O Irlandês

“O Irlandês”- The Irishman”, Estados Unidos, 2019

Direção: Martin Scorsese

Ao som de uma canção famosa, sucesso na voz dos “Five Satins”, nos anos 50, “In The Still of the Night”, começa e termina o novo filme do gênio do cinema, Martin Scorsese, 77 anos.

“O Irlandês” vai contar a história de Frank Sheeran (Robert De Niro), que já velho, vivendo numa casa de repouso, está na cadeira de rodas. Ele vai ser o narrador de sua vida e, em suas lembranças esgarçadas vai contar a história do crime organizado nos Estados Unidos e sua ligação com os sindicatos.

O irlandês não obedece a uma cronologia. Vai e vem no tempo de sua memória.

No começo foi caminhoneiro, quando voltou da Itália onde foi soldado na Segunda Guerra. Lá ele sentiu que matar era fácil.

“Eu Soube Que Você Pinta Casas”, aparece então em letras garrafais na tela. É o título do livro no qual se baseou o roteiro. E a cena que ilustra a frase é uma parede vermelha de sangue.

Sheeran é o último “gangster” que sobreviveu a essa história real que durou cinco décadas. E começa quando ele conhece Russell Bufalino (Joe Pesci), um chefe da máfia para quem faz trabalhos encomendados e que vai levá-lo até Jimmy Hoffa (Al Pacino), um figurão, presidente do sindicato dos caminhoneiros, o mais poderoso do país no fim dos anos 50.

Hoffa e Frank Sheeran tornam-se amigos, as famílias se frequentam nos batizados, casamentos e festas. Por fim, Sheeran vira o braço direito de Hoffa.

Famoso e dono de um temperamento difícil, Hoffa desapareceu em 1975. Nunca ninguém conseguiu resolver essa charada até os nossos dias. Martin Scorsese conta sua versão sobre esse segredo, baseado em depoimentos de Sheeran no final da vida. Mas a lenda diz que ele ainda vive.

O diretor interessou-se pelas cenas de ação do filme, mostrando a truculência, a violência mas também a presteza de Sheeran em executar o que lhe é pedido sem perguntar. E ele confessa, em certo momento, que tirou muitas vidas e não sentia remorsos. Mas o homem que tinha filhas, dois casamentos, sempre rodeado de família, perdeu o carinho da preferida, a única que entendeu o que o pai fazia. Peggy parou de falar com o pai no dia 3 de agosto de 1975, dia em que Hoffa desapareceu.

Lealdade, fraternidade e traição são os elementos das relações humanas que Martin Scorsese quis mostrar através desse trio de atores fabulosos, num cenário de ópera trágica. E inclui o trabalho do tempo, sempre implacável, que apaga nossas pegadas no mundo, mesmo as mais sublimes e até as mais terríveis.

De Niro, Pesci e Al Pacino estão inspiradíssimos e nos fazem mergulhar nessa história fascinante e amedrontadora que é contada em 3 horas e meia.

O filme que custou mais de 160 milhões de dólares, usou a tecnologia CGI para rejuvenescer o trio principal de atores. Funcionou bem e mostrou que não precisamos mais de um ator para interpretar o personagem na juventude e outro na velhice. É o futuro do cinema, diz Scorsese.

Não seria possível fazer “O Irlandês” no sistema atual de Hollywood. Muito caro e sem o apelo para o grande público, a Netflix bancou Martin Scorsese. O filme passou em algumas salas de cinema em alguns países, inclusive o Brasil, para poder concorrer ao Oscar e agora está disponível na sua casa.

Experimente ver o filme seguindo o conselho do diretor, no escuro e sem parar, para você conseguir entrar completamente dentro do clima da história. A recompensa virá. Você vai ver uma obra prima.

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