou esperando seus comentários!
      Bjs

  10. Regina Ferro disse:

    Sabe Eleonora, sou uma pessoa que chora à toa, principalmente no cinema, porem em AMOUR foi uma coisa muito diferente…saí do cinema praticamente em choque…apesar de ter amado o filme, fiquei com uma dor tão grande, que me sufocou por muitos dias.Não consegui falar e nem queria falar sobre ele,porem não passava aquela dor e, qdo me perguntaram sobre o filme, minha primeira reação foi dizer:
    vc não viu?? Então não vá ver!!!!

    • Steven disse:

      Marc encore une fois du grand art.Un plasiir de lire tes lignes qui flirtent entre l’Audiaresque et le Darisque des grands jours; ce n’est que mon humble avis. Au sujet du peatage de plomb de Miss Whale Serena, je trouve que notre PAD national a encore mis la barre plus haut, c’est le Bubka du commentateur sportif ignare, imitant parfaitement Frane7ois Pe9russe des grandes heures, pour les deux minutes du peuple sur un sketch des commentateurs sportifs.N’en de9plaise aux blase9s de lire les critiques incessantes en ce qui concerne notre commentateur de notre sport favoris sur une chaeene publique (d’un e9ve9nement majeur que l’on ree7oit ge9ne9ralement en diffe9re9) que l’on envoie e0 grands frais, dans une des villes les plus che8res du monde, pour re9aliser une te2che pour laquelle il est paye9, et en tant que tel, il se doit d’avoir un minimum de professionnalisme (ne serait-ce que vis-e0-vis de son employeur et accessoirement des te9le9spectateurs), ne serait-ce que connaeetre son sujet.Bref tout cela pour dire que ce personnage ayant pratique9, dans sa tendre jeunesse, le jeu du tennis en lui-meame et qu’il a meame eu un classement (ben oui c’est possible) honorable (he9 oui, comme quoi !) ait de pareilles absences en ce qui est les re8gles du tennis. Meame si ce sport e0 e9voluer, les re8gles n’ont pas beaucoup bouge9es.Si j’e9tais son employeur (j’en vois de9je0 qui se gaussent, e0 raison, au fond de la salle 😉 ). je me dirai deux choses :1 – Alzheimer l’a touche9 (non ce n’est pas une gre2ce), il va falloir lui trouver une place en maison et faire un dossier e0 l’AI2 – J’ai l’exclusivite9 et de toute fae7on je n’ai personne d’autre e0 pour faire ce job. Et en tennis les autres c’est pire…Certains me diraient de m’abonner e0 une chaeene crypte9e pour suivre mon sport favoris et d’autres de couper le son et me passer un bon vieux hard rock pour me calmer, mais c’est quand meame extraordinaire de ne pas avoir de bons commentateurs sportifs dans la dure9e. Boris revient !C’e9tait mon coup de gueule.A+Et pourquoi pas Rodger pour un nouveau titre…. Come on !

    • Diana disse:

      Eh, et dire que moi j’ai failli rater mon avion il y a 8 ans et que a cause de ca, je suis meraie et j’ai un p’tit bout d’chou. A quoi tiennent les choses, quand meme, hein? Mais ce qui doit arriver arrive, donc te fais pas de bile. Baci!

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