As Aventuras de Pi

“As Aventuras de Pi”- “Life of Pi” China, Estados Unidos, 2012

Direção: Direção:Ang Lee

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Todo mundo gosta de ouvir histórias, desde criança. Elas ficam na nossa cabeça e inspiram outras histórias. É o destino delas.

Mas quando quiseram fazer um filme com “As Aventuras de Pi”, algo estranho aconteceu. Muitos diretores tentaram fazer esse filme mas desistiram. Parecia que a história imaginada pelo brasileiro Moacyr Scliar, “Max e os Felinos”, e que inspirou Yann Martel para escrever o livro “As Aventuras de Pi”, era impossível de ser posta em imagens. Muito filosófica…

A história precisava de um mestre em imaginação e soluções mágicas. E ele apareceu.

Ang Lee, nascido em Taiwan e radicado nos Estados Unidos, o cineasta de 58 anos que já fez cowboys se amarem, apaixonou-se por essa história e criou para ela um mar que reflete nuvens e se mistura com o céu e à noite brilha à luz de plânctons e peixes fosforescentes.

Dentro de um bote, depois de um naufrágio no qual perdeu toda a família, um garoto indiano tem um tigre como companheiro de viagem. Mas como foi difícil chegar nesse ponto…

Essa história simples inspira muitas reflexões. Quanto alguém precisa sofrer para desacreditar de tudo, de sua fé, de sua esperança, de sua vontade de viver? Um animal selvagem pode ser um desafio e transformar-se em um estímulo? Quanto amor próprio é necessário para alguém não abandonar-se à própria sorte? Ou é tudo uma metáfora sobre a culpa e de como nos fazemos mal, até domá-la com carinho e aceitar a vida como ela é? E assim por diante. Cada um vai fazer uma pergunta diferente.

No bote, os dias são longos e quando o mar é um lago, Pi e o tigre satisfazem parcamente suas necessidades básicas com peixes e água da chuva. Mas, frente ao mar revolto, de ondas assassinas, Pi e o tigre Richard Parker estão entregues à fúria do vento, raios e trovões de uma tempestade que os coloca à mercê da natureza. Trocam olhares assustados e se viram como podem. Estão juntos, iguais, o menino e o tigre com nome de gente.

Ang Lee, o brilhante diretor que já ganhou um Oscar com “O Segredo de Brokeback Mountain” e outro de melhor filme estrangeiro com “O Tigre e o Dragão”, usa o roteiro perfeito de Yann Martel e a fotografia de Claudio Miranda para nos fascinar com imagens de sonho.

É tudo digitalização e cenas em estúdio? Não importa. Ang Lee captura os nossos sentidos e cria surpresa e encanto. Usado com naturalidade, o 3D não é muito notado porque faz parte de um mundo criado pelo diretor.

A trilha sonora de Mychael Danna ressoa os sentimentos que se passam no coração de Pi e nos embala na magia das cenas que se sucedem, uma mais linda que a outra.

Shuraj Sharma interpreta o menino Pi com uma naturalidade que só um novato conseguiria, pensou acertadamente o diretor, ao escolhê-lo dentre os 3.000 candidatos. E é só ele e o tigre a maior parte do tempo,

vivendo uma história que nos prende a atenção e nos faz torcer por um final feliz.

“As Aventuras de Pi” é um filme para crianças e adultos.

Entreguem-se de corpo e alma à essa obra-prima, sem medo de errar.

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Viúvas

“Viúvas”- Viudas” Argentina, 2011

Direção: Marcos Carnevale

O diretor argentino de “Elsa e Fred” (2005),sucesso de público e crítica, continua a se interessar pela alma humana e seus meandros. Se, no filme dos velhinhos e seu caso de amor, havia uma homenagem explícita a Fellini e ao universo criado por esse grande cineasta, Marcos Carnevale parece que agora homenageia Almodóvar, nessa história tragicômica de traição, paixão e amizade entre duas mulheres que nada tem em comum, a não ser o amor que sentiram pelo mesmo homem.

Elena, mulher madura, interpretada com talento pela atriz Graciela Borges, é uma cineasta que está dirigindo um documentário sobre as mulheres e o amor, quando recebe a notícia de que o marido Augusto (Mario José Paz) sofrera um infarto e está no hospital. E lá, escuta, dividida entre o amor e o ódio, o último pedido do marido agonizante:

“- Cuida dela…”

“-Como?”

“- Ela não tem ninguém. Não vai aguentar sozinha.”

“- Como pode me pedir isto, Augusto?”

Mas Augusto fecha os olhos para sempre.

Bem que Elena havia notado aquela mocinha vestida numa capa curta, chorando pelos cantos do hospital. O médico havia até se confundido, pensando que ela era sua filha.

Mas no dia do enterro, fica patente que Adela (Valeria Bertucelli), a mocinha, não iria desaparecer tão cedo de sua vida. A imagem viva da traição de Augusto leva flores para Elena e parece totalmente desamparada, sentada nos degraus da capela tumular.

E Carnevale faz então, um desfile de tipos almodovarianos em torno à viúva Elena.

Assim, Esther, a amiga gorda que trabalha com Elena e quer tirar a moça Adela da cabeça da amiga, pondo panos quentes na situação.

Depois a cadela Maggy, adorada por Augusto, para desconforto maior de Elena, jaz pelo chão do apartamento desconsolada e cheia de coceiras.

Por fim a empregada Justina (Martin Bassi), um travesti com pendor para a tragédia, que não pode ser despedida porque parece que conhece segredos da vida de Augusto. Quando quer falar mal de Elena em frente a ela, usa a língua guarani.

Para cúmulo dadesgraça de Elena, Adeladeprimida tenta o suicídio. Mas as provações da viúva não terminam aí.

Esse roteiro sobre as duas viúvas, escrito por Carnevale e Bernarda Pages, tem situações que poderiam ser melhor exploradas. Os sentimentos ambiguos de Elena e Adela mereciam ter sido aprofundados.

Mas a trama prende o espectador e, se não chega a emocionar, também não decepciona.

Não é sempre que o cinema argentino atinge a genialidade. Carnavale não repete aqui o toque de mestre de “Elsa e Fred”. Mas consegue entreter, com ótimos atores.

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