Esses Amores

“Esses Amores” - “Ces Amours- là”, França, 2010

Direção: Claude Lelouch

Uábadábadá, uábadábadá…

Esse refrão ritmado de Francis Lai soa aos ouvidos de toda uma geração como uma recordação de romance e sofisticação.

Faz parte da trilha sonora de um dos filmes que mais marcou a carreira do cineasta Claude Lelouch, que nasceu em Paris em 1937, filho de um judeu da Argélia.

Ele ainda não tinha 30 anos quando dirigiu “Um homem e uma mulher”(“Un Homme, une Femme”), com Anouk Aimée e Jean-Louis Trintgnant. Um piloto de corrida e uma bela mulher, ambos viúvos, se encontram, por acaso, no colégio interno onde seus filhos estudam.

O uso da cor para mostrar as cenas do presente e o preto e branco para o passado dos personagens, era um charme a mais no filme que tinha uma música de Vinicius de Mores e Baden Powell, “Samba da benção”.

“Um Homem e Uma Mulher” fez tanto sucesso que ganhou dois Oscars em 1967: melhor filme estrangeiro e melhor roteiro original. Já tinha levado a Palma de Ouro em Cannes em 1966. E Anouk Aimée ganhou o Bafta inglês e o Globo de Ouro como melhor atriz.

Houve uma continuação de “Um Homem e Uma Mulher”, 20 anos depois, com os mesmos atores, que levou ao cinema quem tinha visto e se encantado com o filme de 1966.

Mas Lelouch é um diretor de outros grandes filmes, também sucessos de público como “Viver por Viver”(“Vivre pour Vivre”) de 1967 com Yves Montand, Annie Girardot e Candice Bergen e “Retratos da Vida”(“Les Uns et Les Autres”), de 1981 com um grande elenco liderado por Nicole Garcia, Geraldine Chaplin, Michel Piccoli, Fanny Ardant com dança (Jorge Donn, inesquecível no Bolero de Ravel), música e guerra, em um grande painel que começa em 1936 e vai até os anos 80.

Ao completar 50 anos de carreira e já com 43 filmes no currículo, Claude Lelouch resolveu fazer de novo o que sabe fazer como ninguém: acompanhar os acontecimentos da história do Ocidente e fazer com que se misturem à vida dos personagens que ele cria.

Dessa vez ele conta os amores de Ilva (Audrey Dana), uma bela francesa, durante os anos que antecedem, durante e após a Segunda Guerra Mundial.

Romance, sexo e intriga contracenam na França tomada pelos nazistas, onde é mostrado o papel da resistência francesa, vê-se os judeus sendo exterminados nos campos de concentração e presencia-se a invasão da Normandia com a entrada dos americanos na guerra, decidindo a vitória dos aliados em 1944.

Lelouch homenageia o cinema em ”Esses Amores”, começando pelos irmãos Lumière e o primeiro filme falado, “O cantor de Jazz”, passando pelos diretores que ele ama, nos trechos de filmes que passam no cinema ”Palace” que é um dos cenários por onde transitam os personagens, até “closes”dos atores que trabalharam em seus filmes no final de “Esses Amores”.

Como sempre, a música é central na trama que vai contar histórias paralelas que depois se encontram. Ouvimos assim, “Que Reste-t-il de Nos Amours?” cantada por uma francesa acompanhada de um acordeão, “Stormy Wheater” no Cotton Club em New York e o Concerto n. 2 para Piano de Rachmaninoff que se ouve no campo de concentração tocado por um dos prisioneiros e que abre e fecha o filme.

Ilva, que muito amou, vai ser condenada por um crime que não cometeu? Como diz o advogado/ pianista judeu, será que houve um suicídio disfarçado em assassinato?

A história dessa mulher, mesclada aos dramas de uma guerra cruel e um pós-guerra difícil para todo mundo, são os temas que veremos nesse filme, transbordante talvez, atordoante, mas certamente a síntese da obra do grande Claude Lelouch.

Todos os elementos dos outros filmes aqui estão presentes, contados da maneira talentosa com que Lelouch sempre encantou as platéias numerosas de seus fãs.

Claude Lelouch é um homem apaixonado pelo romance. Como ele mesmo diz no fim do filme, pela boca de um personagem, cineasta como ele:

“- E foi por causa daquele beijo que eu filmei tantas histórias de amor nesses 50 anos”.


Este post tem 0 Comentários

  1. Sonia Clara Ghivelder disse:

    Querida Eleonora,

    Cada vez mais leio com prazer o teu texto apurado e sensível.
    Tive o prazer de conhecer o Lelouch quando aqui esteve.
    Encontrei nele as mesmas raízes. Somos judeus de origem marocaine. Ele tem a fala mansa e o accent marocain permanece.. É extremamente simpático.
    Vou assistir este filme e sei de cara que vou gostar por tudo que vc tão bem descreveu.
    Suas escolhas são sempre benvindas.
    Até breve,
    Bjs,
    Sonia Clara

  2. Sonia Clara Ghivelder disse:

    OI, Eleonora
    Vou aproveitar o espaço e enviar para o Wilson, seu seguidor amigo o meu agradecimento pela menção gentil que ele fez lá no blog dele.
    Obrigada Wilson e sempre o melhor para vc e todos!
    Bjs,
    Sonia Clara

  3. Eleonora Rosset disse:

    Minha querida Sonia Clara,
    Que inédito uma amizade começar através dos meus filmes. Como boa aquariana, prezo a amizade como um sentimento precioso!
    Espero que vc e o Wilson possam solidificar essa amizade nascente através dos belos textos que vcs dois escrevem tão bem!
    Bjs

  4. Não consigo ter o mesmo ritmo de sala de cinema que vc, Eleonora p/ postar suas sugestões e vc, Sonia Clara assistindo e comentando na sequência. Mas a Vida é assim mesmo: plena de ritmos diferentes e nem por isso impossíveis de serem ajustados. Se não marco presença em todos os filmes é porque não os vi. Desta vez, embora sem ter assistido este, tenho pretextos afetivos para tanto. Porque o seu texto Eleonora me colocou no túnel do tempo c/ as várias referências do Lelouch desde os idos dos 60, década. Viajar na lembrança é testemunho de tempo vivido. São saudades que nos movem no presente em direção ao futuro.
    Tbém porque essa sua sala privè de cinema faz magia como essa de aproximar (nossas) idéias de pessoas que não comparecem aqui, por várias razões pessoais que temos que respeitar, mas que se comunicam cvc, c/ a gente, fazendo visitas e leituras silenciosas. E aí acontecem MAGIAS que se personificam, como é o caso de Sonia Clara que através de vc sinalizou estarmos em sintonia. Sonia Clara que nos é conhecida através das atuações de sua arte da imagem, (cinema e tv), de seu conhecimento e que me faz companhia no meu espaço de dicas, idéias & serviços “seramigo”, certamente através de seu Blog. Grato, Sonia Clara, por ter registrado a chegada de meu texto até vc.
    Fan-tás-tico,.. “O” cinema, – lazer e aprendizado,- interagindo através da “Psicanalista que vai ao Cinema” e fazendo de idéias AMIGAS, que necessariamente não precisam ser convergentes, companhias AMIGAS, apesar de não serem conhecidas pesoalmente.
    Adoro os filmes do Lelouch, e agora, depois de tudo, enfim, vou assistir com maior prazer ainda e enriquecido tbém com essas informações pessoais que vc Sonia Clara passou sobre o diretor. Gosto de histórias vividas e de RAÍZES porque são elas que se movem na mesma terra fértil que nos fazem frutificar. Somos os galhos, flores e frutos dessa Árvore chamada CINEMA, fertilizada por você Eleonora. E foi nela também que conhecemos e interagimos com a Sylvia Manzano, a “Menina” de texto poético; expontânea, provocadora, de calorosos e sugestivos pitacos. Uma delícia de presença, ela,… “até mesmo com sua paixão pelo PT.” (Ai, my God, vai sobrar pra mim….mas, “cêsabe, “te” gosto, Sylvia).
    Então, é final de semana, vamos (tbém) ao cinema, nem que seja por aqui.
    Abs e Bjs a vcs, “Meninas” Eleonora, Sylvia, Sonia Clara; às “Meninas e Meninos” que já enviaram comentários por aqui, – que leio c/ muito interesse, certa/ Eleonora o faz, não importa o tom, a cor, o som – e tbém p/ a(o)s que fazem suas visitas aqui silenciosas, e nem por isso não sejam percebida(o)s.
    Como disse a Eleonora, pra escrever aqui não precisa ser “artista, articulada e cultuada” como a Sonia Clara, nem como a Sylvia Manzano, escritora c/ livros publicados. Basta ser VC e suas “tecladas”.
    Até breve!

  5. Ser Amigo,
    O sábado aqui estava cinza e enfarruscado, but now the sun shines in the sky, suddenly blue.
    Kisses and hugs.

    • Eleonora Rossey disse:

      Wilson,
      Só vc para escrever e descrever esse grupo tão especial que se formou nesse espaço do meu blog. Uma sintonia receptiva. Meu grupinho especial que gosta de escrever e (aposto), todo mundo adora ler e seguir.
      Obrigada pela amizade!

    • Eleonora Rosset disse:

      Sylvia, dearest,
      You are so sweet!
      Hugs and kisses

  6. lilian disse:

    Le querida, da vontade de ir correndo assistir,delícia!
    Tks
    Bjs

  7. Sonia Clara Ghivelder disse:

    OLá, Eleonora
    Pois então…fiquei pensando na entrevista que li sobre o Lelouch em que ele diz que “Esta é a sua última curva.
    Lembrei-me portanto de um curta que ele fez em 1978, há trinta e um anos atrás que ele fez numa Ferrari adaptando uma camera giroscopicamente estabilizada e junto com um piloto circulou por quase toda Paris em sete minutos!!
    Este filme nos mostra um Lelouch apaixonado como sempre pelo amor tema e protagonista de todos os seus filmes. Neste,em particular, é visível a homennagem que ele faz
    a si mesmo e seus queridos atores e amigos nos mostrando desde Jean Gabin, Michelle Morgan, Arlety, Louis Jouvet, Vivien Leigh, Clark Gable e tantos outros.
    O filme tem momentos farsescos relativos ao nazismo e até mesmo a farda severa do oficial alemão fica amarrotada por conta de algum sentimento por causa do amor perdido da protagonista(Ilva) Audrey Dana. Inclusive, ele protagoniza um momento quase surrealista quando toca a “Marsellaise” num instrumento musical inusitado.
    O desembarque da Normadia emociona e ao mesmo tempo,dá para perceber o tamanho robusto da produção bem acabada deste filme.
    Espero que a visão pessimista ao dizer que esta seria a sua última curva não pare por aí.
    Desejo firmenente que ele continue dobrando muitos quarteirões para nos encantar.
    Mas se vc me perguntar quais os filmes dele que mais gosto, eu vou te dizer que ainda prefiro “Un homme et une femme” e “Les uns et les autres” com aquele fantástico “Bolero”, de Ravel, dançado pelo Jorge Don.

    Bjs,
    Sonia Clara

    • Eleonora Rosset disse:

      Sonia Clara querida,
      Pois é. Parece que Lelouch fez a sua obra prima antes mesmo dos 30 anos. ” Un Homme, Une Femme” é imbatível.
      Fico pensando em como é difícil viver à sombra do pp talento qdo ele surge no começo da vida.Ter que se superar na próxima gde obra que virá é um pesadelo….
      Por isso talvez ele fale dessa ” última curva”…
      Bjs

  8. Antonio Carlos De Oliva Maya disse:

    Eleonora, Como vai?
    Sou o Antonio Carlos, filho do Tito e Nair. Remexendo fotos antigas, achei uma sua, criança, no Corcovado, onde estamos Tia Julia, Tio Claude, Ivete, Voce, sua irmã e eu.

    Se houver interesse, peço seu endereço de e-mail para que eu possa enviar.

    Um abraço
    Antonio Carlos
    acmaya1@gmail.com

  9. Eu tb fiquei querendo ver essa foto.
    Posta ela, qdo receber?

  10. Lane disse:

    Ola’Eleonora,
    Adorei esse filme. Lindo, sensível, apaixonado. Acho que ele homenageia tanto o cinema quanto o amor e o próprio Lelouch! No final, há a cena da “saída do cinema”que me lembrou muito a cena do primeiro filme dos Lumiére “A saída da fábrica”! Isso mostrou, pra mim, que o filme é uma homenagem do diretor ao próprio cinema, em primeiro lugar e à importância do amor na construção dessa forma de arte. Se Lelouch encerra sua carreira (espero que nao) com uma alusão ao filme dos irmaos Lumiére, justamente um filme que abre a historia do cinema, penso que é mais um elemento que aponta para essa grande homenagem ao próprio cinema… Lindo filme.

  11. Letícia Alves disse:

    Olá Eleonora, encontrei o seu site durante uma busca pela trilha sonora desse filme maravilhoso. Desde muito menininha amo assistir filmes, é uma paixão que só perde para a leitura.
    Comecei a assistir esse filme como uma forma de me distrair dos aborrecimentos diários e conseguir dormir, mas ele me acusou insonia, rsrsrsr, com sua trama envolvente e extremamente bem articulada, trilha sonora encantadora e talentosos artistas não consegui nem mesmo pestanejar, assisti todinho e ainda fiquei um bom tempo assistindo aos extras disponíveis no dvd para tentar absorver mais um pouco do encantamento do Lelouch, ja havia assistido os dois filmes dele: um homem, uma mulher. e pensava já ter conhecido toda sua genialidade, que bom que estava enganada, pois ele banqueteou meus sentidos e tive uma experiência maravilhosa ao mais uma vez me encantar com sua obra. Um abraço.

  12. carlos augusto moraes rego disse:

    eleonora
    vi o filme apenas ontem, na TV. Achei lindo. Fui procurar detalhes, quando achei o seu blog, que , alias, jah sabia da existencia. Pelo comentario do Antonio Carlos Maya, animei-me a fazer um meu, no mesmo sentido. Fui um chato que, admirado pela sua extraordinaria beleza, desde os cinco anos, ia muitas vezes ate Sao Paulo, lah no bairro Perdizes, para sonhar perto do inalcansavel. Sou neto da Carmem, primo da sua avo Julinha. Fui muito amigo de sua tia Zaide (Hassel, nas apresentacoes teatrais), com quem ia muito ao cinema/teatro, sendo admirador tb do talento de seu pai e da fantastica maternidade da Ivete. Nao entrei para falar de Lelouch, embora discorde de voce no tocante ao melhor filme deste cineasta da Nouvelle Vague, egresso, como outros, do “Cahier de Cinema”. Esta minha manifestacao tem algo a haver com o filme. Um repensar. Repensar dos anos 60/70, repensar de umafamilia alegre e culta, repensar na beleza, que eh sempre eterna. Atualmente, por motivos profissionais, moro em Brasilia, onde tenho a minha terapeuta, mas, se morasse em Sao Paulo, iria pedir para que voce me indicasse um/uma,eis que a unica manifestacao que poderia fazer com voce, como sempre aconteceu, seria para dizer como eh possivel que haja uma mulher tao linda. Abracos, ateh um proximo filme analisado em seu blog.

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