Lincoln

“Lincoln”- Idem, Estados Unidos 2012

Direção: Steven Spielberg

“Lincoln” é um filme de Steven Spielberg, 66 anos, dono de dois Oscars por “A Lista de Schindler” (1993) e outro por “O Resgate do Soldado Ryan” (1998).

Mas é um filme muito diferente de outros que ele dirigiu como o lírico “E. T.” (1982), “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), ”Tubarão” (1975) ou “Cavalo de Guerra” (2011).

Aqui ele não trabalha com sua imaginação fabulosa. Aqui é a História que guia seus passos.

É como se o famoso diretor deixasse a cena montada para o grande ator inglês, de 55 anos, brilhar: Daniel Day-Lewis, em sua interpretação como Lincoln, é o foco da atenção.

Por isso, em poucas cenas de “Lincoln” reconhecemos a marca Spielberg. O filme se passa quase todo em salas enfumaçadas e escuras e há muitos diálogos longos. E foi de propósito. Diz Spielberg:

“Eu não filmei “Lincoln” discutindo planos, esquadrinhando efeitos. Deixei a câmara com o fotógrafo (Janus Kaminski), a maior parte do tempo e fui dirigir os atores. Gastei pouco tempo atrás da lente.”

O diretor deixa claro que não buscou o espetáculo. Empenhou-se em transmitir ideias e princípios, encarnados nos personagens de “Lincoln”, principalmente na figura do 16º presidente americano, no século XIX, defensor da democracia como regime político para o seu país e militante abolicionista.

O filme começa mostrando aquela que foi uma guerra civil cruenta, corpo a corpo na lama fria, baionetas ensanguentadas. O sul dos Estados Unidos contra o norte, a Guerra de Secessão, com Lincoln como presidente.

A economia do sul do país, baseada no cultivo do algodão, precisava de muita mão de obra e se utilizava da escravidão para conseguir mais lucros. Contra esse estado de coisas, homens do norte, liderados pelo presidente Lincoln, no quarto ano da guerra (1865), tentam fazer passar a 13ª Emenda à Constituição americana, que decretaria a abolição da escravatura em todo o país e, em consequência, acabaria com a guerra, sendo o sul derrotado.

Lincoln foi vitorioso nessa luta e conseguiu que o sul se rendesse ao norte, abdicando de suas ambições separatistas.

Mas o filme mostra como foi difícil esse outro corpo a corpo entre republicanos e democratas, voto a voto sendo conseguido com habilidade política e nem sempre de forma ética, com oferta de cargos e compra de congressistas.

Spielberg não assinou com “Lincoln” um filme de patriotadas. Contou o que aconteceu.

O roteiro de Tony Kushner baseou-se em parte no livro da historiadora Doris Kearns e a aura mítica em torno ao presidente Lincoln ficou por conta da criação magnífica do ator Daniel Day-Lewis, duas vezes ganhador do Oscar de melhor ator com “Meu Pé Esquerdo” (1989) e “Sangue Negro” (2007).

O filme conseguiu 12 indicações para o Oscar incluindo melhor filme, diretor, ator para Daniel Day-Lewis, ator coadjuvante para Tommy Lee Jones, atriz coadjuvante para Sally Field, que faz a mulher de Lincoln e outros prêmios técnicos.

Talvez Spielberg não ganhe dessa vez, embora seja o favorito, com o maior número de indicações. No Globo de Ouro foi Daniel Day-Lewis que levou o prêmio.

Não importa.

O nome de Steven Spielberg já está inscrito na história do cinema.

Este post tem 0 Comentários

  1. Bebeth Menezes disse:

    Literalmente achei o filme espetacular. Com êle conhecemos um pouco mais a história dos Estados Unidos e desta figura tão importante que foi Abraham Lincoln. O trabalho de Daniel Day Lewis é fantastico e sem dúvida vai receber o Oscar. Dos filmes indicados ao Oscar este e “Amor” são sem duvida os melhores. Adorei o seu comentário sobre o filme, muitissimo bem feito. Parabéns!

    • Eleonora Rosset disse:

      Bebeth querida,
      Que bom que vc gostou da resenha. O filme é perfeito mas para pouca gente,infelizmente. É uma aula de História e política memorável!
      E o Daniel Day Lewis é mais que perfeito.
      Adorei ” Amour”. Para mim foi o melhor do ano.
      Bjs

      • Bebeth Menezes disse:

        Eleonora, acho que concordamos muito quanto ao nosso gosto por filmes. Quando li a sua sinopse, me vi ali, não quanto ao numero de irmãos mas quanto aos cinemas frequentados como o saudoso cine Bijou e agora o saudoso Belas Artes. Quanto ao filme “Amor”, é sem dúvida o melhor do ano. Ali vemos o amor sublimado e vivi isto com a escolha que o meu pai como médico e professor fez quando minha mãe teve um derrame. Pude então entender melhor a atitude dele ao deixar que ela tivesse uma morte digna e não uma vida indigna. Isto é amor. Quero também te contar uma coisa muito interessante: dei carona algumas vezes para sua mãe ir para o Shopping Iguatemi com uma amiga dela, mãe de uma amiga minha, D. Cinira (que infelizmente já se foi). Beijos e continuaremos indo sempre ao cinema.

        • Eleonora Rosset disse:

          Bebeth querida,
          Que graça vc lembrar da mamãe! Ela fez 90 anos e está ótima!
          Foi com ela que eu aprendi a gostar de cinema.
          É minha paixão!
          Bjs

  2. theodore disse:

    Para não parecer uma criatura amarga e ressentida com tudo e todos, gosto de muitas coisas no cinema, que é uma paixão na minha vida desde catatau (minha primeira vez foi com uma reprise de “Peter Pan” num cinema de pulgas no interior do estado), e uma delas com certeza foi “Lincoln”, aonde Spielberg conseguiu evitar sua pieguice cafona usual (em algumas cenas ele da uma derrapada no velho vicio, como no momento inicial com os dois soldados, constrangedora…) e construir um filme forte, bem produzido (o que nos dias de hoje ja é algo..), e com um estupendo ator: Daniel Day Lewis constroi um Lincoln fisicamente fragil, um trapinho (quando ele aparece envolto em um chalinho, conversando com seu secretario de Estado a luz de velas em pleno inverno de 1865, atinge a perfeição, ja que Lincoln não possuia uma saude muito forte mesmo, sofria dores atrozes na coluna devido a um acidente na mocidade..), mas dono de uma força de vontade herculea. Consideremos que ele na verdade não era um militante abolicionista, pois nutria o bom e velho racismo americano, o que não o impediu de considerar que a escravidão era um impecilho para o desenvolvimento industrial do sul, que ele almejava, em um pais ainda majoritariamente agricola (apenas no norte existia uma nascente industrial, mas que dependia de materia prima do sul, principalmente a industria textil e de alimentos..) e tb era um contraditório constitucional, ja que não havia ninguem em territorio americano, nem no sul, que pudesse afirmar seriamente que os negros não eram humanos, então… A primeira-dama de Sally Fields é uma beleza, mas Mary Todd era muuuito mais dificil e desequilibrada, Sally parece apenas uma dona de casa sofrida, que gasta tubos com decoração de interiores (mas todas as suas sucessoras foram gratas a ela, que transformou o chiqueiro que era a então Casa Branca em um lugar minimamente habitavel..). Existe uma cena no filme que considero memoravel: a discussão entre o casal, aonde todo o sofrimento e diferenças afloram num DR fabuloso, ambos brilhantes! Eles tiveram um quarto filho, Edward, que não aparece no filme, e que morreu ainda jovem, depois do pai, o que fez com que Mary terminasse a vida completamente louca. Confesso que fui ao cinema tremendo, diante de um “Lincoln” feito pelo mesmo diretor de “Cavalo de Guerra” (Cristo, como permitiram??!!..), ja que Lincoln é Deus para os americanos, e um mito envolto em mentiras tb. Mas é belissimo, e sai do cinema com um pouco de inveja dos norte-americanos, por terem um homem como esse em sua historia (mesmo a horrenda guerra civil foi um ato movido por desejos e convicções, ainda que algumas erradissimas, mas forjou o inabalavel tecido federativo dos EUA), ja nós, por aqui, o que temos além de cafajestes e iletrados (ou ambos, o que é pior), essa canalha estéril, e a culpa nem é do Deodoro… Desculpe pelo texto longo, mas história tb é um dos meus vicios… Estava devendo uma opinião favoravel nesse espaço, para anuviar a impressão de sociopata insatisfeito.
    Aproveito que o assunto é história para indicar um filme que me emocionou muito: “Cave of Forgotten Dreams”, de Werner Herzog, que esta em reprise no Cinesesc, em 3D (afinal se justifica essa cafonalia tecnologica…), e mostra a arte humana num momento em que tudo ainda não havia dado errado, qdo o homem ainda habitava o Éden, quase um puro… Que pena, em que momento nos transviamos?…

    • Eleonora Rosset disse:

      Theodore,
      Fiquei comovida com a sua bela resenha do filme. Os pontos que vc iluminou são cenas-chave desse filme escuro e inteligente.
      Eu tb fiquei com inveja dos americanos por terem alguém como Lincoln em sua História. Um homem de carne e osso na criação estupenda de Daniel Day-Lewis.
      Obrigada amigo

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