O Discurso do Rei
“O Discurso do Rei”- “The King’s Speech”, Inglaterra, 2010
Direção: Tom Hooper
Retratar problemas que podem atrapalhar qualquer ser humano parece ser a chave de sucesso de muitos filmes. Todos gostam de ver sua aflição, ou de alguém que conhecemos, ser destrinchada e superada na tela do cinema.
Em “O Discurso do Rei” é a gagueira que parece tomar o primeiro plano. Menos comum do que se imagina, aflige 1% da população do mundo e não tem cura.
E desde a Grécia antiga procura-se lidar com ela. Demóstenes, ficou famoso como orador, quando conseguiu melhorar a sua, discursando num rochedo à beira-mar, com pedrinhas na boca.
Nesse filme, dirigido com delicadeza e classe por Tom Hooper, um jovem de 39 anos, a gagueira de um pretendente ao trono da Inglaterra, quando esta ainda era um império sobre o qual “o sol nunca se punha”, parece ser o foco de atenção. Mas seria mesmo esse o principal problema do Principe Albert? Claro que não.
Quando se apresentou a situação dele assumir o trono depois da morte do pai, o rei George V e a renúncia de seu irmão David, Edward VIII (para poder levar avante um romance com uma divorciada, vista com horror pela corte), Albert já estava enfrentando o seu maior problema.
“Ser ou não ser?”
Não é só Hamlet, o personagem de Shakespeare, que se coloca essa pergunta. O Duque de York, depois Principe Albert, forçado a ser rei, também se contorcia com essa questão.
Dos três filhos, ele era o segundo. O caçula morrera aos 13 anos de epilepsia e o primeiro, o rei Edward VIII, fugia do trono para os braços da americana divorciada.
Albert, Bertie para a família, queria e ao mesmo tempo não queria enfrentar essa responsabilidade. Substituir o pai? Com o quê? Ele, em luta consigo mesmo e com sua baixa auto-estima, apoiava-se em sua gagueira para desistir desse conflito.
Quem pode ser rei sendo gago? Principalmente numa era em que aparece o rádio, a mídia mais inovadora e influente, mostrando claramente que o candidato a rei era um incapaz? Alguém que balbuciava?
Eis então que a mulher de Albert (Helena Bonham Carter, maravilhosa no papel da futura rainha-mãe, indicada ao prêmio de melhor atriz coadjuvante), encontra alguém para ajudá-lo. Surge o especialista em problemas de fala, Lionel Logue.
E só é depois de um longo episódio de relutância e insubordinação que Logue consegue falar com o Principe, a quem chama Bertie, não por provocação mas para alimentar a intimidade. E com isso Albert encontra sua voz.
Sim, porque era da falta de intimidade que o candidato a rei sofria.
Desde a infância, canhoto obrigado a ser destro, pernas curvas retificadas com varas de metal e uma total falta de empatia do pai, Albert era um solitário e um amedrontado menino espezinhado pelo irmão mais velho.
Essa história de superação, baseada não em técnicas miraculosas mas num elo de confiança e amizade entre o futuro rei e seu terapeuta intuitivo, que se coloca no lugar de um pai que Albert nunca tinha tido, emociona.
Os diálogos são escritos com perfeição por David Seidler.
A criança dentro de nós se arrepia quando Logue diz:
“_ Bertie, não precisa mais ter medo das coisas que você temia quando tinha 5 anos.”
Bom senso, empatia, capacidade de comunicar-se e de se colocar como modelo para o rei, faz Logue, ator mal resolvido, ocupar o lugar de diretor/maestro de um dos mais raros espetáculos sobre a face da terra: a coroação de um rei.
Interpretações magníficas são o prato principal desse filme inglês que não se apoia em artifícios.
Colin Firth, como o rei George VI (pai da atual rainha da Inglaterra, Elizabeth II), merece o Oscar como o melhor ator, depois de perdê-lo no ano passado. Impecável, transmite toda a raiva contida e a ambição quase destroçada do seu personagem.
Geoffrey Rush (também indicado ao prêmio de melhor ator coadjuvante) encarna o terapeuta com brio e humildade, fazendo-se segundo para que seu pupilo pudesse brilhar.
Em um momento dramático da história da humanidade, o rei George VI, com seu Primeiro Ministro Churchill, consegue fazer o mundo vencer a sombra do nazismo.
Não foi pouca coisa. E não deve ser esquecido.
“O Discurso do Rei” é uma ode ao melhor instrumento que existe: a voz humana. Pode ser usada para o bem ou para o mal. Mas é imbatível como forma de comunicação e persuasão.
É bom todo mundo pensar sobre isso e sobre o valor da amizade, assistindo ao “O Discurso do Rei”, o favorito do Oscar desse ano, com 12 indicações, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhores atores.
Que inveja, como eu gostaria de encontrar alguém que ocupasse o papel da mãe que eu não tive, qdo mais precisei do abraço dela.
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é vero, eleonora, é vero.
vc parece esses programas q a gente instala no computador, q dizem avançar, avançar, avançar e … concluir.
depois vem: a instalação foi concluída com sucesso
Querida Sylvia,
Mãe ou pai são insubstituíveis…Mas às vêzes a vida consegue fazer um novo arranjo que funciona.Sorte desses privilegiados como o rei George VI e seu amigo Lionel.
Bjs
Apesar de convencional e talvez por isso mesmo, é uma fita gostosíssima de se ver. E vem recomendada pelo Oscar, crítica, “boca-a-boca e quetais”.
É um prato cheio bisbilhotar a vida privada da Realeza e Personagens Históricos que estiveram no centro das decisões que salvaram o Ocidente de uma ditadura exterminadora.
Mais ainda, quando compartilhamos a proximidade de uma humanidade Real, convencionalmente superior,
às voltas com mesmos problemas dos simples mortais, igualmente precisando de ajuda.
Quem viu o filme, sabe do que estou “falando”.
A gente se alia ao Sr Lionel Logue e fica na torcida para que o encontro dessas humanidades comuns a todos, gente frente a frente, não importando posições e cargos, vença os obstáculos. E é o que acontece.
A solução está no encontro das diferenças, no que elas têem de mais próximo: o ser gente. A aproximação respeitosa desses vários níveis é que enriquece e transforma.
Além de saber pelo seu texto, Eleonora, que a cegueira “ não tem cura” e vai muito além de um simples “mal estar” e de saber que no caso do Rei George VI, foi um “sub-produto” da educação infantil que tirou-lhe a auto-estima, outro detalhe me chamou a atenção. (segue)
(continua)
O “curador” Logue, escancarou ao público
UM PRECEDENTE ou UMA QUESTÃO (polêmica):
quem disse que aptidão para SERVIR só pode ser exercida se sancionada pelos canais corporativistas das especialidades?!
Na pessoa do especialista em problema de fala, pessoa real, testemunhada pela família e por documentos, se capacita através de uma sensibilidade para perceber as situações humanas dramáticas e move recursos intuitivos para, intencionalmente honestos, SERVIR.
E – pasmem! – tem sucesso absoluto.
Mesmo o aspirante à Rei, futuro George VI, pai da atual Elizabeth II, flagrando seu professor-curador, – com quem se encontra agora envolvido simpaticamente, – como um profissional não reconhecido pelas Instituições Oficiais, fato que o poderia levá-lo “a forca”, por atentado “à lesa majestade”, o capacita e o catapulta à condição de amigo pessoal e seu canal de comunicação com os cidadãos comuns, seus súditos. Logue era uma pessoa que sabia utilizar a intimidade, com firmeza, segurança, mas sem desrespeitar a hierarquia dos papéis.
Nesse plantel de “humanidades”, inclue-se a mãe da atual Rainha Elisabeth, simpática e absolutamente profile, provavelmente por isso mesmo também tenha sido tão longeva (!!).
Bom, deixo aqui “esse barulho” todo do “PRECEDENTE” pra ser digerido.
Adendo,
c/ uma frase dita por Logue, nos diálogos escritos por David Seidler:
“ – Bertie, não precisa mais ter medo das coisas que você temia quando tinha 5 anos.”
Tão SIMPLES e tão COMPLEXO, que vc,Eleonora, especialista da ALMA, acrescentou:
“A criança dentro de nós se arrepia”
Cometer “ato falho”, tudo bem, mas no blog da Psicanalista, é se expor demais, não acham?! A Sylvia me chamou atenção disso no meu espaço, blog:
por favor, onde está escrito CEGUEIRA, leia-se GAGUEIRA.
thanks!
Aproveito para acrescer que a frase citada como Adendo desse texto foi destacada pela Eleonora no seu comentário.
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Minha Sinopse
Nasci em São Paulo, Capital. Sou a primeira filha de sete irmãos nascidos de Yvette e Octavio Pereira de Almeida, casada com Ivo Rosset. Estudei Psicologia na PUC de SP e Direito no Mackenzie. Sou psicanalista, membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de SP. Atendo em meu consultório há mais de 30 anos. Sempre adorei cinema, desde as sessões Tom e Jerry, passando pelo Cine Bijou até o saudoso Belas Artes. Meus filmes preferidos: “Morte em Veneza” de Visconti e “Asas do Desejo” de Wim Wenders.
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