Amor Pleno

“Amor Pleno”- “To The Wonder”, Estados Unidos, 2012

Direção: Terrence Malick

O amor pode ser tão simples quanto raro. Porque, dependendo da pessoa, torna-se complexo e difícil.

É um sentimento que convida a dar, mais do que a receber.

Terrence Malick, 70, tem ensinado isso, a seu modo, nos seus últimos filmes. “A Árvore da Vida” que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2011 e agora “Amor Pleno”, falam sobre o amor com beleza, imagem, luz e poucas palavras.

Uma expressiva jovem, com olhos brilhantes, brinca alegre com o namorado, também bonito e jovem, em um trem.

Em “off”ouvimos seus pensamentos:

“Renascida. Abro meus olhos. Eu me afundo. Noite eterna. Uma fagulha. Caio na chama. Você me tirou das sombras. Você levantou-me do chão e me trouxe à vida.”

Paris. E os dois se amam. Deitam-se na grama do parque e trocam sussurros. Na ponte dos cadeados, unem-se aos amantes eternos. E o sol brilha sobre o Sena.

A tapeçaria do unicórnio preso em seu cercado é uma famosa metáfora sobre o amor. Lenda e mito.

E quando eles sobem o Monte Saint Michel, sob a neblina e o rumor do mar, os dois ascendem ao plano mais alto do amor, a “Maravilha”.

Em “off” ela pensa:

“Subimos s degraus. Mãos se unem. Para a Maravilha.”

No pátio interno do convento, um jardim de rosas. Ela as acaricia com luvas e pousa sua cabeça no ombro dele, que roça a nuca dela com a boca.

“O amor nos faz um”, pensa ela.

Rosas vermelhas crescendo na neve. Outra metáfora sobre o amor. Espinhos e frio. Dificuldades.

“Nunca pensei amar novamente. Irei onde você for”, ela pensa.

Malick, nesse prólogo, mostra o amor em imagens. Os dois amantes, seus gestos e olhares e a câmara dançando em torno a eles. Metáforas tentam traduzir o que é o amor.

A primeira etapa é sempre a idealização.

“Meu doce amor. Finalmente. Minha esperança.” É ele que diz isso em “off”. Mesmo que não se entregue como ela.

Malick sugere aqui que, quando nasce, o amor prescinde de palavras ditas, preferindo os suspiros do coração e o corpo que fala. Não há razão. Só emoção.

Mas, como muitos de nós sabemos, é preciso trabalhar o amor, abrir os olhos e enfrentar as dificuldades. Porque só sobrevive o amor que não tem medo de tempestades nem de dúvidas.

Em “Amor Pleno”, além do amor humano (Olga Kurylenko, Ben Affleck e Rachel McAdams), vamos acompanhar o amor ao divino com o padre católico, interpretado por Javier Bardem, excelente na dor e expressivo nas reflexões sobre suas dúvidas.

Terrence Malick é considerado um gênio por muitos que prezam seus filmes como verdadeiras obras primas.

Sua carreira de 40 anos no cinema, conta com apenas seis filmes. Sempre indicado para prêmios em todos os festivais dos quais participou, ganhou a Palma de Ouro em 2011 e o Urso de Ouro em Berlim por “The Thin Red Line” em 1999.

Pouco dado a entrevistas, ele é também roteirista de seus filmes e filmes de outros diretores e é produtor. Nascido no Texas de um pai geólogo, com ascendência sírio-libanesa cristã, Terrence Malick é principalmente um humanista.

“Amor Pleno” agradará a quem aprecia belas imagens (fotografia esplêndida de Emmanuel Lubezki), música celestial (Hanan Townshend é responsável pela música original mas a trilha sonora vai de “Parsifal” de Wagner a Haydin, Berlioz, Sostakowitch, Rachmaninov, Tchaicovsky, Dvorak) e uma reflexão sem respostas sobre a humanidade, seus erros e também a vontade de acertar.

Nos créditos finais ao som da natureza, suas águas, vento e pássaros, Malick agradece à “Embaixadora da Boa Vontade”, Alessandra Malick, sua mulher. Esse detalhe diz muito sobre esse homem raro e sábio. E sobre seu filme “Amor Pleno”.

Este post tem 0 Comentários

  1. Marton disse:

    Parabéns pelo teu blog. Sempre bom discutir sobre cinema.
    Fui ver Amor Pleno e não gostei. É um filme chato, lento. Bonito, é verdade. A fotografia é, sim esplendorosa.
    Mas apesar do proposta ser bonita, do olhar dele ser sensível, o filme peca pela repetitividade e pela caricatura das mulheres.
    abraço grande

    • Eleonora Rosset disse:

      Marton querido,
      Acho que ” Amor Pleno” é um filme feminino. As mulheres é que gostam mais desse filme. Eu adoro tudo que o Terrence Malick faz pq ele cria espaços de contemplação que me levam a um estado de meditação agradável. É como se eu estivesse ao mesmo tempo num concerto, num ballet e numa exposição de fotos.
      Vc é mt simpático. Gostei de ler seu comentário.
      Bjs

      • Manoel Veridiano disse:

        Eleonora , boa noite e parabéns pelo blog ….acho que Amor Pleno é um filme humano , de escolhas , dúvidas , fé , que não faz guerra disso empurrando nada goela abaixo e o padre quase apostatando da fé ainda assim não desisti de arregaçar as mangas para encontrar Deus no próximo , na alegria ou no sofrimento , afinal a luta é sempre contra nós mesmos , nossos medos , dúvidas , idiossincrasias , o dia a dia , o barulho moderno , o silêncio …O filme é sensível , de decisões difíceis …não entra muito nessa questão de lutas de gênero moderno ainda que estejam lá ….A revolta por não se saber quem é está lá ao vivo e a cores e ao som de música clássica de qualidade , a incógnita do amor entre casais atreladas às dívidas que o tempo vai impondo por falta de regarem jardins com a ausência de habilidade para contornar situações difíceis ….É sobre a disposição para manter o ” auge” …que passa e o que é que fica ? Respeitando todas as opiniões ele é um filme que precisa ter aquela lupa para ver certas coisas que nos acompanham ao longo da vida como quando vomitamos palavras erradas sobre os outros ou os outros em nós ….é um filme sobre experiência de vida , sem julgamentos , tendo como norte o arrependimento , o perdão a graça , o continuar mesmo com a sensação de vazio ….dançando no escuro ou sob a luz da poesia , do cinema , da literatura , do trabalho , do descanso , do colo , da dor , do divã …é possível dançar sem música mas a vida se encarrega de por uma trilha e o magistral Malick conseguiu fundir tudo nesse filme ….com cores no escuro e com uma certa escuridão que há nas cores , ou seja , o melhor da vida entre erros e acertos ( sim eles acontecerão ) é a tal da moderação , o tal do ir em frente o tal do amar com amor sabendo que não somos amor mas nos permitindo ser movidos por ele ,….O melhor filme de todos os tempos para mim chama-se Ben-Hur e o segundo chama-se ” A Árvore da Vida ” esses dois filmes geniais separados por décadas mas que para mim estão ligados ….portanto sou suspeito para falar sobre este poeta da imagem Terrence Malick …..mais uma vez parabéns pelo seu blog , o salvei aqui nos meus favoritos …..Paz e bem ao coração de todos …..

  2. Yra doce disse:

    Há quem não tenha definição para o amor.

    Há outras e outros que tentam.

    A minha é mais seca.

    Fico com a sua.Delicada e tocante.

Deixe seu comentário

Obter uma imagen no seu comentário!