Lunchbox

“Lunchbox”- “Dabba”, India/Alemanha/Estados Unidos/França, 2013

Direção: Ritesh Batra

Quem conhece Mumbai na India, não se espanta com a imagem de trens apinhados que combina com a outra do telhado coalhado de pombos. Nas ruas, a multidão fervilha no meio de um trânsito caótico de carros, bicicletas, motos, “tuc-tucs”, carroças e sabe-se lá o que mais.

Ninguém diria que é possível haver solidão nessa cidade. Mas sim, existe.

O viúvo Saajan Fernandes (Irrfan Khan de “As Aventuras de Pi”) segue uma rotina solitária, da casa para o trabalho e daí para casa de novo. Ele não é um velho mas já passou da meia-idade e está perto de aposentar-se. Planeja retirar-se para o campo.

Seu rosto inexpressivo, sua vida monótona e a ausência de sonhos, parecem imutáveis nesse personagem da grande cidade, até que um erro impensável coloca tempero em sua vida.

O serviço de entrega de marmitas de Mumbai é muito conhecido e respeitado. Já foi até motivo de estudo da Universidade de Harvard. Seus 5.000 entregadores, que levam e trazem de volta o alimento dos que trabalham nos escritórios do governo e de empresas, nunca se enganam.

Mas, como toda regra tem exceção, a marmita preparada com esmero por Ila (Nimrat Kaur), uma bonita indiana que teme que seu marido Rajeev esteja se afastando dela, vai parar na mesa de Saajan.

Na hora do almoço, no refeitório, quando abre a marmita, os olhos de Saajan arregalam-se enquanto um cheiro delicioso vem das panelinhas empilhadas. Come rezando.

E Ila, quando vê a marmita vazia voltar, grita na janela para sua tia:

“- Tia! Está totalmente vazia! Parece que ele lambeu!”

“- Eu não falei? Seus quitutes vão trazê-lo de volta!”

Mas à noite, quando Rajeev chega com o mesmo comportamento distante e nada de falar da comida dela, ela pergunta:

“- E o almoço?”

“- A couve-flor estava boa.”

Decepção. Grita Ila na janela:

“- Tia! A marmita foi para outro…”

Claro, não tinha couve-flor na marmita dela.

E o próximo passo é Ilia escrever um bilhete para o apreciador de sua comida:

“Obrigada por devolver a marmita vazia.”

E começa assim, uma troca de cartas, sempre escondidas na marmita.

Na vida de Saajan e Ilia, algo de novo acontece. Essa amizade epistolar vai mudar a vida deles.

O diretor estreante, Ritesh Batra, acerta no tom da história principal e também na do substituto de Saajan, o jovem Shaik (Nawazuddin Siddiqui), o divertido orfão que vai ser treinado para substituir o aposentado.

Solidão, envelhecimento, rejeição, amizade, solidariedade, temas tratados com delicadeza em “Lunchbox” fazem desse filme uma surpresa agradável para quem pensa que indianos só produzem filmes tipo Bollywood, com cantorias, danças e heróis mitológicos.

“Lunchbox” é simples e universal.

Este post tem 0 Comentários

  1. Rodolfo Muller disse:

    Uma linda historia com temas importantes e pelo visto tratados com delicadeza . A cultura indiana sempre nos leva a grandes surpresas . Preciso ver este filme !
    Vamos ver o que o diretor estreante Ritesh Batra vai nos mostrar sobre solidão e solidariedade .

  2. Nilu Lebert disse:

    Me lembrei de Nunca te vi, sempre te amei… A mesma delicadeza, só que agora num food film. E por falar em food films, acho que você gostaria de estar nesse evento:http://foodpass.com.br/eventos/?evento=143
    Parabéns pelas suas observações! Bjs

  3. Simone disse:

    Adorei a resenha, o filme é mesmo uma pérola perdida no mar de Bollywood!

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