A Melhor Juventude

“A Melhor Juventude”- “La Meglio Juventu”, Italia 2003

Direção: Marco Tulio Giordana

A passagem do tempo e o local onde vamos ver os acontecimentos na vida de dois irmãos, Matteo (Alessio Boni) e Nicola (Luigi Lo Cascio), é importante como um gancho para que cada um de nós relembre o que se passou na nossa própria vida, num instante fugaz. Assim, nossa juventude também aparece na tela da nossa mente. Vivemos e revivemos, conforme nossa idade e experiências de vida, essa juventude dos dois personagens principais. E depois a maturidade.

Parece que esse é o maior achado do roteiro de Stefano Rulli e Sandro Petraglia. Emoções, dúvidas, encontros e desencontros, amores, projetos, rompimentos, crises de consciência, sexualidade, tudo que é humano e juvenil vai acontecer na primeira parte do filme por três horas. Na segunda, com mais três horas, os personagens colhem o que plantaram. E a maior ou menor rigidez consigo mesmo, sela o destino dos dois irmãos.

As mulheres são importantes na vida dos dois, embora haja dificuldade de aproximação, insegurança. Numa conversa de Nicola com a mãe, que era professora já idosa, pode ajudar a entender melhor a relação dos dois irmãos com a mulheres:

“- Quando éramos crianças a impressão era de que a senhora gostava mais dos alunos do que da gente…”

A câmera passa pelas belas paisagens italianas mas não se detém nelas, apesar de magníficas. Interessa-se mais pelo rosto dos personagens onde aprendemos a ler o que se passa. Ao longo do filme cria-se uma intimidade entre nós e eles.

Os acontecimentos na Itália, políticos e sociais, no começo dos anos 1960 até o início do novo século, interessam quando envolvem os personagens, como a inundação de Veneza, a morte do juiz Falcone e o massacre cometido pela máfia, as Brigadas Vermelhas e a decadência de Roma.

Se na juventude de Matteo ele quer ajudar Giorgia (Jasmine Trinca) livrando-a do manicômio e do eletrochoque e envolve o irmão na empreitada, há uma ingenuidade própria da idade que quer liberdade para todos. Mesmo que seja para trazer mal para suas próprias vidas.

Já adulto e responsável pela filha Sara, Nicola mostra que aprendeu que a contenção é necessária para que a pessoa não faça tanto mal a si mesma.

O que há de diferente nesse filme é que a sua duração permite aprofundar o conhecimento da psicologia de cada personagem, mesmo sem sabermos o que vai acontecer. Ninguém fica de lado, nem é esquecido.

A trilha sonora esplêndida vai de “Blue Moon” a Freddie Mercury, Mozart e Cesária Évora e viajamos por toda a Itália. Na Noruega, Nicola escreve num cartão para sua irmã mais velha “Tudo é Belo!!!” Perguntado sobre o que mudaria em sua vida, ele responde:

“- Tiraria os pontos de exclamação. ”

O filme foi premiado no Festival de Cannes na mostra “Um Certain Régard” e passa em São Paulo trazido pelo Festival de Cinema Italiano. Quem gosta de cinema não vê as horas passarem.

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