Copacabana

“Copacabana”- França, Bélgica, 2010

Direção: Marc Fitoussi

Pelo menos desde Villegaignon (século XVI), todo francês que se preze sonha com um Éden brasileiro, uma França Antártica. Praias sem fim, bossa nova de fundo musical e um povo com jeito alegre e caloroso de ser, em um eterno carnaval.

O diretor Marc Fitoussi chamou seu segundo longa “Copacabana” e, inspirado nesse Brasil distante, paradisíaco e irreal, criou Babou, a francesa sonhadora de meia idade, imatura e rebelde, de mini saia e coque desmanchado, casaco de pele e olho muito pintado, que adora música brasileira e quer se mudar para o Rio, onde, pensa ela, a vida é bem baratinha.

Interpretada por Isabelle Huppert, uma das maiores, senão a maior atriz francesa da atualidade, Babou é uma personagem totalmente diferente das que nos acostumamos a ver a atriz fazer. E, por isso mesmo, mostra bem a versatilidade de que ela é capaz.

Mas não se enganem, longe de ser simples, Babou é contraditória e impertinente. Generosa e egoísta. Filha da geração “maio de 68”, irrita a filha, que quer seguir o seu próprio caminho.

Isabelle Huppert, com aquele talento de sempre, faz de Babou um personagem “ame-o ou deixe-o”.

O centro da trama em “Copacabana” é a relação mãe e filha, Babou e Esmeralda (Lolita Chammah). Mas como não é um filme de Michael Haneke, com quem Huppert fez “A Professora de Piano”, mãe e filha só se estranham, sem muito drama.

Esmeralda vai se casar e não quer a mãe no casamento. Por isso inventa que ela foi para o Rio de Janeiro.

“- Não quero que você me envergonhe”, diz a filha.

“- Então não me chame mais de mamãe”, responde Babou.

E, como está desempregada e falida, lá vai ela para a Bélgica, balneário de Ostende, uma praia em tudo diferente de Copacabana. Fria, ventosa e com sol apenas duas semanas por ano, atrai turistas incautos, de países mais frios ainda, que compram apartamentos “timeshare” de corretores treinados para vender sonhos.

O toque sutil dessa comédia leve, que não arranca gargalhadas de ninguém mas que atrai a simpatia para Babou, por conta do eterno adolescente que vive em nós, é que, na vida real, Babou e Esmeralda são mãe e filha. Lolita é a mais velha de três irmãos, nascidos do casamento que dura já 28 anos entre sua mãe e o diretor e produtor Ronald Chammah.

Em “Copacabana” atuam juntas pela primeira vez.

E, eu diria que Isabelle Huppert adorou fazer Babou, que deve ter algo a ver com ela e que foi divertido contracenar com Lolita que vive um tipo de filha tão certinha. Deve ter feito muito bem para a relação das duas, posso apostar.

A trilha sonora, toda brasileira, vai de Jorge Benjor a Chico Buarque e ajuda a embalar a história dessa francesa que pensa que conhece o Brasil e que sabe sambar…

 

 

Este post tem 0 Comentários

  1. Sonia Clara Ghivelder disse:

    Olá querida
    Seu original e interessante comentário nos estimula a assistir “Copacabana”.
    Percebemos sempre nas entrelinhas o seu conhecimento e amor pela 7a arte.
    É sempre um prazer estar por aqui nesse canto onde se cultiva cultura e entretenimento.
    Sonia Clara

  2. Eleonora Rosset disse:

    Querida Sonia Clara,
    Certo. Cultiva-se cultura e entretenimento e tb amizade. Sei que vc comenta lindamente os meus textos pq é movida por nossas afinidades e carinho.
    E é exatamente por isso que gosto tanto de estar aqui, escrevendo para mentes como
    a sua: brilhante e afetuosa.
    Bjs

  3. SONIA CLARA GHIVELDER disse:

    Minha querida,
    Movida sou pelo afeto, carinho e admiração. Meu caso em relação a vc. Mulher culta que cultivo com alegria desejando sucesso em suas realizações como esta que considero de grande valor pela finalidade verdadeira e love affair with the movies.
    Muito obrigada
    bjs
    Sonia Clara

  4. É tão bom alguém cultivar cultura, entretenimento e amizade no mesmo pacote.
    Vc é singular, Eleonora.
    Qdo a gente pensa q o mundo vai terminar em 2012, é só entrar no seu blog, q a gente vê q ainda tem mto chão pela frente, mta água pra rolar debaixo dessa ponte q vc estende para nós.

  5. Rosane Queiroz disse:

    Olá Eleonora,

    sou jornalista e estou precisando muito falar com voce. Pode me passar um contato de email ou imprensa? Obrigada, Rosane

  6. Ari Persan disse:

    Adorei a cronica! ja tenho progama para hj a tarde, vou ver copacabana! e parabens, esta uma maravilha seu site,objetivo,e elegante.

    • Eleonora Rosset disse:

      Ari querido,
      Que bom ver vc por aqui com todo o seu charme!
      Meu blog ficou mais iluminado com a sua presença!
      Bjs mil

  7. edson disse:

    Realmente uma ótima indicação… e o inusitado do final, me surpreendeu…
    Bom fim de domingo.

  8. Carlos Fernando disse:

    Oi,Leonor.
    Estava assistindo ao programa do Amauri, quando ouvi falar do seu Blog, corri para o computador e vim conferir, amei, logo de cara. e aproveitei para ver o que vc falava sobre dois filmes que estou querendo ver, mas estava meio em dúvida e graças a sua resenha, vou assistir tranquilo e sei que vou gostar: Copacabana e O dia em que eu não nasci.
    Obrigado pela ajuda

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