A Primeira Coisa Bela

“A Primeira Coisa Bela”- “La Prima Cosa Bella”, Itália, 2010

Direção: Paolo Virzi

Nem começaram as imagens e já se escuta um locutor entusiasmado pedir palmas do público para a Miss Pancaldi 1971, praia conhecida de Livorno.

E quando vemos a primeira cena, onde moços, velhos e crianças estão ao redor de um palco improvisado, admirando as candidatas à mais bonita mãe daquele verão, ouvindo alguém cantar uma música romântica italiana, sentimos saudades de nós mesmos.

Porque houve um tempo em que íamos ao cinema ver comédias italianas. Os que tem mais de 50 anos, claro.

Era uma outra época, que o cinema revive como se fosse hoje, saudoso de si mesmo, em “A Primeira Coisa Bela”.

Esse é um dos maiores charmes dessa comédia, como só os italianos sabem fazer.

Faz tempo que não víamos a esperada mistura de risos e choro, acompanhados de gritos e palavrões, que não ofendem e fazem graça.

Tipos caricatos e, ao mesmo tempo, tão de carne e osso, gente mal educada e também tão gentil e carinhosa. E disposta a paixões fatais.

E o centro de tudo é sempre a família, onde se vivem os pequenos e grandes dramas, de onde se foge e para onde sempre se volta.

E nesse filme, o foco está na família de Anna Michelucci (Micaela Ramazzotti), eleita a Miss Mãe do Verão 1971, que terá sua história contada com idas e vindas no tempo. Um roteiro envolvente, escrito por um diretor talentoso, Paolo Virzi, 48 anos, herdeiro da tradição da comédia italiana.

Não é por acaso que um dos pais desse gênero de filme, Dino Risi (1916-2008) que fez “Perfume de Mulher” 1974, aparece sentado numa cadeira de diretor, em meio a figurantes de um filme dos anos 70.

E que Anna, quando mais velha, seja Stefania Sandrelli. Quem, com uma certa idade, não se lembra dela nos filmes de Pietro Germi, “Seduzida e Abandonada”1964 e em “Divórcio à Italiana”1961? Ou dirigida por Bernardo Bertolucci em “Novecento”1976? Ou ainda nos filmes de Mario Monicelli, Ettore Scola, Lina Wertmuller, Roberto Benigni, os grandes nomes do cinema italiano do século XX? Ela é uma lenda viva.

Parece que Paolo Virzi procura, com “A Primeira Coisa Bela”, a linguagem quase perdida com a nova Itália de Berlusconni.

E ela é reencontrada, porque nunca morreu de fato, nessa história em torno à Anna Michelucci, bela morena simpática e falante, casada com um tipo mal humorado e machista, que ela adora.

Será expulsa de casa com dois filhos pequenos (Giacomo Bibiani e Aurora Franca). E, apesar da vida difícil, que faz de Bruno (Valerio Mastrandea) um adulto triste, que se droga e que não sabe ainda de onde vem sua infelicidade e de Valeria (Claudia Pandolfi), uma moça-velha, desiludida e insegura, ambos vão amar para sempre aquela mãe carinhosa que tem a mania de cantar nos momentos difíceis.

Podemos até pensar que a “mamma” italiana pode ser, nesse filme, uma metáfora sobre a Itália alegre e bela, terra lendária e também “A Primeira Coisa Bela”, a mãe da infância que todos tivemos um dia, e que quase desaparece nos duros embates da vida. Reencontrá-la, lá dentro de nós mesmos, é descobrir de novo o prazer de viver.

Quando vocês forem saindo do cinema, já nos créditos finais, prestem atenção à canção que fala de um sorriso apaixonante, cantada por Malika Ayase, com ternura e charme.

E torçam para que o cinema italiano ressurja com força, para nos encantar sempre, como fazia antes.

Este post tem 0 Comentários

  1. Que linda essa foto com sua mãe, Eleonora.
    Ela parecia ser uma mulher comalegria de viver e você parece ter aprendido muito bem isso com ela, pois aparenta a mesma alegria em suas fotos.
    É gostoso de ver.

    • Eleonora Rosset disse:

      Sylvia querida,
      Minha mãe ainda tem esse sorriso, do alto dos seus quase 90 anos!Acho que aprendi mesmo. Falo isso no meu texto sb esse filme. “A Primeira Coisa Bela ” é o rosto da mãe que fica dentro da gente e vira alegria de viver!
      Bjs

  2. Eleonora, seria essa “bella canzione, essa bella ragazza” de qual vc fala nos créditos do filme e que ouço enqto lhe escrevo?
    http://www.youtube.com/watch?v=A0g1CUTw8Ls

    Por que você não fez um texto sobre o “As idades do Amor”? – ainda (estava) em cartaz – tbém relembrando esses bons tempos da comédia italiana. Principal/ porque na idade 3ª do filme, temos a Monica Belucci – elogiada p/vc e seus/suas leitores(as)- dando show ao conduzir um streap tease de Robert de Niro transformando o que seria grotesco em sublime, até antológico se quiser exagerar um pouquinho.

    E naqueles idos de 50, outra(s) “primeira(s) coisa(s) bela(s)” crescia(m0,- como a de sua foto c/ mamã,- para que hoje tivéssemos o usufruto de nosso patrimônio chamado Saudades.
    Bjs

    • Eleonora Rosset disse:

      Wilson,
      Essa músuca me encantou! E procurando fazer o que pensei que não sabia, postei uma versão com cenas do filme no meu Face!
      Vá ver esse filme que fala às suas raizes.
      Qto às ” Idades do Amor” gostei mt do episódio de Belucci e de Niro mas tinha tanto filme para comentar que esse acabou passando…
      Bjs

      • A mim tbém, Eleonora: Malika e sua música me pôs no clima de “Mi sono innamorato”!
        Seu clipe ficou perfeito, parabéns! Irresistível não ver o filme.
        Enfim, “vivendo e aprendendo” a gente vai enriquecendo a VIDA, mesmo que a tecnologia nos “assuste” um pouco, mas se ela nos seduz a gente responde “sempre dentro do possível”.
        A idade (3ª) do Amor, com De Niro/Monica real/ é o melhor. A 2ª fez-me lembrar as histórias interpretadas pelo Hugo Tognazzi – não à sua altura, claro! – e o 1º tempo do Amor, é jovem, mais fraco pra gente pós “38”(=pós 60), mas s/ dúvida exprimindo os tempos de hoje.
        bjs

  3. Sim este filme faz lembrar da epoca áurea do cinema italiano !!! Espero que volte ! Somente eles tem este lado de nos fazer sorrir e chorar e correr para o colo da Mama !!
    Paolo Virzi eh um otimo diretor e Micaela Ramazzotti (sua esposa) , cada dia mais linda !!
    Se vc tiver a oportunidade nao deixe de assistir ” Questione di cuore ” um otimo filme italiano com ela , assisti na mostra de cinema do ano retrasado .
    Bacio

    • Eleonora Rosset disse:

      Marcelo querido,
      Sp aprendendo com vc. Não sabia que a estrela e o diretor eram casados. Aliás espero que voltem tb as noticias sb o cinema italiano.
      Como vc bem disse, ninguém sabe fazer rir e chorar como o cinema italiano!
      Anoto sua dica, esperando que passe por aqui.
      Bjs

  4. Luiz Roberto de Paula Dias disse:

    por tudo que você postou Eleonora, parece-me mesmo uma volta aos bons tempos do ótimo cinema italiano,de Alberto Sordi, victório Gasman,,as beladades como de Gina Lollobrigda,Sophia Loren,Claudia cardinalli e por aí vai mas com as novidades da bela Italia de hoje e com uma música encantadora. Sinto-me tentado a coloca-lo como meu próximo filme a ser visto. bjs

    • Eleonora Rosset disse:

      Luiz Roberto querido,
      Aconselho a ver o filme rápido pq hoje fui ver e estava em um só cinema e… Não é dos melhores. Espaço Unibanco 3, rua Augusta.
      Eles só colocam block busters em mts cinemas. Uma pena…
      Bjs

      • Luiz Roberto de Paula Dias disse:

        Vou sim Eleonora, mas eu ví que no Espaço Itau do Frei Caneca está passando também Sala3 , foi lá que ví o ótimo “A delicadeza do amor”, depois te conto o que achei, bjs e obrigado

  5. Eleonora
    O filme é tudo o que vc descreveu; consegui ver e concordar com todas suas interpretações e sou solidário c/ a torcida pra mais filmes italianos. MAS… é um filme que gostei de ver, mas não gostei do filme. Não “me deu liga”. Non mi piace: a gritaria “a la italiana”, choros e ranger de dentes mesmo quando seus personagens sabem se emocionar. Aliás esses instantes foram ilhas de contato meu com o filme, e é claro, a música tema: “la prima cosa bella” que me pareceu anunciar mais do que oferecer. Não deu pra “colar” no filme; acho que estou perdendo a sensibilidade. Ou não! Recomendei a Amigos que vissem o filme, mas por conta e risco de sua escolha pessoal. E que lessem seu texto pra melhorar minha falta de entusiasmo.
    P.S. Nem eu mesmo ´tou acreditando na minha reação, mas é o que pude fazer e sentir!

  6. Eleonora Rosset disse:

    Wilson,
    Assim é a arte, assim é a vida. Depende de tantas pequenas coisas para agradar… E mesmo assim um gosta, outro não gosta. Já dizia Nelson Rodrigues que a unanimidade é burra.
    Se gostou da música, já estamos no lucro.
    Bjs

  7. Luiz Roberto de Paula Dias disse:

    Estou me deliciando com a bela musica, que você com razão, chamou a tanto atenção, uma docê canção de grande beleza, um cobtraponto a essa bela comédia, que me encantou pelo resgate de grandes momento do cinema Italiano de gerações atrás que nos fazia ir ao cinema com a certeza de grande diversão e belíssimas trilhas sonoras.
    Quem não se encantou com Vittório de siccca, Vittório Gassman Gina Lollobrigida, Sophia Loren, Alberto Sordi, claudia Cardinali, Anna Magnani e por aí vai,saí do cinema(como você bem colocou merecia uma divulgação melhor, apenas uma sal com 104 lugares não dá) com um gostinho de quero mais, bjs

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